quarta-feira, outubro 31, 2007

infecções hospitalares

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"Não vou enjeitar liminarmente que possa haver alguma responsabilidade dos profissionais de saúde na alta incidência de infecções hospitalares em alguns hospitais. Porém, é fundamental denunciar a incrível falta de condições para uma mais efectiva prevenção destas infecções, situação agravada pela cega determinação em colocar os hospitais a dar lucro, sem que se perceba muito bem o que isso quer dizer, não obstante os impressionantes cortes orçamentais.

Frequentemente, até o papel descartável para limpar as mãos já falta nos hospitais, o que obriga os profissionais de saúde a secar as mãos a toalhas que ficam rapidamente encharcadas e se transformam em verdadeiros meios de cultura e reprodução de bactérias, o que pode tornar ainda mais perigoso para os doentes o acto de lavar as mãos dos profissionais de saúde!

Esta é a indesmentível realidade actual.

Para prevenir as infecções deveria existir um lavatório adequado à entrada de cada enfermaria e quarto de hospital, mas não existe.
Seria necessário existir uma embalagem com spray antisséptico acoplado à cama de cada doente, mas não existe.
Seria necessário aprimorar a higiene e limpeza hospitalares, mas o ministro propõe-se despedir milhares de funcionários.
Seria necessário restringir, controlar e educar os visitantes dos doentes, que também deveriam lavar as mãos, mas à hora das visitas os hospitais parecem verdadeiras feiras.
Seria necessário que o papel descartável nunca acabasse, mas ele esgota!
Etc., etc., etc.

Isto para já não falar das instalações envelhecidas, desadequadas e degradadas e da sobrelotação de camas (onde há três deveria haver apenas duas, onde há seis deveria haver apenas quatro…)."

Prof. Dr. José Manuel Silva
TM ONLINE 2007-10-31

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terça-feira, outubro 30, 2007

os Serviços de Urgência Básicos

Serviço de Urgência, de José Perez


"O facto de, no INEM, estarmos a realizar um esforço de sinal positivo, num contexto nacional de contracção dos efectivos da administração pública, documenta bem a importância que o Governo atribui ao INEM."
"A actividade de urgência e emergência está a sofrer um profundo alargamento e extensão em todo o país», o ministro disse que o novo espaço do INEM, em Coimbra, permite uma «melhoria da qualidade da assistência» e uma «melhor acessibilidade a estes cuidados», promovendo ainda a «equidade no acesso» e a «racionalização dos recursos."

Correia de Campos na inauguração das novas instalações regionais do INEM, em Coimbra. DD


Entretanto, ter-se-á esquecido Correia de Campos e os seus conselheiros, de que os Serviços de Urgência Básicos (SUB) propostos para entrar em funcionamento até ao fim deste ano, não tendo ainda disponíveis as “salvadoras” ambulâncias de Suporte Imediato de Vida (SIV ) nem tão pouco os seus tripulantes (enfermeiro e motorista) assegurados por concurso, vão ter os tais dois médicos aconselhados pelo Dr. António Marques - Coordenador da Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências (desaparecido da cena pública há já largos meses), com uma preparação indiferenciada, sem qualquer prática em suporte básico nem tão pouco avançado de vida ou qualquer experiência em atendimento básico de urgência.
“Fornecidos” (outsourcing) por empresas privadas (PGA no Norte) a custos elevados já estão a assegurar o atendimento dos doentes nos actuais Serviços de Urgência Médico Cirurgicos (SUMC) e Polivalentes (SUP) e preparam-se para o fazer, da mesma forma, nos SUB, mas neste caso sózinhos, sem qualquer apoio diferenciado.

São eles (felizmente poucos e a não chegarem para as encomendas), médicos em fase final de carreira ou já reformados, emigrantes à procura de emprego e “desempregados” que não conseguiram entrar nos Cuidados de Saúde Primários ou realizar contratos com os HH EPE, vá-se lá saber porquê.
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“Correm”, do turno da tarde do SUB “A”, para a da noite do SUMC “B”, ou do da noite do SUMC “B”, para o da manhã do SUB “D” ou SUP "E".
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Dias e dias a fio, horas e mais horas por semana, Euros e mais Euros arrecadados.
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Uma correria.
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E quem controla isto?.
Ainda há quem considere não serem as Carreiras Médicas importantes!
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segunda-feira, outubro 29, 2007

o discurso e a governação


"Não temos a veleidade de agradar a todos por igual. O interesse público é o do público, dos portugueses todos e não apenas dos actores directamente envolvidos no processo. Mas interessamo-nos pelos actores enquanto executantes das políticas.
Por isso, celebrámos um protocolo com a indústria e um compromisso com as farmácias. Estamos abertos a um acordo amplo e de muito interesse com os farmacêuticos, representados pela respectiva Ordem. A natureza especificamente qualitativa da sua representação e a variedade da sua representação ocupacional fazem-nos falta neste edifício. Os nossos esforços acompanharão a disponibilidade para o diálogo. "
Correia de Campos na sessão de abertura do colóquio “Enquadramento da Actividade Farmacêutica”, Sala do Senado da Assembleia da República - 23 de Outubro de 2007

"Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente.
País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência? "
(Eça de Queirós, 1867 in “O Distrito de Évora”)
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domingo, outubro 28, 2007

é isso aí

É isso aí
Há quem acredite em milagres
Há quem cometa maldades
Há quem não saiba dizer a verdade


"É isso aí" - Ana Carolina e seu Jorge
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"Há uma proposta séria de investimento de um grupo privado numa espécie de loja da saúde e é isso que estamos a analisar para darmos uma resposta às questões que nos são colocadas.
O facto do concelho de Fafe estar previamente seleccionado nada tem a ver, segundo afirma a autarquia, com o esvaziamento dos serviços públicos de saúde.
"Não tem nada a ver com isso. Fafe e as áreas circundantes que compram serviços aqui têm dimensão para viabilizar um projecto desses."JN
José Ribeiro, presidente da Câmara Municipal de Fafe.
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Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não sei parar de te olhar
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sábado, outubro 27, 2007

a concentração dos serviços de saúde hospitalares



"Centros de saúde com 40 ou 50 médicos é "um erro"

Noutra área, o palestrante teceu críticas "às grandes catedrais da Saúde”, ou seja, centros de saúde com 40 ou 50 médicos, que classificou como "um erro enorme e grave" que foi cometido no passado, resultado de uma cópia do "modelo concentracionista" dos hospitais."


