sexta-feira, fevereiro 16, 2007

será que isto vai dar chatice?


O ministro da Saúde afastou hoje a hipótese de alterar o estatuto dos hospitais transformados em Entidades Públicas Empresariais (EPE) no caso de incumprimento financeiro, afirmando que o seu «desempenho foi, maioritariamente, muito positivo» Diário Económico

Eu não assisti à apresentação da execução orçamental das Administrações Públicas feita por António Correia de Campos e pelos ministros das Finanças e do Trabalho e Solidariedade, mas parece que pelo facto “dos meninos EPEE se terem portado bem” (na sua grande maioria), aos que eventualmente se portaram mal não lhes vai ser negado o “chupa-chupa”.

Regista-se esta mudança de pensamento de CC que em Setembro de 2006 ameaçava com o regresso ao SPA dos recém constituídos EPE que não conseguissem controlar o crescimento da sua despesa. Demonstra com esta declaração estar agora plenamente convencido (dúvidas teria em Setembro de 2006) de que a fórmula “EPE” é para ficar, talvez não saiba ainda se para perdurar.

E tudo parece estar bem de saúde com excepção de duas rubricas:
A da “despesa com o pessoal” e a dos “fornecimentos e serviços”.

Se:
a) na rubrica “fornecimentos e serviços” a responsabilidade da variação de 5,5% para uma estimativa de crescimento 0%, é atribuída a uma perda “da rigidez da administração” faz pensar na necessidade de aumentar o controlo administrativo ou quem sabe, fazer dotar as chefias intermédias desse poder de controlo.

É que se olharmos a todos os itens desta rubrica, alguns estarão sujeitos à capacidade negocial e efectivo rigor administrativo das AAHH (caso dos Fornecimentos e Serviços externos - sub-contratos para os MCDT , tarefas, avenças ou prestações de serviço, contencioso). Outros haverá, em que tal rigor de execução deve pertencer também às chefias intermédias que devem “controlar” quem solicita os serviços (externos e internos, particularmente no campo dos MCDT), ou velar pela necessidade de restringir criteriosamente os gastos em actos de conservação e reparação, de consumo de bens essenciais como combustíveis, telefones, água e electricidade; em actos de representação e deslocação; transporte de doentes, etc.

b) na rubrica das “despesas com o pessoal”, Correia Campos atribui o défice ao “acomodar 60 milhões de euros do aumento das contribuições para a Caixa Geral de Aposentações e ADSE”.

Mas se nestes 2 últimos anos:
Não tivesse havido congelamento da progressão nas carreiras e o aumento da massa salarial fosse pelo menos idêntico ao da inflacção;
E se o alargamento (há anos previsto) dos quadros do funcionalismo público deste sector da saúde não tivesse sido congelado e não tivesse havido restrições ao preenchimento das vagas existentes em todos as carreiras do SNS;

A quanto se reportaria o défice desta rubrica nesta altura?

Seria ele maior, igual ou inferior?

Por certo que sem estas limitações que reduzem o bem-estar social dos trabalhadores do SNS e objectiva e subjectivamente também a sua produtividade individual e colectiva; se não se tivesse esvaziado os serviços de profissionais e impedido a entrada de outros mais jovens, ter-se-iam evitado gastos em contratações e subcontratações, muitas delas “chorudas”, consubstanciadas em contratos individuais de trabalho ou de prestação de serviços de iniciativa privada bem mais onerosas a curto prazo e tendentes a perpetuar o esvaziamento do SNS (pela instabilidade bilateral desses mesmos contratos) de responsabilidades que a ele deveriam estar permanente e fielmente afectadas.

... e já agora, bem a propósito em "O país do Burro"

O privado é mesmo o que está a dar
Outsourcing (*)

A entidade pública X fez um contrato com uma empresa privada Y de limpeza no valor de 44 mil e alguns euros para o ano de 2007. Fez ainda um contrato de vigilância e segurança com uma empresa Z do ramo no valor de 18 mil e tal Euros.
A empresa Y manda 4 funcionárias, 3 horas por dia, todos os dias, para limparem a entidade pública X e a empresa Z tem lá um vigilante 8 horas por dia.

