quinta-feira, outubro 26, 2006

que Presidente da Câmara de Fafe têm os fafenses...


Ontem à noite, enquanto no Serviço de Urgência do Hospital de S. José de Fafe ia dando a minha contribuição para a observação e tratamento de doentes dos concelhos de Fafe, Cabeceiras e Celorico que a ele recorriam, ia ouvindo nos intervalos, a Rádio local que em directo transmitia um debate sobre "o Serviço de Urgência em Fafe", numa sala de cinema local.
Sabia que a Associação Cívica "Fafe Presente" teria convidado para estarem presentes como apresentadores das suas posições sobre o assunto, para além dos Presidentes dos Conselhos de Administração dos Hospitais de Fafe e Guimarães, o Director do Centro de Saúde local, o Coordenador da Sub-região de Saúde de Braga e o Presidente da Câmara de Fafe.
Estavam de facto reunidas as condições, para os que podiam estar no local do debate ou a ouvir pela rádio (como era o meu caso), passassem 2 horas e meia escutar os argumentos a favor e contra o proposto encerramento desse Serviço na cidade.
Mas... espanto! (talvez só para alguns...)
Quando o Presidente da associação cívica, na abertura do debate, anuncia a ausência do Coordenador da Sub-região de Saúde que se delegou no Director do Centro de Saúde de Fafe, por certo que quem se pôde sentar nas cadeiras do Estúdio Fénix notou mais uma cadeira vaga que estava destinada, na mesa da presidência, ao Sr. Presidente da Câmara (e nada foi dito sobre a sua injustificada ausência excepto um lamento).

Ter-se -à pensado...

"Se calhar foi o que ele fez de melhor..."
"O que é que um presidente da câmara tem a ver com a Saúde ou com as urgências de Fafe se até são clandestinas?"
"Quando os convidados que se vão sentar ao seu lado são todos ligados ao sector da saúde e só ele não, o que iria ele lá dizer?"
“Até porque se lhe tinham dito que esse assunto do "encerramento das Urgências em Fafe", era um assunto que o Ministro da Saúde, que é do seu partido, tinha intenção de levar para a frente…"

Mas enganou-se o Sr. Presidente da Câmara.
Se lá tivesse estado presente, teria como companheiro do "sim" ao encerramento da urgência, o Administrador do Hospital de Guimarães que nas suas primeiras palavras demonstrava que o seu Hospital estava preparado para "aguentar" com os cerca de 5000 doentes por ano, já que era esse o número que pelas suas contas esperaria como acréscimo. Argumentou a favor do "sim" com a expectativa de uma melhor qualidade assistencial que seria prestada aos fafenses e a uma melhor rentabilização do pessoal e das estruturas da saúde, já que a crise actual assim o exigia.

Mas decorridas algumas intervenções dos Directores do Hospital e do Centro de Saúde e de alguns dos presentes no debate, por certo que o Sr. Dr. José Ribeiro (Presidente da Câmara de Fafe) se voltaria a arrepender de lá ter ido...

É que até o Sr. Presidente do Hospital de Guimarães, no fim do debate tinha mudado de opinião, admitindo publicamente sentir-se preocupado com o encerramento do Serviço de Urgência de Fafe, cujas populações de Fafe, Cabeceiras, Celorico e por arrastamento também as de Guimarães e Vizela, a consumar-se o encerramento e sem alternativas, iriam sofrer um agravamento da qualidade da assistência médica de urgência pela sobrecarga de trabalho que iria ser pedida ao seu Hospital.
O Sr. Presidente do Hospital de Guimarães por certo teria feito mal as contas e avaliou mal os concelhos que pretendia arrecadar para melhorar financeiramente o seu Hospital, uma vez que pelos dados demográficos, populacionais e estatísticos oficiais apresentados pelos presentes no debate, bem feitas as contas, não seriam só mais 5.000 mas 35.717 doentes (ou perto de 55.000 como se prevê para o ano de 2007 com o encerramento do SAP em Fafe) que teriam, a ser encerrado o SU de Fafe, de ser socorridos no Serviço de Urgência do Hospital de Guimarães.
Nº entradas no SU Guimarães em 2005: 104.926
Nº entradas no SU Fafe em 2005: 35.717
(Fonte: Business Plan 2007/2009 - Centro Hospitalar Guimarães-Fafe)

E assim o Sr. Dr. José Ribeiro, Presidente da Câmara de Fafe, perdeu uma oportunidade para aprender alguma coisa sobre como vai, como deveria ir e como se propõe que vá a saúde dos seus munícipes.

Saíram da Reunião os fafenses (e não só) com a força da razão pelo lado deles.
Mas a força da razão, infelizmente às vezes só tem valor quando está na mão dos mais poderosos.
E apesar do poder das suas autarquias estar nas mãos dos “súbditos” desse mesmo poder, os fafenses, os cabeceirenses e os celoricenses são abandonados pelos seus presidentes a troco de desconhecidos interesses político/partidários talvez esses sim "interesses corporativos".

E transcrevo palavras de Dr. João Semedo, deputado à AR e presidente do CA do Hospital Joaquim Urbano proferidas hoje em “Saúde SA”:

"O que não pode acontecer é o que Correia de Campos pretende fazer com as urgências: fechar 14 urgências hospitalares (a prazo, fecharão os respectivos hospitais ou passarão a hospitais de retaguarda para cuidados continuados), desclassificar outras 16 e transformar 24 SAPs em mais SAPs, sem medir o impacto que tudo isto vai ter sobre as urgências que continuarão abertas e que já hoje estão a rebentar pelas costuras, com tempos de espera que, na maior parte dos casos, nos envergonham. É uma decisão irresponsável, tanto mais que é tomada num contexto em que o ministério tem vindo a encerrar muitos SAPs e pretende continuar a fechar mais, sabendo nós que para muitos portugueses os SAPs - apesar das suas limitações, são o único e último recurso de que dispõem quando a doença lhe bate à porta."

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu estive lá e gostei de os ouvir.Faz de facto muita falta em Fafe um Serviço de Urgência e agora mais do que nunca pois o Centro de Saúde de Fafe deixou de ter o SAP a funcionar. Para já só para alguns dos fafenses é possivel arranjar consulta de urgência.
Se a urgência fechar em Fafe, temos que ir para Guimarães e esperar uma eternidadepara sermos atendidos quando aqui sabemos o que temos e mais ou menos ràpidamente somos atendidos.
De facto temos um presidente da Câmara que se preocupa muito connosco. Está à vista.

Anónimo disse...

Bairrismos... histerismos inconsequentes :)