sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Homenagem a Zeca Afonso



José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica.

na Associação José Afonso: BIOGRAFIA e...

"Eu não sei se isso de recordar o nascimento corresponde a um conteúdo repetido dos sonhos (...). Agora que existe uma imagem persistente, uma luz muito difusa (...), uma luz láctea, uma luz imanente, uma luz muito vital (...) como se fosse um banho de leite que me mergulhasse a mim ou que mergulhasse o Universo. Uma larva branca. É a impressão que eu tenho."

"Não me arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é o que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciência e os alibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta."

José Afonso

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2 comentários:

Anónimo disse...

" Estou de cu virado p'ro poder"

naoseiquenome usar disse...

Palavras do José da GLQL:
"Os media em geral, no dia de hoje, noticiaram a efeméride dos vinte anos que passaram sobre a morte de José Afonso.
Na rádio, algumas músicas do artista, serviram de banda sonora para textos de circunstância que louvavam sem reservas a figura desaparecida do mestre cantor da revolução de Abril de 1974. Se figura houve, marcante, em termos musicais e de referência artistico-ideológica, para toda a esquerda, desde a revolucionária até à mais moderada, no dealbar do 25 de Abril, essa figura foi a de José Afonso.
Pela sua música extraordinária, no dizer de Bernardo Santareno, ( na apresentação do disco de 1970, Traz outro amigo também) de “pureza na voz, pureza no poema, pureza na música” e de “trova antiga purificada, folclore limpo de excrescências, balada de combate em que a justiça vai de bandeira”, José Afonso, conquistou um lugar altíssimo no olimpo da música nacional, porventura acima do lugar de Amália, na música popular.

E no entanto…alguns discos saídos logo após o 25 de Abril, espalhavam o panfleto revolucionário e esquerdista que não se acantonava a nenhum pcp e encontrava o melhor refúgio nos grupelhos de extrema esquerda ao luar das brigadas revolucionárias.
José Mário Branco e Fausto, com Sérgio Godinho e alguns outros a ajudar.
Na canção “chula da Póvoa” do musicalmente fantástico LP de 1974, Com as minhas Tamanquinhas, José Afonso, canta as desfeitas do capital que parte o coco e ridiculariza um Kissinger e até a social democracia “ de colarinhos à sueca, sempre muito aperaltada”, para além de vituperar o execrado “rei milhão” e aviltar um canalha incógnito que virou social democrata...
Em finais de 1974, era este o panorama que se desenvolveu em crescendo de processo revolucionário até ao 25 de Novembro do ano seguinte.
Que ideias defendia José Afonso, para o Portugal democrático? Indefinidas, mas de precisão esquerdizante e extrema
Após a derrota fragorosa dessa extrema esquerda, nesse dia de Novembro de 1975, muitos recolheram-se e afastaram-se das lides até que em 1980 ressurgiram com a força oculta de uma organização clandestina para derrubar o “rei milhão”, à força do chumbo e da bala. Em meia dúzia de anos, no entanto, a “burguesia” pôs termo à aventura, com a prisão do camarada Otelo e as FP25 de Abril, acabaram de vez com as pretensões revolucionárias dos continuadores de José Afonso, José Mário Branco e os outros que não se declarando em discurso, vão continuando a declarar-se em disco cantado, de vez em quando.

Qual a herança de José Afonso, neste panorama?
Musicalmente, a mais rica que pode haver: umas dezenas de canções riquíssimas de texto, contexto e música. Ideologicamente, a mais errada e derrotada que pode existir. Idealisticamente, porém, permanece a utopia, como herança jacente. Uma herança de anseios de acabar com os pobres e os ricos e alcançar o paraíso terreal, através de métodos já experimentados algures.
Já todos viram ( os que quiseram ver) onde conduziu tal idealismo, mas nem todos se convenceram do resultado funesto.
A homenagem ao artista, situa-se assim, neste contexto. Para muitos, um revivalismo ideológico, assolapado nos antigos ideiais nunca renegados e nunca revistos. Para outros, a memória do tempo que passa e de um grande músico que nos legou uma arte maior."

Chamem-me nomes. Não tenho melhores.