quarta-feira, dezembro 05, 2007

o SUB e a SIV de Fafe

Assinatura de protocolo entre a ARS do Norte e o Presidente da Camara de Fafe em 25 de Fevreiro de 2007


Ficarão?
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Depois de longos e fundamentados estudos realizados por uma denominada Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação de Urgências (da qual mais não se ouviu falar), inicia-se em finais de 2006 a discussão pública do relatório por ela apresentado.

Conclui-se, em Janeiro de 2007, o que o relatório já apontava:
“O Serviço de Urgência do Hospital de S.José de Fafe é para encerrar”.

Várias posições “contra” se fizeram ouvir, mas o encerramento era inevitável.
Em Fevereiro, pelo acordo assinado entre a ARS do Norte e a autarquia de Fafe, já não é para encerrar mas para passar a ser um Serviço de Urgência Básico a inaugurar no dia 25 de Abril de 2007, já sem as especialidades hospitalares a colaborarem neste serviço.

Em Março, constitui-se o Centro Hospitalar do Alto Ave (Hospital de Fafe e de Guimarães).

No início de Abril disponibilizam-se os médicos da Unidade de Fafe, para continuarem a colaborar no atendimento e tratamento dos doentes das áreas de Medicina Interna, Cirurgia e Ortopedia, enquadrados no âmbito de um futuro SUB já que a assistência aos doentes internados, destas especialidades, exige a presença dos mesmos profissionais no Hospital.
“Ouvidos moucos” existiram, por parte da ARS do Norte e da Administração do CHAA, a esta proposta fundamentada e por escrito apresentada pelos médicos da Unidade de Fafe.

Mas tudo continuou como sempre.
Como sempre não…

É que nem com a constituição de 3 USF na região nem com esforços da ARS do Norte, da Administração do CHAA, do Director do CS de Fafe e dos coordenadores das USF locais, a afluência de doentes ao SU da Unidade de Fafe não diminuiu, tendo até paulatinamente aumentado, mês após mês, atingindo actualmente os 150 doentes/dia.

Chegados a finais de Outubro e com uma pressa algo estranha a ARS deseja que a partir do dia 1 de Novembro o SUB seja finalmente inaugurado e as especialidades médicas hospitalares deixem de ter participação activa no Serviço de Urgência de Fafe…

Mas nem o CHAA tinha assegurado o laboratório a funcionar 24 horas, nem teria garantida a participação de dois médicos indiferenciados para, nas 24 horas, assegurarem a assistência com a qualidade desejada, nem tão pouco a SIV (ambulância de Suporte Imediato de Vida) estava ainda disponibilizada pelo INEM.
E mais grave ainda… não estava nem está ainda assegurada, em termos físicos nem humanos, a resposta a dar ao acréscimo de trabalho decorrente do envio de doentes de Fafe, Cabeceiras e Celorico de Basto para serem observados e tratados pela Ortopedia, Medicina Interna e Cirurgia Geral no SU da Unidade de Guimarães.

E então, novo aparente recuo…

“Só poderão ser dispensadas as participações das especialidades médicas hospitalares actualmente a actuar no SU da Unidade de Fafe (Medicina Interna, Ortopedia e Cirurgia) quando estiverem reunidas as seguintes condições:
1. Realização de consultas de outras especialidades, na Unidade de Fafe, por parte de Assistentes Hospitalares da Unidade de Guimarães;
2. Colocação duma SIV na Unidade de Fafe, em Cabeceiras e Celorico de Basto
3. O Laboratório a funcionar 24 horas
4. Preparação dos médicos, a prestar serviço no SUB, em Suporte Avançado de Vida”
Isto foi afirmado, por escrito, pela ARS do Norte a meados de Novembro.

Aparente recuo, digo eu, mas que se revela não o ser, já que a intenção declarada da ARS do Norte é a do esvaziamento progressivo do movimento assistencial por parte das especialidades Hospitalares disponíveis na Unidade de Fafe, que muito contribuem para a redução da afluência ao SU da Unidade de Guimarães, esta já sobrecarregada.
Assim, a pouco e pouco, sem grandes “alaridos”, a população não vai sentindo a perda da assistência médica na sua cidade e os profissionais do SU de Guimarães não chegarão a sentir a sobrecarga a que, lentamente também, vão estando a ser sujeitos.
E o primeiro passo está assim a ser dado para que no futuro, nem um SUB em Fafe tenha razão de existir.

E como o está a fazer a ARS do Norte, com a concordância do Presidente do CA do CHAA e a mudez do Presidente da autarquia?