O palestrante, não é alguém que critica o regresso ao “modelo concentracionista” dos Hospitais da década de 60 do século passado (autenticas catedrais da Saúde, cheias de ciência, detentoras exclusivas do ensino médico, pré e pós graduado, catastroficamente geridas) que localizadas nas grandes cidades periféricas do país pobre e atrasado da altura, obrigavam a que qualquer doente residente nas “saudáveis cidades” distantes do interior, para bem longe da sua família tivesse que ser deslocado, para nelas ser tratado da sua doença, houvesse vaga e chegasse lá ainda a tempo.

O palestrante, não é quem critica, a actual política de saúde Hospitalar do Ministério da Saúde, que com argumentos de defesa da qualidade, da experiência e da segurança dos doentes, concentra serviços Hospitalares e extingue outros, escondendo ou subvalorizando verdadeiros intentos economicistas na área da saúde.

O palestrante, não é quem critica o subaproveitamento dos profissionais da saúde nos grandes Hospitais e da capacidade física instalada, que “ocupados” com a desgastante e consumidora actividade nos Serviços de Urgência, “justificam” quadros médicos volumosíssimos, conduzindo a que nas restantes actividades andem a vaguear pelos corredores à procura de oportunidade para observar, tratar um doente ou afincada e por vezes desesperadamente a “lutar” para curriculum fazer.

O palestrante, não é que quem valoriza a importância que tiveram os Hospitais da periferia e interior do país, que nas últimas décadas abriram as suas portas à diferenciação técnico-científica no exercício da medicina com a colocação de dedicados, esforçados e interessados jovens profissionais, contribuindo assim, talvez modestamente, para o repovoamento do interior e para uma melhoria significativa dos níveis de saúde das populações locais.

O palestrante, não é quem defende os serviços clínicos da Unidade Hospitalar em que trabalha (recentemente constituída em Centro Hospitalar), reconhecidamente produtiva pela tutela ao longo dos seus 20 anos de existência e que pelo conceito “concentracionista” actualmente em voga, se prepara o seu progressivo esvaziamento até ao seu encerramento, com argumentos de falta de profissionais médicos.

O palestrante, não é quem critica a actual política de empresarialização dos Hospitais Públicos ou a sua criação ou reestruturação em ”parcerias público-privadas” em que o lucro é exigido e o princípio de “bem social” que deveria ter a “Saúde” é excluído da sua prática efectiva, exigindo para tal a concentração e o despovoamento dos serviços dos Hospitais mais pequenos que com eles estejam a competir.

O palestrante, não é quem critica a entrega da população, expurgada dos seus serviços assistenciais hospitalares, à cobiça de empresas privadas que com a ajuda do palestrante e dos seus seguidores convictos, lhes vão dando alimento para, com lucros avultados, “tratarem” da saúde dos seus co-cidadãos.

O palestrante é o Ministro da Saúde, Dr. Correia de Campos, quando falava no decorrer do II Fórum das Cidades Saudáveis, em Viana do Castelo.
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sexta-feira, outubro 26, 2007

contrapartidas na saúde

A Sanusquali, a empresa dinamizadora do projecto “Casa da Saúde”, liderada pelo ex-deputado (médico?) Nuno Delerue, dela fazendo parte também outros médicos e empresários com interesses já instalados na área da prestação de serviços de Saúde privados, escolheu Fafe como um dos municípios que reúne condições para a instalação de um “shoping da saúde” de entre os 24 que se propõe espalhar pelo país.

Isto é dito pelo Correio de Fafe que transcreve palavras do Presidente da Câmara da cidade:


“Parece-me uma ideia interessante e Fafe tem dimensão para viabilizar um serviço desses”.

E como ideia interessante que é, propõe-se o Sr.Presidente analisar a proposta de investimento que prevê contrapartidas como a cedência de terrenos, a isenção de impostos e taxas, a co-participação nas infra-estruturas e garantia de celeridade por parte do município.

Compreende-se o interesse deste grupo privado que para além das contrapartidas já oferecidas pelo poder central com o encerramento do Serviço de Urgência do Hospital de S.José de Fafe e sua despromoção a SUB prevista para Novembro deste ano, agora também se prepara para receber as contrapartidas do poder autárquico.

Quem terá dito a Nuno Delerue, que a administração do Centro Hospitalar do Alto Ave também se prepara para progressivamente ir esvaziando os serviços clínicos da Unidade de Fafe por forma a que brevemente deixem de dar às populações de Fafe e concelhos limítrofes (Cabeceiras de Basto e Celorico de Basto) a assistência de proximidade a que estavam habituadas nas áreas de Internamento, Bloco Operatório e Consulta Externa das especialidades de Medicina Interna, Cirurgia, Ortopedia e Medicina Física e Reabilitação?

Eu não fui...


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quinta-feira, outubro 25, 2007

as listas de espera para cirurgia

Fonte: SIGIC - 1ºsemestre 2007
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No jornal Público de hoje e já também publicado (sem demora) no Portal da Saúde, num artigo de opinião, divulgou o cidadão Correia de Campos, assinado Ministro da Saúde, agora por escrito, a sua opinião sobre a Auditoria ao Acesso aos Cuidados de Saúde do SNS – Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia SIGIC - Relatório n.º 25/07 - 2ª. S - Processo n.º 50 /05 – AUDIT, recentemente apresentado pelo Tribunal de Contas.

E é bonito ver o Ministro da Saúde considerar tratar-se este documento dum “bom relatório”.
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Não interessa se o Tribunal de Contas o elaborou fundamentado em “comparações nem sempre escorreitas” e se apresentou uma “fotografia trémula” da actividade do SIGIC durante o ano de 2006.

O Relatório é bom!

Isto porque o Relatório, segundo Correia de Campos, conclui que:
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“diminuíram a média e a mediana dos tempos de espera dos inscritos para cirurgia, face às da data da sua implementação, em quatro regiões, tendo apenas aumentado em Lisboa e Vale do Tejo (a maior e a menos operacionalizável) “ “o peso do número de utentes com mais tempo de espera diminuiu no período analisado”

“o efeito de diminuição nos tempos médios de espera é mais pronunciado nos hospitais que funcionam com o SIGIC há mais tempo”

“a produtividade cirúrgica por médico melhorou nos hospitais de referência, face ao grupo de controlo”.


Mas o que o Relatório também diz é que se conseguiram alcançar estes resultados positivos, não à custa dum aumento de produtividade normal e duma melhor utilização da capacidade instalada, mas à custa da produtividade acrescida, produtividade esta que contribuiu para a diminuição dos tempos médios de espera nos Hospitais que a praticaram (mais que natural) e para o aumento apurado do número de cirurgias por cirurgião (ou não fosse o acto cirúrgico desta actividade acrescida “pago à peça”).

“Razão espúria” (qual avestruz) considera Correia de Campos colocar esta hipótese justificativa de tal acréscimo. Mas sobre isto, mais não digo.

