sábado, outubro 27, 2007

a concentração dos serviços de saúde hospitalares



"Centros de saúde com 40 ou 50 médicos é "um erro"

Noutra área, o palestrante teceu críticas "às grandes catedrais da Saúde”, ou seja, centros de saúde com 40 ou 50 médicos, que classificou como "um erro enorme e grave" que foi cometido no passado, resultado de uma cópia do "modelo concentracionista" dos hospitais."


O palestrante, não é alguém que critica o regresso ao “modelo concentracionista” dos Hospitais da década de 60 do século passado (autenticas catedrais da Saúde, cheias de ciência, detentoras exclusivas do ensino médico, pré e pós graduado, catastroficamente geridas) que localizadas nas grandes cidades periféricas do país pobre e atrasado da altura, obrigavam a que qualquer doente residente nas “saudáveis cidades” distantes do interior, para bem longe da sua família tivesse que ser deslocado, para nelas ser tratado da sua doença, houvesse vaga e chegasse lá ainda a tempo.

O palestrante, não é quem critica, a actual política de saúde Hospitalar do Ministério da Saúde, que com argumentos de defesa da qualidade, da experiência e da segurança dos doentes, concentra serviços Hospitalares e extingue outros, escondendo ou subvalorizando verdadeiros intentos economicistas na área da saúde.

O palestrante, não é quem critica o subaproveitamento dos profissionais da saúde nos grandes Hospitais e da capacidade física instalada, que “ocupados” com a desgastante e consumidora actividade nos Serviços de Urgência, “justificam” quadros médicos volumosíssimos, conduzindo a que nas restantes actividades andem a vaguear pelos corredores à procura de oportunidade para observar, tratar um doente ou afincada e por vezes desesperadamente a “lutar” para curriculum fazer.

O palestrante, não é que quem valoriza a importância que tiveram os Hospitais da periferia e interior do país, que nas últimas décadas abriram as suas portas à diferenciação técnico-científica no exercício da medicina com a colocação de dedicados, esforçados e interessados jovens profissionais, contribuindo assim, talvez modestamente, para o repovoamento do interior e para uma melhoria significativa dos níveis de saúde das populações locais.

O palestrante, não é quem defende os serviços clínicos da Unidade Hospitalar em que trabalha (recentemente constituída em Centro Hospitalar), reconhecidamente produtiva pela tutela ao longo dos seus 20 anos de existência e que pelo conceito “concentracionista” actualmente em voga, se prepara o seu progressivo esvaziamento até ao seu encerramento, com argumentos de falta de profissionais médicos.

O palestrante, não é quem critica a actual política de empresarialização dos Hospitais Públicos ou a sua criação ou reestruturação em ”parcerias público-privadas” em que o lucro é exigido e o princípio de “bem social” que deveria ter a “Saúde” é excluído da sua prática efectiva, exigindo para tal a concentração e o despovoamento dos serviços dos Hospitais mais pequenos que com eles estejam a competir.

O palestrante, não é quem critica a entrega da população, expurgada dos seus serviços assistenciais hospitalares, à cobiça de empresas privadas que com a ajuda do palestrante e dos seus seguidores convictos, lhes vão dando alimento para, com lucros avultados, “tratarem” da saúde dos seus co-cidadãos.

O palestrante é o Ministro da Saúde, Dr. Correia de Campos, quando falava no decorrer do II Fórum das Cidades Saudáveis, em Viana do Castelo.
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