Alternativa:
Se a entidade pública X contratasse para o seu quadro de pessoal 3 funcionárias de limpeza a 500 Euros por mês, com um horário de 8 horas por dia (valor hipotético, acima do valor pago para a carreira respectiva na função pública), a despesa anual em salários seria de 21 mil euros. Se lhe adicionarmos 1500 euros em produtos de limpeza, o serviço seria assegurado por metade do preço e a entidade X pouparia cerca de 22500 Euros, o valor que o dono da empresa de limpeza Y deixaria de facturar.
Se a entidade pública X contratasse 1 vigilante a 500 Euros por mês, com um horário de 8 horas por dia, asseguraria o mesmo serviço que contrata ao sector privado por apenas 7000 euros por ano, poupando 11 mil euros por ano, mais de 50%, o valor que os donos da empresa Z de segurança deixariam de ganhar.

(*) O caso e os valores apresentados são reais. Multipliquem-se por n instituições públicas e faça-se ideia do que custa a moda do outsourcing. O privado é mesmo o que está a dar.



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16 comentários:

naoseiquenome usar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
naoseiquenome usar disse...

"Chorarei
quanto for preciso
para fazer
com que o mar cresça.
E o meu navio
chegue ao fundo.
E o meu sonho
desapareça.
Chorarei"


Cecília Meireles.


Ah:
o cartoon está fantástico!!!!!!!!!

Anónimo disse...

Pelo exemplo - real - que apresenta, trata-se sem dúvida de um centro de saúde.
Se fizer as mesmas contas para um hospital, o resultado será aterrador.
Mas não precisa fazer contas nenhumas:
- os hospitais têm administradores, não é??

naoseiquenome usar disse...

Não me foi perguntado, mas eu respondo:
Os Hospitais (e isto é um "problema de toda a F.P e não apenas dos Hospitais), têm Administradores, sim senhora.
E estes devem actuar na prossecução desta trilogia básica: economia, eficiência e eficácia.

Peliteiro disse...

Não há uma redundância nessa trilogia?

naoseiquenome usar disse...

Não.
É a regra dos 3 E's em economia.
Julgo que não se perceberá a diferença entre eficácia e eficiência.
Sem recorrer a conceitos económicos digo-lhe que a eficácia se reporta ao prestador do serviço e a eficiência à actividade a desenvolver.

J.F disse...

Assim me parecía também.
Mas agradecendo o ensinamento, perminta-me alterar "trilogia" por "quadrilogia", para que possa ser aceite a "competência" também.

naoseiquenome usar disse...

:)
essa deve presidir às restantes.
Mas não cabe nos 3 E's por manifesta desconformidade. Passará previamente pelos Recursos Humanos e antes disso pelos Júris dos Concursos.

Peliteiro disse...

Julgo que eficácia+economia=eficiência.

naoseiquenome usar disse...

de pensamento corrente podemos "julgar" o que quisermos.
Em termos de conceitos muito bem estudados, já não tento.
DEixo aqui uma passagem do portal do governo, para não maçar com conceitos económicos:

"Os serviços integrados e os serviços e fundos autónomos que não cumpram o disposto nesta circular serão objecto, no ano económico de 2006, de avaliação, pela Inspecção-Geral de Finanças ou pela Direcção-Geral do Orçamento, com o objectivo de verificar se as autorizações de despesa que deram origem aos compromissos em causa obedeceram ao cumprimento de restrições adicionais à despesa prevista, bem como aos requisitos enunciados no artigo 22º do Decreto-Lei nº 155/92, de 28 de Julho, nomeadamente a economia, eficiência e eficácia na realização da despesa."

naoseiquenome usar disse...

mas deixo 2 sítios:
ttp://www.google.pt/search?q=Economia%2C+efici%C3%AAncia+e+efic%C3%A1cia&btnG=Pesquisar&hl=pt-PT&client=firefox-a&channel=s&rls=org.mozilla%3Apt-BR%3Aofficial&hs=ayl

http://209.85.135.104/search?q=cache:NE_JPP7CIVUJ:eca.europa.eu/presentation/audit_approach/index_pt.htm+Economia,+efici%C3%AAncia+e+efic%C3%A1cia&hl=pt-PT&ct=clnk&cd=4&gl=pt&client=firefox-a

Peliteiro disse...