Que o diga, quem os números tem e com eles faça comparações “escorreitas”.

E mais não digo também, para além do que já disse aqui, há um ano atrás, quando me referia ao tão falado na altura “combate ao desperdício no SNS”. É que nem nos Relatórios do SIGIC (não se entendendo porquê) nem no desta Auditoria do TC (por má contabilidade da actividade hospitalar, segundo nos é afirmado no relatório), nos são dados a conhecer os gastos e os orçamentos (extra Orçamento de Estado) atribuídos e já consumidos por este e outros programas, desde a sua implementação.

Vá-se lá saber porquê.

Talvez pela mesma razão que faz com que Correia de Campos não realce neste seu artigo, a importância que teve o enorme investimento em meios humanos, em acções de formação, em material informático e de software que o sistema recebeu e que, em percentagem também significativa, contribui para a “limpeza “das listas de espera, limpeza que outrora não existia tão apurada (por óbito, situação já resolvida, mudança ou desconhecimento da residência, contra-indicação clínica, etc.) e que ainda continua a “limpar” ao obrigar ao regresso à “estaca zero” na contagem do tempo de espera, quando doente por razões pessoais recusa a data da cirurgia proposta assim como o seu encaminhamento (com um “vale de cirurgia”) para uma unidade de saúde distante do seu local de residência.

E este “como” não deve ser escondido para que possamos conscientemente poder concluir se o “copo está meio cheio” ou “meio vazio”, já que todos (e Correia de Campos também) sabemos que “cheio” ainda não está mas, verdade seja dita, “vazio” também não.



quarta-feira, outubro 24, 2007

liberalização das farmácias (II)


Em referência ao Post anteriormente aqui editado, sinto o dever de dar a conhecer um obrigatório esclarecimento:

Segundo o DE, em comunicado hoje divulgado, considera o Ministério da Saúde carecer de fundamento a notícia divulgada pela imprensa, de prever o MS poder vir a dar preferência aos não farmacêuticos na abertura de novas farmácias.

O que irá existir sim, segundo o MS, é “uma graduação dos concorrentes em função do número de farmácias, detidas, exploradas ou geridas, sendo graduado em primeiro lugar, em caso de igualdade, o concorrente com menor número de farmácias.”

Não há como esclarecer de que onde se lê: "prever", dever-se-á ler: "irá existir".
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Está assim reposta a verdade.
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liberalização das farmácias

Conversa da farmácia - Diógenes Paes, Jundiaí - São Paulo


"O Ministério da Saúde quer dar preferência aos não farmacêuticos na abertura de novas farmácias. Assim, estes profissionais não só perdem o exclusivo da propriedade como ficam em desvantagem competitiva nos concursos que vão ser lançados. De acordo com um projecto de regulamentação, que já foi comunicado aos parceiros do sector, os farmacêuticos podem candidatar-se às novas farmácias, mas será dada prioridade ao resto da população que queira entrar neste negócio pela primeira vez." DN

Como?
Ser declaradamente a favor dos mais desprotegidos, contra os monopólios e a favor do indefeso "resto da população", é demasiado "socialista" para ser verdade…!
Não. Não é verdade.
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terça-feira, outubro 23, 2007

mais encerramentos de serviços de saúde

Acidentes de trabalho mortais por sector de actividade - Ano de 2005
Fonte: Inspecção Geral do Trabalho
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Nem a Câmara Socialista de Lisboa escapa aos encerramentos dos Serviços de Saúde:

Isto, quando no Plano Nacional de Saúde - Orientações Estratégicas para 2004-2010 (que o governo promete cumprir ao longo da legislatura) a páginas 78 e seguintes é dito:
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Que têm a dizer sobre isto, António Costa, Correia de Campos e José Socrates, respectivamente Presidente da Câmara, Ministro da Saúde e Primeiro Ministro socialistas?
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segunda-feira, outubro 22, 2007

tantos genéricos para armazenar...



Com tantas marcas de genéricos disponíveis no mercado (com o mesmo princípio activo (DCI) e com preços tão díspares (não deixando contudo de serem considerados genéricos), queixam-se as farmácias de não terem espaço para tanta pastilha, ampola ou creme poderem armazenar.
Fosse só este o problema…



E sem querer voltar à minha juventude (apenas recordá-la) quando o prenunciador marketing publicitário da altura colocava nos ouvidos e nas bocas de toda a gente a célebre frase “Aspirina só há uma, a da Bayer e mais nenhuma”, época de mercado muito pouco concorrencional, apetece-me agora com mil e umas razões estar contra esta dita “global e livre concorrência de mercado”, que na defesa da diversidade nos impõe esta “diversidade” enganadora e descontrolada, estranhamente permitida por quem teria a obrigação de a controlar e de já ter feito aprovar o prometido (mas parece que esquecido) Formulário Nacional de Medicamentos do Ambulatório, como complemento do já reconhecido e bem aceite seu homólogo Hospitalar.
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domingo, outubro 21, 2007

na defesa do SNS


Retirei extractos dum artigo do TempoMedicina no qual o Professor Nuno Grande exprime o seu “saudosismo” de quando começou a exercer Medicina, numa época em que o humanismo do profissional de saúde imperava, revelando ter assistido à criação do SNS, acompanhado a sua evolução em termos qualitativos e de desenvolvimento tecnológico, responsáveis pelo aumento dos custos ao qual não está alheio também, o “consumismo” que profissionais (médicos e indústria médica em particular) e doentes lhe conferem nos dias de hoje, acreditando que, com uma necessária reformulação, as Carreiras Médicas e o Serviço Nacional de Saúde não chegaram ao fim. link
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"Considera-se «um médico de província numa grande cidade» e diz que a sua carreira começou quando, para ajudar um doente, ficou sem dinheiro para o eléctrico e teve de ir a pé para casa. Talvez por isso ache que a humanização da Medicina está nas mãos dos novos «João Semana» e é nesta perspectiva que critica a visão «contabilística» que Correia de Campos tem da Saúde. Amigo pessoal do ministro, Nuno Grande elogia-lhe o trabalho, mas «numa perspectiva meramente administrativa, não tanto numa perspectiva humanística».

"Nuno Grande fez parte do grupo de jovens clínicos que se bateu pela criação das carreiras médicas. «Andámos aos gritos pelas ruas, contra a polícia. Os antigos senhores chamavam-nos os teddy boys e nós a eles os teddy tachos», descreve, para se regozijar com a vitória de um sistema que, na sua opinião, «permitiu uma grande melhoria na qualidade da Medicina portuguesa».