1. Utilizando abusivamente os conceitos que nortearam a institucionalização da já de si “polémica” Triagem de Manchester, todos os doentes a quem é atribuída a cor “azul” são aconselhados pelo administrativo do SU de Fafe a dirigirem-se à USF a que pertencem ou ao Centro de Saúde da cidade para aí serem observados.
2. Os doentes, que aos Cuidados Primários tenham recorrido por sua própria iniciativa e que venham a necessitar de uma observação urgente por Medicina Interna, Cirurgia e Ortopedia, serão referenciados não para o SU da Unidade de Fafe, como até à data tem sido habitual, mas directamente para o da Unidade de Guimarães, obrigando os doentes e acompanhantes a deslocações desnecessárias e a tempos de espera bem mais longos.
3. E porque na realidade, a SIV de Fafe já lá está desde o dia 1 de Dezembro havia que sobre a actividade desta, actuar também…

(Bem bonita, a ambulância e muito simpáticos (sem qualquer ironia) os profissionais que com esmerado cuidado cuidam do pó, do arranjo interior e dum bom posicionamento da dita viatura, para com rapidez, quando chamados, poderem partir. Talvez por ser no 1º de Dezembro, também primeiro dia de actividade desta SIV em Fafe, nem o Sr. Motorista (professor desempregado) nem o Sr. Enfermeiro (recém-formado em enfermagem) puderam dar mostras da importância em ali estarem disponíveis, dia após dia, em turnos revezados de 12 horas.)

Como para o bem e para o mal sempre se arranjam soluções, este é um exemplo que muitas vezes se irá repetir:

O CODU acciona hoje a SIV de Fafe para ir socorrer um sinistrado numa freguesia a 5 km da Unidade de Fafe.
Por apresentar uma pequena fractura do punho (acidente de trabalho), encaminha o doente para a Unidade de Guimarães (a cerca de 25 km do sinistro) para ali ser observado e tratado por Ortopedia sem que, na sua deslocação para aquela Unidade do Centro Hospitalar do Alto Ave, não pudesse evitar a passagem novamente diante da Unidade de Fafe, onde a SIV está sedeada e onde o mesmo tratamento ortopédico poderia ter sido realizado pelos profissionais de Ortopedia destacados no ainda SU desta Unidade.
Oito horas depois, chega a Fafe, transferido de Guimarães, este mesmo sinistrado, para no Serviço de Ortopedia de Fafe ficar internado e vir a ser submetido a tratamento cirúrgico em actividade cirúrgica programada... e finalmente, já perto das 19 horas, também poder vir a ter direito a uma cama hospitalar, a um sossego e a um jantar, já que nem ao almoço, neste longo dia para ele, teve direito a ter.

Treino da tripulação para melhor ficar a conhecer a topografia da região ou vontade declarada de gastar, mal gasto, o dinheiro de todos nós.

Experiências que podem sair bem caras a muitos e a todos nós também…
Assim, deste modo também, se vai também gerindo os parcos dinheiros do SNS.
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5 comentários:

Anónimo disse...

É com alguma tristeza e desilusão que leio este post neste blog. Este é um blog que visito regularmente por concordar maioritariamente com os comentários aqui existentes e por encontrar nele alguma semelhança de pensamento, no entanto neste post percebo que existe aqui muitas irregularidades e falsas informações.
Para começar, o facto de o TAE existente na SIV no dia 1 de Dezembro ser um professor desempregado não lhe retira nada nem o impede de fazer o seu trabalho com dignidade e profissionalismo (não é um mero motorista mas sim um técnico formado pelo INEM e que foi sujeita a uma formação e avaliação rigorosa).
Quanto à Enfermeira presente nesse dia, e em exemplo de todos os outros Enfermeiros que fazem parte do grupo, não é recém licenciada, tendo 3 anos de experiência profissional num Serviço de Urgência de um Hospital do SNS e possui também uma formação rigorosa e criteriosa ministrada pelo mesmo instituto.
Outra incorrecção é que o doente a que o post se refere não foi transportado pela SIV de Fafe para o CHAA-Unidade de Guimarães mas sim pelos BV de Fafe.
De mais informo que o destino e encaminhamento hospitalar dos doentes assistidos pelas SIV’s de Portugal são da responsabilidade do CODU ou do Médico da VMER quando presente no local.
Outro aspecto que importa referir é que a SIV presente no Hospital de Fafe não pretende de maneira nenhuma substituir a Urgência desta unidade.
Sem mais assunto, não leve isto como uma crítica, mas acho que a verdade deve ser defendida.

J.F disse...

