terça-feira, outubro 17, 2006

"encerramento de Urgências hospitalares - passo decisivo na implosão do SNS?"

Parabéns Armando Caldas...
Por me parecer uma análise correcta sobre o problema do encerramento dos Serviços de Urgência, exponho aqui a opinião dum leitor do JN, publicada na Secção do Leitor "Desabafe connosco".


Mensagem:
Encerramento de Urgências hospitalares - passo decisivo na implosão do SNS?
Autor: Armando Caldas <aecaldas@kanguru.pt> Data: 04-10-2006

"O plano proposto publicamente pelo Ministério da Saúde - se for aplicado como proposto e de uma forma literal -é o fermento para se conseguir a breve prazo a implosão do SNS. A eliminação de uma parte significativa de urgências hospitalares e a conversão de muitas outras a postos de atendimento com apenas 2 médicos e 2 enfermeiros vai ter sérias implicações na actividade cirúrgica e internamento dessas mesmas Instituições, pois não é aconselhável deixar durante a noite pura e simplesmente os doentes abandonados sem vigilância médica por parte das especialidades que os internaram, o que me parece particularmente assustador no caso das especialidades cirúrgicas.A decisão de encerrar urgências hospitalares implica ou o encerramento de serviços inteiros ou a manutenção de especialistas apenas a fazer consultas, chegando a uma situação que nem nos países do dito 3° mundo existe, que é ter serviços com cirurgiões que não podem operar, ou em alternativa operar os doentes e depois deixa-los à sua sorte. Podendo parecer exagerado esta afirmação, basta consultar os requisitos obrigatórios para a realização da chamada Cirurgia de Ambulatório - que implicam a existência de atendimento urgente durante as 24 horas para dar resposta a possíveis complicações de cirurgias tidas como menos complicadas - para se confirmar que por maioria de razão não é aceitável realizar cirurgias diferenciadas em hospitais que nem sequer reúnem os requisitos para actos cirúrgicos menos agressivos.Poder-se-ia de uma forma ligeira supor que tal afectará apenas as populações que vêm os seus serviços de urgência encerrados e posteriormente os seus serviços hospitalares, mas tal vai traduzir-se numa avalanche de procura dos Serviços de Urgência que os passarão a servir, correndo o risco de asfixiar urgências já perto do colapso. Tal premissa é igualmente válida para a actividade cirúrgica e internamento. Estarão os hospitais destinados a recolher os utentes repatriados das urgências encerradas com condições de os receber e prestar um serviço com um mínimo de qualidade aceitável?Um dos critérios utilizados para definir o encerramento de urgências é a distância medida em tempo... Mas por quem, a que horas e em que condições: não será certamente o mesmo o tempo de uma deslocação de um veículo do INEM em emergência e o de um particular a tentar vencer o congestionamento de trânsito com os piscas ligados em hora de ponta.Concordo ser necessária uma redefinição da rede hospitalar e que o sistema actual não é eficaz, mas – por uma questão de honestidade e respeito pela população, nomeadamente os mais carenciados que não têm posses para recorrer à medicina privada - talvez fosse correcto fazer o percurso ao contrário, ou seja primeiro criar as condições e só depois encerrar os serviços. É o mínimo que se pode esperar de quem se afirma preocupado com a saúde das populações.Se bem que indevidamente, os Serviços de Urgência representam o único acesso eficaz que os utentes têm para resolver os seus problemas de saúde, pois que o acesso a uma consulta atempada e a realização de exames complementares necessários esbarra nos horários de funcionamentos, limitações de funcionários, nomeadamente médicos, enquanto as prometidas USF ainda não passam de uma miragem. Sem querer duvidar da competência técnica da comissão, observo que mais uma vez se atropelam os direitos dos cidadãos e só em segundo plano se pensa na funcionalidade do sistema, o qual deveria ser prioritário; só assim se consegue corrigir de facto e com justiça as disfunções do modelo actual. Faltam ainda alguns meses, oxalá o bom senso prevaleça e sem evitem danos irreversíveis, nomeadamente para os mais desfavorecidos, tradicionalmente ludibriados na altura de pedir o seu voto."

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