Perante o fim anunciado do sistema que ajudou a criar, o médico transmontano que adoptou o Porto como sua cidade, exige da Ordem que se oponha a isto, ajudando a redefinir critérios. E, embora concordando com a contestação em relação à forma como a profissão está estabelecida, adverte para uma realidade comum a outros sectores da democracia portuguesa: «Aqui, como noutras profissões, estamos mais preocupados com os direitos do que com os deveres

«O ministro não dialoga, toma decisões», diz, para acrescentar que a sua principal preocupação é «não esgotar o orçamento», algo que, a acontecer, e nos actuais moldes, significa apenas que o sistema não funciona. «Para ser bom [o Serviço Nacional de Saúde], tem de dar prejuízo, ou seja, tem de dar resposta. E dar resposta às necessidades pode significar um custo cada vez maior

Apesar da crise que o SNS atravessa e da procura do «lucro pelo lucro», Nuno Grande não acredita no fim daquilo a que chama «uma grande conquista», mas sim numa grande reformulação, onde o actual sistema sirva de suporte à orientação que vier a ser tomada.O professor diz-se mesmo disposto a integrar o recém-criado movimento de defesa do SNS, desde que este mantenha «um serviço de altíssima qualidade, voltado para os cidadãos», mas sabendo de antemão que nunca poderá ser gratuito. Ou melhor, «o SNS até poderá ser tendencialmente gratuito para o utente, mas alguém tem de o pagar», ironiza. E avança com algumas formas de financiamento, além dos impostos, como sejam as doações ou transformando a contribuição numa obrigação social das empresas. «Pensar nele [SNS] gratuito é tirar-lhe possibilidades de resposta»

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sábado, outubro 20, 2007

"porreiro, pá"

Assim são noticiadas, em Hospital do Futuro, as II Jornadas de Hospitalização Privada realizadas este fim de semana no Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, nas quais também participou, na sua sessão de encerramento,o nosso Ministro da Saúde, Correia de Campos. link link


“Sob o lema “Melhor Saúde para os Portugueses” a APHP - Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, organizou esta Conferência internacional que contou com oradores dos EUA, UE e a participação do Presidente da Entidade Reguladora de Saúde, Prof. Rui Nunes entre outros dirigentes.

Uma agenda cheia de pontos de interesse, abordou igualmente os Recursos Humanos em Saúde e as grandes contratualizações. Nesta última mesa foram ouvidas as intervenções do Dr. Adalberto Campos Fernandes (Médis) e do Dr. Luís Pires (ADSE), assim como a perspectiva de um grande grupo de Saúde (Dr. Mendes Ribeiro, GPS), entre outras brilhantes intervenções.

Todos os oradores foram unânimes em enaltecer esta iniciativa do Engº. Teófilo Leite, Presidente da APHP, que encerrou esta Jornada, bem viva e animada. O calor do debate final contrariou o frio cortante da beleza ímpar do Paço dos Duques e todos se reconciliaram com um jantar quente oferecido no final.

Porreiro, pá !
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sexta-feira, outubro 19, 2007

para além dos resultados mais visíveis do SIGIC



Pelas declarações públicas hoje prestadas pelo Ministro da Saúde, Correia de Campos, e pelo coordenador do SIGIC, Pedro Gomes, parece que o programa de gestão das listas de espera para cirurgia se resume ao cumprimento dum único objectivo consubstanciado já numa boa notícia, profusamente explorada desde Agosto deste ano:

“a redução da mediana do tempo de espera dos inscritos para cirurgia”.

Mesmo considerando que o publicado no Relatório do Tribunal de Contas relativo à "Auditoria ao Acesso aos Cuidados de Saúde do SNS - Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia SIGIC" se reporte, com efeito, à actividade desenvolvida num período de tempo que não entrou em linha de conta com a actividade referente ao 1º semestre deste ano (que segundo o coordenador do SIGIC -Pedro Gomes - terá sido o período de maior produtividade no âmbito do SIGIC) e sem querer agora questionar como esta redução do tempo de espera foi alcançada (o que criticamente também neste relatório do Tribunal de Contas é referenciado), algumas das conclusões e chamadas de atenção a que o TC se reporta de forma bem fundamentada, deveriam também pelo Sr. Ministro da Saúde e pelo coordenador do SIGIC ser reconhecidas como ainda não “ultrapassadas” pelo tempo e como tal plenas de actualidade, exigindo deles atenção e autocrítica e não ocultação e autismo político quando sobre elas nada referenciam (com excepção deste primeiro reparo, pretensamente resolúvel com a “consulta na hora” que mais fará aumentar a lista de espera para cirurgia).

"O acesso aos cuidados de saúde cirúrgicos encontra-se dificultado pela morosidade na marcação quer de consulta no centro de saúde quer da 1ª consulta hospitalar, pressupostos que condicionam a dimensão da LIC e os tempos de espera para cirurgia. "

"O SIGIC não conseguiu atingir, em pleno, os objectivos de universalidade e de equidade no tratamento de utentes e de rentabilização da capacidade instalada dos hospitais, não tendo influenciado, no horizonte de tempo analisado, a produção, a produtividade ou a eficiência financeira."

"Conclui-se, assim, não existir um tempo máximo de espera formalmente definido."

"Não foi, ainda, cumprida a determinação constante do Manual do de notificar os hospitais, a UCGIC e o IGIF, das desconformidades existentes nos processos de gestão dos doentes, para efeitos de aplicação de penalizações."

"A implementação do SIGIC não se traduziu numa melhor utilização da capacidade instalada, atendendo a que a “taxa de utilização do bloco” e a “taxa de ocupação de camas” diminuiu."

"Em 2005 e 2006 não foram atingidas as metas estabelecidas nos contratos programa para o internamento cirúrgico e para as cirurgias em ambulatório, pelo que não existiram limitações, por esta via, à actividade cirúrgica que impedissem a rentabilização da capacidade instalada dos hospitais."

"Não existe evidência de que o SIGIC tenha originado custos mais baixos, para idênticos níveis de actividade, qualidade e complexidade dos casos tratados, pelo que não foram detectados ganhos de eficiência financeira que possam ser associados à implementação do SIGIC."

"Verificou-se não ser possível apurar o encargo financeiro da actividade cirúrgica desenvolvida no âmbito do SIGIC pelos hospitais do SNS (SPA e EPE), em virtude de os valores facturados corresponderem a toda a actividade cirúrgica.”

