Com um colega meu (Cirurgião Geral) conversava há dias sobre a maneira como actualmente os nossos governantes gerem as suas políticas e escolhem os seus “executivos” executantes.
Comentavámos o proteccionismo que é dado a quem escrupulosamente (muitas vezes sem rigor), cumpre ou faz cumprir as directivas superiores; a quem com um profissionalismo muitas vezes dúbio, sem olhar a meios e sem a mínima consciência, contribui com a sua prática para atingir, duma maneira, "cega" os objectivos traçados nos gabinetes ministeriais ou das administrações e desta maneira cair nas "boas graças" dos superiores hierárquicos.
E a propósito conta-me ele esta história verídica e bem recente:
João, (nome fictício) doente na casa dos 50 anos, com incapacidade temporária para o trabalho há já alguns meses, é convocado para uma Junta Médica de verificação de baixa.
A ela comparece no dia 30 de Janeiro de 2007 fazendo-se acompanhar dos MCD realizados, bem como dos relatórios médicos do Médico Assistente e do Cirurgião Geral, neste caso o relator desta história.
E alertou o Cirurgião Geral, no seu relatório, sofrer o João duma neoplasia do colon inoperável, encontrando-se em fase terminal por metastização generalizada.
E assim a referida Junta Médica foi realizada.
Quatro dias depois, dia 4 de Fevereiro, é o João internado pelo Serviço de Urgência no Serviço de Cirurgia por agravamento do seu estado geral, vindo a falecer a 14 de Fevereiro em consequência da “neoplasia do colon metastizada”.
No final de Abril deste ano, recebe a viúva uma notificação da Segurança Social que avisa o já defunto, de que teria sido dado como “apto para o trabalho”, com efeitos a partir do dia 30 de Janeiro deste mesmo ano, data da realização da Junta Médica.
A associação de ideias dá para isto:
Por que “cartilha” e por que livros escolares estarão os nossos políticos e decisores a estudar para assim pensar e decidir?
"Nós acreditamos que o trabalho liberta", terá dito Paulo Portas no 1º de Maio deste ano, na Madeira.
Não fosse esta apologia hipócrita do trabalho através da frase "Arbeit macht frei" que os nazis afrontosamente inscreveram nos portões de Auschwitz, seria levado a pensar que sim, que o trabalho liberta sim, mas o Estado.
Dos gastos com a Segurança Social e não só… é um facto.
Mas desta maneira, não.
Assim como uma outra frase: “Todo o trabalho é assim: dá saúde e alegria, mormente o que se faz ao ar livre”, extraída do livro oficial de Leitura da 3ª Classe da altura do Estado Novo (por acaso o mesmo livro que considera que: “É nossa Pátria todo o território sagrado que D. Afonso Henriques começou a talhar....é o solo abençoado de todo o Portugal, com as suas ilhas do Atlântico -Açores, Madeira, Cabo verde, S. Tomé e Príncipe, as nossas terras dos dois lados de África, a Índia, Macau, a longínqua Timor”), levar-nos-ia a pensar como diz o ditado popular nela baseado que…
“Se o trabalho dá saúde, que trabalhem os doentes”.
Será assim que andam a pensar os “nossos técnicos” da Segurança Social?
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3 comentários:
como fazer para chegar a esta hist? ando a recolher casos semelhantes para um trabalho jornalistico sobre esta forma de combater as dita baixas 'fraudulentas' e gostaria de contar esta tb. Pode dar-me alguma pista?
graca.rosendo@sol.pt
"graca.rosendo@sol.pt"
Obrigado pela visita e pelo interesse nesta "história".
Logo que possível e após a obtenção da devida autorização por parte do colega que me "contou" esta história real, consigo entrarei em contacto via mail.
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