sexta-feira, dezembro 29, 2006

controlo de assiduidade electrónico dos médicos


Dezanove dos 25 directores de serviço do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, apresentaram a sua demissão em resposta à decisão do Conselho de Administração de controlar a sua assiduidade por impressão digital JN


Segundo o SIM, "em Circular Informativa da Secretaria Geral do Ministério da Saúde, datada de 27 de Dezembro, são instruídos os responsáveis das instituições do SNS para cumprirem o determinado no DL 259/98 no relativo aos métodos de controle da assiduidade dos profissionais e bem assim dar seguimento às recomendações do recente relatório da então ainda denominada Inspecção Geral de Saúde."


O rastilho parece ter sido ateado.
Quem o acendeu?
Quem está a alimentá-lo?
Quem quererá apagá-lo?

Porquê nesta precisa altura a instrução da Secretaria Geral do Ministério da Saúde?
Qual o interesse do bastonário da Ordem dos Médicos de apoiar, tão prontamente, os Directores demissionários num processo estritamente laboral?
E se o SIM reafirma "não pôr em causa a legitimidade da adopção de mecanismos mecânicos ou electrónicos de controle da assiduidade dos médicos, cumpridas que sejam as formalidades legais previstas na Lei 67/98" como se compreende tanta polémica?
Para que serviu o regime experimental de um mês adoptado na ULS de Matosinhos?
Estudaram-se formas de consenso para que com este novo controlo de assiduidade dos médicos, não viessem a ser os doentes os mais prejudicados?
Os responsáveis dos Serviços Clínicos e a Administração da ULSM que fizeram?
Porque acabam “as boas vontades” com a instituição dum controlo electrónico?

Será só o controlo de assiduidade que está em causa?

Bom fim de ano 2006 esperado!
Um melhor 2007 perspectivado!
A união faz a força e com forças de igual sentido mais facilmente se alcança o objectivo.
O pretendido enfraquecimento do SNS.


.

13 comentários:

naoseiquenome usar disse...

Quanto ao relatório da ainda IGS, com nova denominação no futuro, nada de inédito. O que foi feito agora em relação aos hospitais parece ter sido feito já bem antes em relação aos centros de saúde.
Recordo aqui um artigo publicado no Jornal "O Independente" de 4 de Maio de 2001, pelo articulista Fernando Esteves, publicado a pags. 24 e 25 do mesmo.
Começa assim:
" Os médicos portugueses atrasam-se constantemente e não têm enraízada uma "cultura de trabalho".
A dada altura, a então Ministra Manuela Arcanjo, perante a pergunta: "Acha que os médicos têm falta de respeito pelos doentes"? responde: " Não seria tão radical. Por um lado, os médicos dividem-se muito nos seus interesses. Há uma dispersão nos seus afazeres e há até uma cultura do "deixar andar". Os médicos são os primeiros a ter consciência das dificuldsades que colocam aos doentes."

Nada mais a acrescentar.
Atiramos pedras a brincar aos lagos, mas as rãs morrem a sério!

Pedro Morgado disse...

Não tenho dúvidas: está em marcha o enfraquecimento do SNS.

esculápio disse...

Os meu parabéns a quem escreveu este post! Relembrei a aulas de filosofia: no perguntar é que reside a verdeira ruptura epistemológica.

Pedro Morgado disse...

A produtividade médica não se mede às dedadas.

J.F disse...

Pedro Morgado
Estou de acordo consigo quando comenta:
"A produtividade médica não se mede às dedadas" no pressuposto de se estar a referir à necessidade da utilização da impressão digital para aferir a assiduidade e pontualidade.
Assim também penso já que pontualidade e assiduidade não são sinónimos de produtividade; mas são duas “virtudes” importantes assim como o são a dedicação e o esforço por fazer bem o que nos compete fazer..
Mas como a lei num estado de direito é para ser cumprida.. cumpra-se a lei.
Se achamos a lei como injusta... sem qualquer restrição à liberdade de nos podermos exprimir sobre ela, façamos propostas para a alterar ou revogar e lutemos por isso se assim o entendermos.
Sem apelos a sectarismos de classe mas com argumentos válidos ( a existirem) demonstremos a evitabilidade dum qualquer controlo electrónico que se proponha e a incompatibilidade deste controlo com a actividade médica.
E não me falem em “dinheiro gasto na compra disto ou daquilo”

Anónimo disse...

J.F: excelente post e excelente resposta a Pedro Morgado.

Anónimo disse...

A posição compreensivelmente pró-governamental do JF (como convém, já que CC lê os blogs, e dizem, ser muito agradecido com vista a uma hipotética distribuição de tachos num qualquer futuro Centro Hospitalar) ficaria aperfeiçoada ainda mais com a defesa da aplicação da tal lei, pela qual muito pugna JF, aos seguintes profissionais:
- Juízes e Procuradores;
- todo o pessoal dos impostos (DGCI);
- todo o pessoal militar;
- todo o pessoal da carreira de inspecção da ASAE - Autoridade de Segurança Alimentar e Económica;
- todo o pessoal da PSP;
- todo o pessoal da GNR;
Aí sim JF, a sua posição saíria melhor defendida, ou devo dizer disfarçada?