Meu caro Filipe
Agradeço o comentário e as visitas regulares que a este sítio costuma fazer.

De forma alguma pretendi ironizar (como o disse) com descrição do primeiro dia de actividade da SIV em Fafe, nem tão pouco menosprezar a actividade dos profissionais envolvidos nesse primeiro dia de actividade, que no presente e no futuro reputo de muito importante.

Na salvaguarda dos critérios mínimos de segurança para os doentes actua o CODU à distância, alicerçado nas informações dadas pelos presentes no local ou pelo próprio doente (quantas vezes).

Mas o sentido crítico dos profissionais que faziam parte da tripulação (Enfermeiro e TAE) desta SIV, accionada pelo CODU pelas 11 horas do dia 5, também deveria ter existido e no caso concreto que relatei, tal não me parece ter existido. Desconheço se uma VMER esteve presente no local do sinstro, o que a ser verdade ainda mais admirado ficaria.

A informação que recebi do médico ortopedista da Unidade de Guimarães, foi a de que teria havido intervenção da SIV de Fafe na assistência e no transporte do sinistrado para aquele SU, sob a orientação do CODU, tal como no Post eu referencio.

Se fui mal informado, as minhas desculpas, partindo do princípio de que o Filipe melhor informado do que eu está.

Mas com ou sem a participação dos profissionais da SIV de Fafe neste caso, uma coisa é irrefutável. Tratou-se duma orientação errada, a exemplo de muitas outras que pela positiva e pela negativa sucederam, sucedem e continuarão a suceder por desconhecimento ou por erro. Porque são seres humanos que estão a actuar.

O que se pretende é que cada vez menos orientações erradas existam. Que exista um maior conhecimento através duma “mais e melhor prática e informação” e uma menor quantidade de erros, através duma "mais e melhor preparação" dos profissionais.

E isto parece ou deve estar a suceder.
Mas demora algum tempo.

Definidas as orientações gerais de actuação das SIV (como no caso das VMER há já vários anos sucedeu) e exigir a sua aplicação de imediato e a todo o custo (sem as testar em segurança, sem um conhecimento aprofundado da região, sem se fazer uma autocrítica no dia a dia no sentido de se adaptar a actuação ao local, à região e aos casos concretos sobre os quais houve necessidade de actuação), só porque a estratégia dos políticos assim o exige, não.

E muito menos quando da saúde dos nossos, estamos a cuidar.

Para bem dos doentes e das instituições que se pretende terem a confiança de quem delas venha a precisar.

Um abraço

Anónimo disse...

Percebo perfeitamente todas as declarações e aplaudo a preocupação que demonstra pelos doentes. É por sentir isso mesmo que contínuo a visitar este blog porque sei que a preocupação major é o doente. Havia uma serie de informações erradas e que poderiam desvirtuar o contexto da sua primeira mensagem.
Também não sei se a VMER esteve no local do sinistro, mas para existir uma fixa INEM em Guimarães, provavelmente foi a VMER que se deslocou ao sinistrado.
Quanto a triagem dos doentes e encaminhamento, esta é sempre responsabilidade do médico regulador do CODU, não havendo responsabilidade do Enfermeiro SIV neste processo.
A sugestão do Enfermeiro é facultada, sempre ao médico regulador, pode ou não ser aceite por ele. O mesmo se aplica aos doentes socorridos pelos BV. Apenas na presença do médico da VMER podem ser alteradas ordens do médico regulador.
Acho, no entanto, que a formação dos profissionais SIV neste momento no terreno é bastante boa, longe de ser perfeita, mas não seria de esperar outra coisa numa fase tão embrionária do processo. A população fica a ganhar por ter uma assistência profissionalizada no pré-hospitalar, não obstante o facto das SIV’s não serem um substituto dos SU’s existentes. Acho que todos nós ficamos a ganhar com um sistema integrado entre estas duas valências.
Espero que continue com o bom trabalho que tem feito não só no blog, mas também a nível hospitalar e que continue a ser uma voz de revolta para os problemas da nossa saúde.
Um abraço.

Carla disse...

Desde já as minhas sinceras desculpas ao autor do post e aos leitores deste blog porque dei uma informação errada varias vezes. Efectivamente foi a SIV de Fafe a transportar o doente em causa e não esteve presente a VMER no local, não obstante de que o encaminhamento do doente foi da responsabilidade do CODU. Todos os outros factos por mim apresentados foram confirmados.
mais uma vez desculpem e ao autor, continuação de bom trabalho

J.F disse...

Obrigado, Filipe, pela confirmação do que no Post está escrito referente à participação da SIV na ocorrência.

Um abraço