"Considerando o princípio que esteve patente na criação do SIGIC, como um sistema universal que tem por objectivos, entre outros, introduzir maior controlo e transparência no processo de inscrição de todos os doentes com indicação para cirurgia, conclui-se que os utentes referenciados e intervencionados no âmbito dos acordos ou protocolos com IPSS, Misericórdias ou Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa deveriam estar inscritos na LIC."
Fonte: Relatório TC

Não chega saber o que se alcança. É necessário também saber como se alcança.
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quinta-feira, outubro 18, 2007

Carreiras Médicas e o Serviço Nacional de Saúde (II)


Retirei do TempoMedicina este artigo do colega Dr.Jaime Teixeira Mendes, candidato a presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, onde sob a forma de declaração de intenções e de forma bem clara, expõe o seu pensamento relativamente à importância das Carreiras Médicas como garante duma formação médica de qualidade, que proteja a sua continuidade ao longo do exercício profissional da medicina, que valorizem e controlem premanentemente o acto médico e assim contribuam para uma maior qualidade assistencial médica, no ambito do SNS e da medicina privada.

"A Lei do Serviço Nacional de Saúde, aprovada na Assembleia da República a 16 de Maio de 1978, concretizou o direito universal, geral e gratuito à saúde. Este acto, da maior importância para todos os portugueses, sem excepção, compreende todos os cuidados médicos: promoção da saúde, prevenção da doença, tratamento e reabilitação.

Em 1993, o SNS é alterado pelo Dec.-Lei n.º 11/93, continuando a ser universal e a garantir a prestação de cuidados globais, mas agora tendencialmente gratuito.
O fim da gratuitidade universal abriu caminho à introdução de novos sistemas de financiamento e à coabitação entre o público e o privado.

O aparecimento das taxas moderadoras, a gestão de hospitais em parcerias público/privado, o partenariado favorecendo mais o privado do que o público, associado a uma má gestão da maioria das administrações hospitalares, dirigidas por técnicos vindos de áreas que nada tinham a ver com a Saúde, levaram ao descrédito dos hospitais públicos e dos seus profissionais.

As consequências não se fazem esperar, levando a que muitos profissionais dos serviços públicos de saúde desmotivados, mal pagos e sem nenhum estímulo profissional, caíssem no absentismo, laxismo, individualismo e numa actividade privada extra-hospitalar desregrada.
O negócio da saúde passou a interessar os grandes grupos financeiros, bancos e companhias de seguros. Os cuidados diferenciados de saúde são caros e a maioria dos portugueses não está coberta pelos seguros privados.

Neste contexto, tudo se conjuga para que seja dada aos privados uma «ajuda»: praticando convenções com o Estado (ADSE, …) e criando a oferta de uma mão-de-obra barata de profissionais de saúde. Assim, de uma assentada procede-se à destruição das carreiras médicas e dos contratos colectivos de trabalho, reduzindo os quadros dos hospitais públicos e estimulando a saída de especialistas.

As instituições privadas de saúde têm um papel importante nos sistemas de Saúde, assim como a Medicina liberal. No entanto, devem existir regras claras de separação do público e do privado, para que os vícios criados ao longo dos anos de parasitismo do sistema de Saúde público pelos privados não se perpetuem.

As últimas direcções da Ordem não têm sido capazes de se opor eficazmente, nem de alertar os médicos para estes perigos.

Quando o candidato a bastonário, prof. doutor Carlos Silva Santos, me colocou o desafio de me candidatar à presidência do Conselho Regional do Sul, senti o dever cívico e moral de travar este combate na defesa do SNS constitucional, das carreiras médicas e dos hospitais públicos.
A equipa que comigo se candidata ao Conselho Regional do Sul tem bastantes provas dadas na defesa destes princípios.

A defesa das carreiras médicas é hoje o objectivo principal a preservar na defesa do Serviço Nacional de Saúde e da saúde da população.

Sem carreiras médicas não há formação, sem bons profissionais não há serviços de saúde que respondam às necessidades das populações.

Um médico demora muito tempo a formar e para isso precisa, em primeiro lugar, de bons formadores e boas condições de trabalho. No caso de um cirurgião, por exemplo, é internacionalmente aceite que demora, no mínimo, 10 anos a formar.
Os jovens médicos têm de ser ouvidos na Ordem e poder manifestar as suas preocupações. A instituição tem de se reorganizar, de molde a que eles possam neste processo desempenhar plenamente o seu papel.
Os colégios da especialidade (alguns em assembleia geral) já apresentaram, no passado, os programas de formação do internato que estão aprovados e a ser cumpridos na maioria dos serviços.

Contudo, a formação é um processo dinâmico e muitas queixas surgem, quer na capacidade dos serviços para essa função quer nos critérios de avaliação no exame final do internato.
Por outro lado, a tutela dificulta e impede a mobilidade inter-hospitalar a nível nacional e não apoia os estágios no exterior.
A actividade científica e a investigação clínica são muitas vezes desprezadas durante o internato.

A única preocupação reside em preencher as escalas de banco.

Mas as maiores apreensões dos jovens médicos surgem com a formação, depois de realizado o exame final de internato, porque o futuro será, para a maioria, a saída abrupta dos serviços hospitalares.

O estado da arte exige hoje uma formação contínua com avaliação de desempenho ao longo da vida profissional.

A Ordem dos Médicos, como parte integrante do SNS, tem a importante tarefa de atribuir a idoneidade aos serviços, públicos e privados, e da formação médica pré e pós-graduada.

Caso contrário, outras entidades a irão substituir… "

Dr. Jaime Teixeira Mendes
Candidato a Presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos
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terça-feira, outubro 16, 2007

o CHMA de Santo Tirso e o CHAA de Fafe




Enquanto a Administração do Centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA) está activa e com investimentos importantes no sentido de melhorar os serviços mais carentes como são os da Unidade de Santo Tirso link (cidade onde estão sedeados os órgãos de gestão do Centro), a Administração do seu vizinho Centro Hospitalar do Alto Ave (CHAA) esquece-se de que a sua Unidade de Fafe existe, tudo investindo ou dirigindo a sua atenção para a menos carente Unidade de Guimarães (cidade onde está sedeada a Administração) restando para a de Fafe as nulas “sobras” como de parente pobre se tratasse.

Não deixa contudo o CA de fazer promessas ao Presidente da Câmara de que investimento será no futuro, já que Fafe terá um Hospital novo link, de proximidade sim, com muitas consultas de especialidade, muita Cirurgia de Ambulatório e muitos cuidados continuados e de convalescença, que irá por certo prestar assistência médica a muita gente (doente) de todos os concelhos limítrofes, de Cabeceiras de Basto a Vizela, de Celorico de Basto a Felgueiras e porque não também do importante concelho de Guimarães.

Assim sendo, terá já o seu Presidente da Câmara imaginado o quanto bom será, para a edilidade, quando esta infra-estrutura de saúde entrar em funcionamento, com o desenvolvimento urbanístico, comercial, industrial e porque não também turístico assim assegurado, com a vinda de tantos forasteiros à sua cidade de Fafe.

Quanto mais não seja, com a participação dos que à cidade chegarão a acompanhar os doentes…
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16 Outubro de 1982 - há 25 anos...