J.F disse...

Meu caro "anonymous"
Nada, mas mesmo nada, me pode identificar com as posições governamentais e muito menos com a política de CC e do seu Ministério.
Aqui "no raio" e na minha actividade profissional e pessoal sempre o tenho demonstrado inequivicamente.
Sou contra o protagonismo e o aproveitamento político dum Bastonário da Ordem dos Médicos assim como sou contra a prepotência e a falta de senso político do MS e em particular de CC e seus acessores, perante este caso particular e em muitos outros da política de saúde.
Objectivos?
Já os resumi ao dizer: "enfraquecer o SNS"
Espero ter sido claro
Aplicar a lei à lista que referencia?
Porque não?
E porque há-de ser aplicada num Hospital, aos enfermeiros, aos administrativos, aos auxiliares de acção médica e dos Serviços Gerais e não aos médicos, tecnicos superiores e administradores também?
Seja a lei correcta.
Se a não consideramos como tal, faça-se o que deve ser feito.
Lute-se duma forma leal, com argumentos válidos (que existem), mas não sejamos sectários ao ponto de deixar para os outros o onus dessa luta e nos alheemos dela só pelo facto do "poder" duma classe não permitir que a ela, essa lei se aplique.

naoseiquenome usar disse...

Não precisa o autor deste blog de qualquer advogado de defesa.
Não posso no entanto, deixar de lamentar, que alguém, sob a capa do mero anonimato, sem que se lhe conheça qualquer posição anterior ou mereça qualquer atenção posterior, ou seja, um nada, venha para um fórum de discussão sério fazer insinuações veladas e dirigidas.
Se tem conhecimento da realidade que insinua, explicite-a s.f.f.
Se não tem outros argumentos e acha que essa arma de arremesso, é a única que lhe dará oportunidade de opinar com desfaçatez, cale-se s.f.f.

Quanto às classes que cita:
- Juízes e Procuradores;
- todo o pessoal dos impostos (DGCI);
- todo o pessoal militar;
- todo o pessoal da carreira de inspecção da ASAE - Autoridade de Segurança Alimentar e Económica;
- todo o pessoal da PSP;
- todo o pessoal da GNR;
acaso sabe a que tipo de controle está esta gente toda sujeita?
já viu alguém chegar atrasado à guerra?
já viu alguém chegar atrasado a um julgamento?
já viu alguém chegar atrasado a uma operação ao nível de órgãos de polícia criminal ou meramente de autoridade administrativa?

Porque será que existem tantas queixas de doentes sobre a assiduidade e falta de respeito dos médicos pelo cumprimento das suas obrigações e não acontece o mesmo em relação às classes que refere?
Porque será?

É que imagine só im militar, a chegar atrasado não à guerra, mas a uma simples parada. Ou faltar sem motivo justificativo mais quie forte. Sabe? È-lhe de imediato levantrado um PD, com regras muito mais apertadas que as dos EDFPACRL.
E sabe mais ainda?
Todos estão sujeitos a avaliação de desempenho.
Todos saão classificados e muito poucos chegam ao topo da carreira, o que, os srs. drts. médicos, quase sem excepção alcançam com grande facilidade.

Quando não se sabe o que se diz, nunca se diz grande coisa.

Anónimo disse...

De facto chegar atrasado à guerra ou a uma rusga policial ou a uma operação de autoridade administrativa devia ser engraçado. Fez-me lembrar as rábulas do Raul Solnado.
ESte blog com os comentários da naãoseiquenome usar, não menosprezando os restantes, está a revelar-se um excelente espaço.

Anónimo disse...

Estou totalmente de acordo com o Miguel, mas desculpe "nãoseiquenome usar" hoje vou discordar num ponto consigo. Sim, já vi alguem a chegar atrasado a alguns julgamentos e mesmo a serem adiados pela ausencia desses "alguem". Há sempre um argumento com que se podem defender.)

Anónimo disse...

MUITOS administradores hospitalares gostavam de ser médicos;
ALGUNS médicos também gostariam de ser administradores;
No final será sempre um médico a assinar-lhes o óbito.

naoseiquenome usar disse...

Caríssimo anónimo: ÁMEN! :)
O seu também, com toda a certeza, a menos que seja um indigente.

A propósito de profissões, apraz-me aqui citar Pedro Paixão, em "Viver todos os dias cansa", pags. 116:

" (...) E se te perguntarem o que faz a minha mulher eu vou-te responder: a minha mulher tem múltiplas profissões. Entre elas a que mais aprecio é permitir que eui trabalhe. É o que estou a fazer. Quando acabares podes fechar"