sexta-feira, julho 06, 2007

uma história real



"Quando depois do almoço com a família, em casa, acabava de arrumar a cozinha, eu e os meus filhos ouvimos um enorme alarido que vinha dum aglomerado de casas umas boas três centenas de metros daqui.
Eram gritos de pessoas e um apitar de buzinas de automóveis e de uma sirene de ambulância que, da zona onde sabia viver o senhor António (nome fictício), me chegavam aos ouvidos.

Da janela de minha casa adivinho, pela estrada estreita que passava por entre casas e quintais, uma ambulância que a subia a toda a velocidade.
Ficamos todos atentos e os meus vizinhos, que entretanto pelo grande alarido também foram despertos, comentam de que “não deve ter sido acidente porque não ouvimos qualquer barulho”.

Porque finalmente a ambulância parou junto da casa do senhor António, um senhor octogenário, paralisado e acamado há 5 meses por uma hemorragia cerebral, pensamos:
Sim deve ter sido para ele o socorro pedido. Talvez quem sabe, tivesse falecido…

Dez minutos depois, ainda nós comentávamos a infelicidade do idoso e a situação em que ele e os seus familiares se encontravam, quando novo alarido daquela zona se ouve, ao mesmo tempo que outra ambulância ainda afastada, se aproxima do local a grande velocidade.
Tememos que um acidente grave tivesse então ocorrido, pelo que a nossa curiosidade nos fez ir até lá ver o que se estava a passar. A correr, rapidamente lá cheguei com mais duas vizinhas minhas, atravessando os campos duma quinta nas traseiras de minha casa. E quando lá chegamos, vejo um bombeiro muito descontraído, no meio da rua, de luvas calçadas, chamando a atenção das pessoas que por ali já estavam, para um jipe dos bombeiros que se aproximava a abrir caminho para um carro do INEM que nessa altura também chegava.

Acidente não teria sido, mas sim um agravamento do estado de saúde do Sr. António, como muito preocupada uma sua vizinha nos contou.

E assim todos nós confirmamos e nos afastamos do local, enquanto a ambulância com o octogenário seguia à frente em direcção ao Hospital, logo seguida pelo carro do INEM e do jipe vermelho dos Bombeiros da vila perto da aldeia onde vivo.

E comentava eu com as minhas vizinhas:
Quanto não estaremos nós a gastar com tudo isto?

Há cerca de 10 anos, o meu irmão de 40 anos, quando vivia na Alemanha, teve um enfarte do coração. Chamaram uma ambulância a casa que rapidamente lá chegou. Durante o transporte até ao Hospital mais próximo, precisou de ser reanimado, porque parou de respirar, e pelo que me contou a minha cunhada, não teria havido tão grande aparato como este de hoje.

No dia seguinte, hoje, vim a saber que o Sr. António está internado no Hospital da cidade e que ainda respira…
Afinal valeu a pena, mesmo com todo aquele aparato.
contador da história identificado


Esta é uma história real, posso afirmá-lo, que assim me foi assim contada ontem.

E como esta, quantas mais diariamente ficarão por contar?

Assim como para contar haveria tantas outras que infelizmente já sucederam e por certo com mais ou menos frequência continuarão a suceder, nas quais a resposta dos serviços de saúde públicos de emergência (INEM) não se fez ou faz sentir com a mesma rapidez ou com a mesma disponibilidade com que neste caso, ao que parece, se fez sentir - salvaguardadas as proporcionalidades em termos de gravidade das várias situações, quantas vezes sub ou sobrevalorizadas pelos vários intervenientes.

Lembrei-me, a este propósito, de procurar no Relatório de Primavera 2007 algo que me pudesse esclarecer.

Algo que os colaboradores do OPSS tivessem eventualmente proposto ao analisarem a rede de emergência pré-hospitalar, já que muitas “luzes e sombras” também têm existido associadas ao plano de reestruturação da rede de urgências, ao encerramentos de SAPs e a esta rede de emergência.
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E… praticamente nada encontrei sobre este importante sector assistencial, ao folhear as perto de 200 páginas deste Relatório.


Como lá é dito, “a imagem de encerramentos e a percepção de retracção dos serviços públicos e da protecção social na saúde” ter-se-á devido ao facto do processo de reestruturação, intervenção e requalificação das infra-estruturas de saúde se ter iniciado duma forma “muito fragmentada e não inserida numa visão global das infra-estruturas locais públicas”.

Sim, mas não só no campo dos cuidados primários, hospitalares e continuados como também no campo da emergência médica na qual o Instituto Nacional de Emergência Médica é parte imprescindível. E o nosso Ministério da Saúde bem como o OPSS a ele deveriam ter dado a devida atenção em igualdade à que é dada ao financiamento do SNS, aos cuidados de saúde primários, à rede hospitalar, à espera cirúrgica, à Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, às Farmácias e aos Medicamentos.

Para além dumas veladas críticas ao se ter dado “inicio à reestruturação da rede de urgências sem se começar pela implementação dos Serviços de Urgência Básica” e a uma “deficiente gestão da comunicação com as populações por parte do Ministério da Saúde no processo de encerramento dos SAP e das urgências hospitalares, acompanhada por processos de decisão onde, por vezes, fica a impressão de que as questões técnicas podem ser relegadas para segundo plano”, nada sobre como está a ser desenvolvido o plano estratégico de implantação nacional do INEM, seus constrangimentos e sua capacidade instalada, o funcionamento do CODU, o papel da rede nacional de Bombeiros, o funcionamento das redes de referenciação de doentes agudos, as acções de formação dirigidas para a população para correctamente utilizarem os Serviços de Emergência, nada disto parece ter sido considerado importante ser analisado,

E se este sector parece não estar a ser entendido pelo Ministério da Saúde como uma “prioridade política”, devê-lo-ia ter sido entendido como tal, pelos colaboradores deste Observatório dando-lhe, no seu Relatório, a importância que ele deveria merecer.

Porque neste sector particular também a “pouca sensibilidade social” também se tem feito sentir.
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2 comentários:

naoseiquenome usar disse...

1) Não há "histórias reais porque assim nos foram contadas);
2) A emergência médica exige adrenalina, poder de decisão e de responsabilização;
3) Muito poucos médicos, sobretudo os mais velhos, aderem à formação em "emergência" proposta.

Quase sempre a acção do INEM é benéfica.

Quid iuris em caso de insucesso?

J.F disse...

NSQNU

Comentário/resposta:
1) “Tretas”
2) “Por isso não é para todos”
3) “aos princípios básicos, aderem”

A- “felizmente que assim é”
B- “o mesmo que para qualquer acto médico”