1975


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segunda-feira, outubro 15, 2007

funcionários públicos a mais?


"Governo autoriza mais contratos a prazo
Os Ministérios da Saúde e das Finanças autorizaram a realização de 12 752 contratos a prazo para profissionais de saúde em 2007 e 2008, disse hoje à agência Lusa fonte oficial."
RFM

Perante o convite, aliciante e descarado, ao pedido de “dispensa voluntária” e de redução do horário de trabalho semanal pelos funcionários públicos, a par da extinção progressiva dos concursos e de serviços públicos na área da saúde, o que haverá a mais actualmente para este Governo?

Funcionários Públicos ou Estado Social?

Sem qualquer dúvida que o que actualmente existe a mais, para este Governo (que o diga claramente), não são funcionários públicos mas sim Estado Social.
Um Estado, ainda com um Serviço Nacional de Saúde que, malgrado o que lhe têm feito, ainda continua a assegurar a todos o direito à protecção da saúde... e isto é demais para este Governo.

Mas nada melhor do que a tão esperada reforma da Administração Pública para resolver dentro de 2 anos, definitivamente, tantas dores de cabeça e contradições.
Depois dela, mais contratos não serão necessários… porque já não haverá "SNS de excepção".

"(…) Este novo regime, que vigorará por dois anos, visa ser uma solução transitória até que a reforma da Administração Pública crie mecanismos de contratação que permitam responder a casos de excepção sem cair em situações de precariedade."
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domingo, outubro 14, 2007

os pequenos Hospitais Públicos e o Orçamento de Estado 2008

Futuro Hospital de Proximidade de Lamego




Está escrito na proposta de OE 2008, no capítulo referente ao Ministério da Saúde, continuar a ser uma prioridade do governo o investimento na prevenção da doença e na promoção da saúde através da continuação da aplicação dos programas nacionais das doenças cardiovasculares, das doenças oncológicas e da luta contra a infecção VIH/SIDA, aos quais se irão associar outros tantos referentes à saúde mental e oral.

Está escrito, ir ser dado um reforço nas políticas de reforma dos Cuidados de Saúde Primários, de desenvolvimento e expansão da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, de Planeamento Familiar, da Interrupção Voluntária da Gravidez e da Procriação Medicamente Assistida assim como também está escrito irem ser contemplados “benefícios adicionais aos utentes com necessidades específicas” no domínio da oncologia, dos cuidados paliativos e da terapêutica da dor, do VIH/SIDA, da diabetes e da artrite reumatóide.

Com a excepção dum agora tardiamente proposto Programa Nacional de Saúde Oral e do novíssimo Plano Nacional de Saúde Mental, insiste-se, e bem, na necessidade de aprofundar e aperfeiçoar, no terreno, todo estas políticas e planos, que aliás na generalidade já constavam no programa do OE para 2007, e dos quais poucos ou nenhuns resultados práticos ainda foram dados a conhecer em parte devido à sua juventude, mas acima de tudo devido à sua aplicação ainda pontual e consequentemente com uma diminuta consistência de resultados efectivos.

Parece no entanto ter sido esquecido, por nada estar previsto no OE 2008, o aprofundamento das aplicações das TIC à área da saúde (previsto no OE 2007) e que praticamente nada ainda, de forma também consistente, nos foi apresentado durante o ano de 2007 (possibilidade de marcação de consultas por via electrónica, desenvolvimento do processo clínico electrónico e da telemedicina) verificando-se, isso sim, um preocupante atraso na melhoria e reforço da rede de “banda larga” para uma utilização, com um mínimo de qualidade, pelos serviços de saúde intra e inter-institucionais.

Efectivada durante o ano de 2007 a “Promoção da Sustentabilidade Financeira do SNS e o Aperfeiçoamento da sua Organização e Gestão”, assim tratada e prevista no OE 2007, com a empresarialização da grande maioria dos Hospitais Públicos e/ou sua fusão em Centros Hospitalares, com a aplicação duma política do medicamento que penalizou fortemente o doente (política que no ano de 2008 não terá possibilidades de voltar a aplicar) e sem ter realizado qualquer controlo da despesa pública (agravada em 2007) em meios de diagnóstico e terapêutica no âmbito do regime convencionado com o SNS, volta-se agora o OE 2008, com o objectivo de sustentabilizar o SNS (falando em “equidade no acesso”, em “segurança e qualidade clínica, e adequação às necessidades das populações”), para a necessidade de reconverter os chamados pequenos hospitais no sentido de desenvolverem actividades designadamente nas áreas de Hospital de Dia e de Cirurgia do Ambulatório.

Temo que esta ânsia de garantia (subjectiva) de qualidade e equidade (ocultando verdadeiros interesses economicistas), conduza à criação de novos serviços para só desenvolverem actividade clínica com “menor/pretensamente nula” necessidade de assistência médica diferenciada e/ou de requisitos tecnológicos (assim os nossos decisores na área da saúde parece considerarem ser a Cirurgia de Ambulatório), sem estarem salvaguardadas condições mínimas de segurança dos doentes neles a serem tratados.

A localização destes Hospitais de pequenas dimensões, assim reconvertidos, tomando como referência o Hospital onde os meios humanos e técnicos existem, deve ser ponderada.
E se tal localização não oferecer condições de segurança de proximidade, então deverão existir profissionais com conhecimentos e bem preparados e condições técnicas e materiais para, em caso de complicações, poderem dar continuidade, no local, ao tratamento do doente em segurança.

Quantas vezes um Cirurgião Geral não teve que converter uma colecistectomia laparoscópica (enquadrada no âmbito de CA) numa colecistectomia por laparotomia?
E quantos Ortopedistas não viram uma “simples” extracção de material de osteossíntese tornar-se bem mais “complicada” que a osteossíntese inicial?

A outra hipotese, no pressuposto destes critérios de segurança não poderem ser assegurados (por economicamente não rentáveis), é o encerramento puro e simples destes pequenos Hospitais e a sua entrega às Misericórdias ou instituições privadas para a sua exploração concorrencial com os serviços públicos.
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Terá isto sido acautelado com o já projectado Hospital de Proximidade de Lamego (a 37 Km de Vila Real pela A24) e para o prometido novo Hospital de Fafe (a 21km de Guimarães pela A7)?

Não basta visitar os Hospitais de Proximidade da nossa vizinha Espanha, conhecer e elogiar as excelentes condições dos edifícios e dos equipamentos, constatar a satisfação dos profissionais e de alguns doentes e passando para os gabinetes ou auditórios assistir-se à apresentação dos resultados assistenciais, chegar cá e aplicar o mesmo modelo...

