segunda-feira, abril 02, 2007

"taxas moderadoras" então para quem?


Três artigos do DN de hoje, assinados por três jornalistas diferentes, abordam o tema das novas taxas moderadoras que segundo os autores e o conteúdo das notícias as consideram como "co-pagamentos de actos médicos".

De maneira nenhuma. Não se trata de uma taxa moderadora, mas de um co-pagamento. C.Sakellarides

O beirão obstinado que teima em ser rei da impopularidade no Governo
Parece ser sina dele: volta agora a suscitar polémica com a entrada em vigor das novas taxas moderadoras por internamento e cirurgia. Adivinham-se novas quedas nos próximos barómetros de popularidade.
"Quem tem dinheiro, se calhar não faz diferença, mas quem não tem... Já viu bem? É mais uma razão para as pessoas se deixarem ficar doentes em casa"

Difícil para uns é aceitar o termo “co-pagamento”, antes preferindo e defendendo dever continuar a ser considerado como uma “taxa moderadora”.

Numa primeira fase da sua criação considerada moderadora do consumismo, dirigida ao “consumidor” e numa segunda fase (a da sua institucionalização) também dirigida ao “prestador de serviços”.

Contraditória é esta defesa de moderação quando, com a isenção de mais de 50% da população utilizadora do SNS (prevista no Artº.2 do DL 173/2003 e segundo palavras de CC) a ela escapa (precisamente o grupo populacional que em valores absolutos mais recorre aos serviços do SNS - população de baixo poder económico ou portadora de doenças crónicas entre outros), deixando assim a “moderação” para os restantes, que da mesma forma e em valores absolutos, menos utilização fazem dos mesmo serviços.

O que está em causa é uma coisa bem diferente desta pretensa moderação e também não serão as “migalhas” com elas arrecadadas que fundamentam a sua actual existência.

É o que André Macedo no DE através da sua pergunta sugere que se defenda:

“No fim do ano, esta nova taxa permitirá ao Estado recuperar nove milhões de euros. Como é evidente, nove milhões num orçamento de 8,9 mil milhões não resolve nada, são migalhas, mas evidencia o princípio que importa discutir: num sistema de saúde estatizado, com cobertura universal, a pressão do Governo sobre os custos é suficiente para viabilizar o SNS durante quantos mais anos?”

Isto é:

O questionar um SNS “estatizado”, “universal” e geral, tendencialmente gratuito, que garanta o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados de saúde (Constituição da República).

E como que respondendo à questão, vamos sendo preparados através de decisões e atitudes políticas economicistas que subalternizam as políticas sociais, as encaminham para o “esquecimento” e assim vão transformando o SNS num serviço desvirtuado de todos os seus princípios.

Desvalorizando-se o que de bom realiza:
“Há mais e melhores médicos. Há mais e melhores enfermeiros. Há mais tecnologia disponível e melhores equipamentos. Em 2005, realizaram-se 32 milhões de consultas nos centros de saúde. A nossa taxa de mortalidade infantil é das mais baixas da Europa. Há farmácias em todo o país.”

E valorizando-se o que de pior ou menos bem tem gerido:
Os gastos, o desperdício, a produtividade, as listas de espera.

Para estes, como para André Macedo, a manter o SNS com os seus princípios fundamentais “Até pode haver saúde para todos, como diz a Constituição, mas será uma fraca saúde que começará a não dar confiança a ninguém”.
E para que tal não suceda, sugere-se atenção ao esperado relatório da Comissão de Peritos encarregada de estudar alternativas ao actual modelo de financiamento do SNS, que segundo parece aponta para a criação de seguros complementares de saúde e de Fundos destinados à Saúde.

Assim, sim.

Até pode haver o direito à saúde para todos, baseado num “SNS” consagrado numa qualquer Constituição.
Será um fraco “SNS” para todos, que começará a não dar confiança aos mais ricos, mas que só os mais pobres a ele se verão obrigados a ter que recorrer.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Talvez este comentário não se enquadre neste post mas, apenas queria deixar aqui uma ideia que há muito tempo rumino:
- Porque é que os Hospitais não voltam a cobrar uma taxa (bilhete) às visitas em vez de cobrar as ditas taxas de internamento? Quantas visitas têm diariamente cada doente internado? 1 ou 1.5€ por visita iria dar para evitar a tal taxa :))) Sorrio sim, mas não de brincadeira.
Por acaso sabem quanto se pagava por visita em 1988?
Por favor pensem nisto sim, talvez não seja um apelo demasiado louco mas até razoável.

Boa noite


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