quinta-feira, novembro 30, 2006

assim se combate o desperdício no SNS


Segundo o Jornal de Notícias, são 227 143 os portugueses inscritos nas listas de espera para cirurgia à data de 15 de Outubro de 2006.
56% destes doentes ainda tem que esperar mais de 6 meses para que a sua situação seja resolvida em termos cirúrgicos, situação idêntica à existente um ano atrás.
Nos últimos 12 meses, 12 138 doentes foram retirados a esta lista pressupondo-se que esta expurga contemple os doentes efectivamente operados (por certo a grande maioria), os que desistiram da cirurgia, os que já entretanto faleceram ou os que por várias razões a indicação para cirurgia foi retirada.

Esperava por este balanço para fundamentar a opinião que perfilho sobre este problema.

De facto, no início desta década declara-se uma preocupação justa dos responsáveis pela política da saúde com a “desconhecida” mas “suspeita” volumosa quantidade de doentes que aguardavam intervenção cirúrgica no âmbito do SNS.
Ministérios da Saúde sucessivos puseram em marcha programas tendentes a contabilizar e dar resposta a esta problemática (PERLE, PECLEC) tendo sido o SIGIC o que mais e melhores resultados apresentou entre todos.
Mas estes bons resultados limitaram-se a um não menos importante dos dois problemas que pretendia resolver.
O da gestão informática a nível nacional e regional:
1. dos novos inscritos, dos expurgados e dos tratados;
2. da monitorização do tempo de espera,
3. da orientação a dar aos doentes para serem submetidos a cirurgia (unidades públicas/privadas).

Mas o segundo objectivo deste Sistema (SIGIC), o da resolução das volumosas e atrasadas listas de espera, não foi concretizado neste ano de actividade do programa como o não tinha sido com os programas que o antecederam.

E porquê?
Porque a prioridade dada à resolução cirúrgica dos casos que apresentavam “tempos de espera de longos meses” desviou a atenção dos responsáveis pelo SIGIC para actividade contratualizada com CA de HHPP ou em regime convencionado, fazendo assim esquecer ou esquecendo-se da necessidade duma exigência de ganhos de produtividade nos Hospitais do SNS para a resolução, em produção normal, dos "novos casos" que entretanto iam aparecendo.

De facto, o que se continua a verificar, é que em produção normal a quantidade e qualidade das intervenções cirúrgicas permanece a mesma e nalguns Hospitais até diminuiu em consequência de persistência dum “status quo” dos Serviços Cirúrgicos Hospitalares ou de atitudes gestionárias questionáveis das entidades superiores da saúde (p. ex. o impedimento por parte da ARS do Norte da colocação a concurso de vagas libertas do quadro de serviços ou o não preenchimento do quadro de serviços deficitários com a consequente diminuição da actividade assistencial programada).

Assiste-se à permanente diferença abissal entre a quantidade de doentes tratados por período operatório em produção normal, produção adicional e produção convencionada com primazia para as duas últimas produções.

E porquê?
Só um exemplo que pode tudo explicar:
Pela consulta da tabela de preços relativa à produção adicional no âmbito do SIGIC e tomando por base o valor de 5.928,50 Euros, referente a uma Prótese Total da Anca realizada neste âmbito(GDH 209) , 45% deste valor (2667,83 Euros) é adjudicado à equipa cirúrgica interveniente revertendo os restantes 55% para os cofres do Hospital.
Em média poderão ser realizadas em 6 horas de funcionamento contínuo dum Bloco Operatório, 3 artroplastias totais a que corresponde um pagamento de 8.003,75 Euros (2667,83 x3) atribuido à equipa cirúrgica.
Intervindo por equipa, 8 profissionais de saúde (2 Cirurgiões, 1 Anestesiologista, 4 Enfermeiros e 1 Auxiliar de Acção Médica) corresponde em média a cada um 1000 Euros por 6 horas de trabalho efectivo, o equivalente aproximado a 6000 Euros semanais ou 24.000 Euros mensais !!!

Assim quem não tem vontade de perpetuar as listas de espera?
Correia Campos que faça as contas e combata o desperdício no SNS!

2 comentários:

J.G. disse...

1º - o CC não sabe fazer contas. Ele é só, só bluf.
2º - e o que dizer ao aumento sempre crescente das cirurgias feitas nas MisericórMelícias?

naoseiquenome usar disse...

Há códigos que não se esquecem:)
Em termos nacionais, permita-me pergunatr como se resolve a questão de um médico que faz privadsa e orienta para lá os seus doentes, que entretanto querem um vale para cirurgia na referida privada...