É preciso também conhecer o “terreno” que circunda o edifício, o que existe “lá dentro e ao lado” e não menos importante, conhecer o grau de desenvolvimento social e económico da população abrangida, a sua colaboração e entendimento do que representa uma cirurgia de ambulatório…

Isto o Ministro das Finanças, ao elaborar o OE2008, não tem obrigação de saber, mas o Ministro da Saúde e os profissionais da saúde que ocupam os lugares de decisão, esses sim devem (ou deveriam saber).
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sábado, outubro 13, 2007

irreais expectativas desleais no SNS

Tudo que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz
Tudo que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

Vanessa Da Mata/Ben Harper - Boa Sorte / Good Luck
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"A Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) está a pressionar o Estado para fazer mudanças de fundo no Serviço Nacional de Saúde (SNS), de modo a permitir que os cidadãos tenham uma maior capacidade de escolha das unidades de saúde onde querem ser tratados, gerando uma maior concorrência entre os prestadores de cuidados de saúde em Portugal. "Jornal de Negócios

A mudança já há muito está prevista, agora com o alargamento das parcerias também à exploração da “prestação de cuidados” durante 10 anos:

"As PPP na área da Saúde vão absorver 80,7 milhões de euros em 2008, e 224,4 milhões de euros em 2009. O valor orçamentado para 2008 engloba as PPP já em operação (o centro de atendimento do SNS e o Centro de Medicina Física e de reabilitação do Sul) e os projectos em concurso (como o hospital de Loures e os novos hospitais de Cascais, Braga e Vila Franca de Xira). "Público

... a mudança já está feita, com o encerramento das Maternidades do Hospital e Amarante e de muitas outras:
"O motorista da ambulância assistiu ao parto, apoiado pelas duas maqueiras que seguiam com ele.A jovem parturiente reside na Freguesia de Ansiães, em pleno Marão, a cerca de 60 quilómetros da maternidade para onde ia ser levada." RR – 11/10/07

... a mudança já está a ser feita com a possibilidade de horários em “part time” e a extinção dos regimes de exclusividade nos serviços públicos de saúde:

"Quem está satisfeito com o trabalho que faz no sector privado reduz o seu tempo no hospital público, sem quebrar o vínculo, sem quebrar a relação de emprego, sem quebrar a sua contribuição para a reforma pública" Correia de Campos

e para quem voluntariamente quiser deixar de trabalhar no sector público do SNS, para a tempo inteiro trabalhar no sector privado, também oferece o Governo mais qualquer coisinha:
"os dispensados "voluntários" que decidam ir trabalhar para o sector privado vão receber uma subvenção mensal superior à daqueles que tenham sido obrigados a ir para a mobilidade especial: 75% do seu salário ilíquido nos primeiros cinco anos; 65% até ao 10.º ano e 55% daí para a frente, contra 70%, 60% e 50%, a que têm direito os restantes dispensados.DN

A mudança assim também se faz através da redução a todo o custo dos efectivos da função pública, redução a que o SNS também não escapa.

Justifica-se assim a extinção de serviços e a realização de convenções, de contratos ou avenças com empresas privadas para prestação de serviços, pagos a peso de ouro, nas áreas dos meios complementares de diagnóstico e tratamento (análises, radiologia, fisioterapia, radioterapia, endoscopia, etc.) e de prestação directa de cuidados como nos Serviços de Urgência, enquanto que de forma perfeitamente selvagem os Hospitais EPE realizam contratos individuais de trabalho tão díspares quanto os interesses individuais, as pressões e as influências internas dentro de cada instituição.
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sexta-feira, outubro 12, 2007

Carreiras Médicas e o Serviço Nacional de Saúde


Quando em Maio/Junho deste ano o Bastonário da Ordem dos Médicos propôs às Direcções da FNAM e do SIM o início da realização de encontros para análise e discussão das Carreiras Médicas, esta proposta encontrou uma recusa por parte do Sindicato Independente dos Médicos que foi aqui por mim foi ironizada.

Saúdo hoje, passado o tempo de descanso estival, a mudança de posição dos dirigentes do SIM que se disponibilizaram para com a Ordem dos Médicos e a FNAM criarem sinergias de pontos de vista na defesa dum assunto que a todos os médicos em particular (públicos, privados e de ambos os sectores) e a todos os cidadãos em geral diz respeito, já que está em causa a garantia da continuação do exercício duma Medicina com qualidade que urge manter.

Estas palavras ditas:

«Embora respeitando a individualidade de cada estrutura, tenho a certeza de que a linguagem dos médicos será uniforme», afirmou. Carlos Arroz
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«Tudo aquilo que puder contribuir para o consenso entre os médicos é muito bem-vindo e saudado» Mário Jorge Neves
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«Houve uma consonância de posições muito significativa com o SIM, como aliás já havia com a Fnam» Pedro Nunes

«As Carreira Médicas não acabaram, há é uma situação nova. A política de recursos humanos do Governo basicamente assenta no fim dos vínculos e é preciso encontrar uma solução. Se o Governo, que tem maioria absoluta, decidiu assim, vai ser difícil reverter esta situação, que já existe hoje. Contudo, admito que é possível manter a estrutura das carreiras mesmo num quadro contratual diferente, isso já existe noutros países. As carreiras são a garantia, para os portugueses, de que os profissionais têm a formação devida. Acho que elas têm tanto mérito que dificilmente serão postas em causa, mesmo que seja necessário adaptá-las a um quadro em que o vínculo profissional seja de outra natureza.» João Semedo

«Temo um pouco pelo futuro das carreiras médicas, embora ache que é imprescindível que continuem. Mesmo com os contratos individuais, nos hospitais EPE, as carreiras podem manter-se. Mas é verdade que num hospital privado o patrão pode nomear o médico que quiser e é a subversão das carreiras. Depende da vontade que houver e acho que o Ministério da Saúde deve ter grande atenção e não permitir desvios das carreiras, que são a trave mestra do SNS. Deixar adulterar as carreiras médicas é um mau caminho para a qualidade da Medicina. Embora as carreiras tenham sido subvertidas, na prática, pelo tipo de concursos, pelos critérios de avaliação, em que houve uma subversão do aspecto clínico pela parte administrativa. Mas isso é fácil de corrigir.» Santana Maia

são palavras que gosto de ouvir já que indiciam a forte possibilidade de serem alcançados significativos pontos de convergência.

Colocados à parte interesses corporativistas ou político/ideológicos, só espero por parte do poder político a mesma seriedade e vontade em dignificar a actividade médica em Portugal por forma a garantir à população uma medicina de qualidade ainda melhor da que actualmente vem sendo praticada no âmbito dum Serviço Nacional de Saúde, nos dias de hoje alvo de tantas críticas, de adulteração dos seus princípios fundamentais e de reformas duvidosas quanto às suas consequências futuras.