Julgo - não no sentido de "pensamento corrente", mas antes no sentido de ser a modesta opinião de alguém com alguma formação e experiência em gestão de empresas - que gerir separando a componente humana - da "eficácia dos prestadores do serviço" - da organizacional - da "eficiência da actividade a desenvolver" - não é uma boa prática, por representar uma abordagem que não encara uma organização como um todo, como um sistema.

Julgo - não no sentido de "pensamento corrente", mas antes no sentido de ser a minha modesta opinião, fundamentada em documentos aceites internacionalmente e adoptados por empresários e gestores de todo o mundo - que eficácia é a «medida em que as actividades planeadas foram realizadas e conseguidos os resultados planeados» e que eficiência é a «relação entre os resultados obtidos e os recursos utilizados».

Daí a chamada de atenção para uma possível redundância nos conceitos de economia e eficiência e a sugestão da fórmula simplificada "eficiência = eficácia + economia". Mas a NSQNU deve ser muito mais esclarecida e conhecedora, deve ter um MBA por Fontainebleau e deve ter já vasta experiência de gestão de grandes empórios, pelo que me remeto a prosseguir o estudo do tema através desta fantástica ferramento do saber que é o google.

naoseiquenome usar disse...

Ora viva MSP!
A resposta tardou mas chegou e, com o esclarecimento de que atendendo ao raciocínio que agora explicita, a fórmula pode ser "simplificada". Muito bem. Apoia-se ainda nos conhecimentos que detêm (adquiridos em documentos e não sei se experiência nacional e internacional) de para defender a tal fórmula, contendo a simplificação. Igualmente muito bem.
Faz uma crítica velada à ferramenta "Google". Melhor ainda, porque até concordo consigo.

No entanto e caso já tenha realizado auditorias, recordo-lhe aqui os conceitos preconizados pelo Tribunal de Contas no Manual de auditoria e procedimentos. Caso não as tenha realizado, reincido em deixá-los.
"57. Economia. Aquisição de recursos financeiros, humanos
e materiais apropriados, tanto sob o ponto de vista da qualidade como da quantidade, no momento oportuno e pelo menor custo.
58. Eficácia. Grau de alcance dos objectivos visados, segundo uma relação de custo/benefício favorável.
59. Eficiência. Utilização dos recursos financeiros, humanos e materiais de modo a atingir a
maximização dos resultados para um determinado nível de recursos ou a minimização dos
meios para determinada quantidade e qualidade de resultados."

Peliteiro disse...

Cara NSQNU,
Está a ver como já nos entendemos melhor?
Os nossos conceitos afinal, embora diferentes, não são assim tão distantes...
Mas os meus são mais fortes, são fundamentados num documento de consenso internacional e os seus são apenas os de uma instituição nacional :-)

Para lhe ser sincero e directo - como procuro ser sempre - não gostei do tom da sua réplica nem das aspas em "julgar". Julgo que julgou que eu andava por aí a semear julgamentos meus. Não sou nenhum catavento.

Ah e quanto a auditorias, vou fazer uma nos dias 26 e 27 a uma empresa de investimentos de Barcelos.
Outro Ah, a minha experiência de gestão não é segredo, é nacional, numa grande empresa e numa pequena empresa; aliás eu tenho poucos segredos, a minha nota curricular está no meu perfil.
Mais um Ah, tardei na resposta porque estive de mini-férias.

Disponha sempre; Cumprimentos.

naoseiquenome usar disse...

Disponha sempre MSP.
A sério.
Eu já fiz muitas e muitas e vou continuar a fazer.
Por isso um conselho amigo:
não se esqueça de que está em portugal e de que, neste domínio, o TContas é soberano.

Boa noite.

Peliteiro disse...

Muitas vezes confundimos o mundo com o nosso pequeno mundo.

Quando vier à Póvoa não visite apenas Alfredo José de Sousa, telefone-me que eu pago um belo rodovalho grelado.

Na Póvoa, diz-se, não falta matéria para umas boas auditorias.