O debate parece estar aberto …
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quinta-feira, outubro 11, 2007

uma vez mais "as contas"

Hoje, quando o Governo aprovou a sua proposta de lei de Orçamento de Estado para 2008, recebi na minha caixa de correio um texto que não fala sobre o orçamento para a saúde, sobre gestão dos serviços públicos de saúde e privatizações.

Sobre maternidades, serviços de urgência ou serviços oncológicos;

Sobre a emergência pré-hospitalar, saúde mental, cuidados continuados, USF, Hospitais EPE, PPP ou Centros Hospitalares;

Sobre a falta de médicos, serviços públicos ou privados de saúde, rankings e “estrelas” de qualidade;

Sobre listas de espera, produtividade, controlo biométrico e sustentabilidade.

Apela, sobretudo, para o Governo REFLECTIR.

"Travar para pensar"

"Há uns meses optei por ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio. Comprado o bilhete, dei comigo num comboio que só se diferenciava dos nossos Alfa por ser menos luxuoso e dotado de menos serviços de apoio aos passageiros.
A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder de vista, demorou cerca de cinco horas.
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Não fora ser crítico do projecto TGV e conhecer a realidade económica e social desses países, daria comigo a pensar que os nórdicos, emblemas únicos dos superavites orçamentais, seriam mesmo uns tontos.
Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantes recursos resultantes da substantiva criação de riqueza.
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A resposta está na excelência das suas escolas, na qualidade do seu Ensino Superior, nos seus museus e escolas de arte, nas creches e jardins-de-infância em cada esquina, nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade.
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Percebe-se bem porque não construíram estádios de futebol desnecessários, porque não constroem aeroportos em cima de pântanos, nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.
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O TGV é um transporte adaptado a países de dimensão continental, extensos, onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo.
É por isso, para além da já referida pressão de certos grupos que fornecem essas tecnologias, que existe TGV em França ou Espanha (com pequenas extensões a países vizinhos).
É por razões de sensatez que não o encontramos na Noruega, na Suécia, na Holanda e em muitos outros países ricos.
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Tirar 20 ou 30 minutos ao Lisboa-Porto à custa de um investimento de cerca de 7,5 mil milhões de euros não trará qualquer benefício à economia do País. Para além de que, dado hoje ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar.
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Com 7,5 mil milhões de euros podem construir-se mil escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo que substituam as mais de cinco mil obsoletas e subdimensionadas existentes (a 2,5 milhões de euros cada uma), mais mil creches inexistentes (a 1 milhão de euros cada uma), mais mil centros de dia para os nossos idosos (a 1 milhão de euros cada um).
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Ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em muitas outras carências, como a urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária."

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Talvez seja tarde demais.

Mas porque não aplicar também, alguma coisa do sobrante, no nosso tão carente SNS?



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um aviso


“Por HIV-Sida morrem anualmente na Europa - 5.860 doentes, cancro da mama - 86.831, cancro da próstata - 63.000, e por acidentes rodoviários 53.500", (…) "quando somamos todos estes parâmetros, que totalizam praticamente 210 mil mortos, vemos que este somatório é menos de metade das pessoas que morrem por Trombo Embolismo Venoso na Europa (543.000 mortes /ano)". RTP


Um aviso aos profissionais da saúde, sobre uma causa de morbilidade e de mortalidade há já vários anos reconhecidas como importantes, e que hoje são novamente lembradas.
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terça-feira, outubro 09, 2007

quem vai pagar as "grandes reformas" da saúde?

"A verdade é que as «grandes reformas» da Saúde pouco mais têm feito do que exigir aos pobres que paguem a crise!"
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Revejo-me em Vergílio Ferreira, em Joaquim Sarmento, em Manuel Alegre e tantos outros que escrevem contra a injustiça, contra a degradação, contra o situacionismo, conta o capitalismo selvagem, contra o erro.
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Revejo-me em todos aqueles que têm a coragem de assumir posições contrárias ao politicamente correcto, de afrontar publicamente os poderes instituídos, de dizer não aos compromissos e aos ensurdecedores silêncios dos que comem as migalhas do poder.

Revejo-me em Alfredo Barroso, que na sua crónica do «Sol» (1-9-07), com o mesmo título deste editorial, não teve receio das frases fortes e, com todo o seu peso institucional, escreveu: «As grandes fortunas prosperam, tendo crescido 35,8% em relação a 2006»; «As diferenças de rendimentos entre ricos e pobres, em Portugal, atingiram uma dimensão inédita»; «Portugal é o país europeu que menos investe em Segurança Social»; «A perda de quaisquer estímulos ideológicos na luta política gerou um vazio ao nível das ideias, das convicções e dos princípios»; «Dizem as boas línguas que o Governo do engenheiro Sócrates tem feito “reformas muito corajosas”. Eu, que sempre fui má-língua, limito-me a perguntar: é preciso coragem para exigir aos pobres que paguem a crise?!».

Revejo-me em Diniz de Freitas («Diário de Coimbra», 10-7-07): «Ao contrário do que os actuais responsáveis da saúde proclamam, o custo e a qualidade podem melhorar em simultâneo»; «a tutela não só tem ignorado este princípio, mas agravou irresponsavelmente a situação ao destruir as carreiras médicas, um notável instrumento de ensino e formação, mas também de motivação e responsabilização»; de facto, assiste-se ao desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde, que, apesar das suas imperfeições, atingiu uma honrosa 12.ª posição no concerto mundial, e testemunha-se a tessitura de um modelo de saúde virtual porque indefinível, abstruso porque ambíguo, incongruente porque desgarrado, casuístico e reactivo, e onde floresce, certamente por tudo isto, a pesporrência, a intimidação, a desorientação, a bajulação e a delação.

Revejo-me em António Arnaut («JN», 30-6-07): «Mas esquece os casos em que a existência de um médico num lugar isolado dá uma garantia psicológica às populações. E isso tem de se pagar, porque é também uma questão de coesão social. O Estado tem de suportar os custos da interioridade, como suporta os da insularidade.»

Revejo-me na seta para baixo do «Público», de 15-3-07: «Se fossem as populações, era de se lhes dar um desconto. Mas são os peritos da Comissão, que sugeriu o fecho de alguns blocos de partos, a dizer que há recomendações que não estão a ser cumpridas. Faltam médicos e equipamentos em algumas unidades que absorveram os partos das que encerraram. Não basta fechar, é preciso avaliar, senhor ministro. São os peritos que dizem…»


E eu revejo-me nestas e nas restantes palavras dum texto publicado como «Editorial» no Boletim Informativo da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (série III, n.º 30), escrito pelo Professor José Manuel Silva, que pode ser consultado aqui
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