quarta-feira, janeiro 24, 2007

é impossível estar-se doente assim

..................................................................... .......... Hospital de Santa Maria ainda não EPE

Longo e vivo debate no SaúdeSa suscitaram dois Posts lá colocados sob os títulosServiço de Urgênciae “É impossível um médico trabalhar assimambos tendo como alvo um artigo de opinião publicado no Tempo Medicina da autoria do Dr.José Manuel Silva, Presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos.

Este artigo, mereceu também aqui no “que raio de saúde a nossa” o seu relevo, já que considerei o seu conteúdo bem revelador (embora particularizado a um Serviço de Urgência Hospitalar) do estado em que se encontram em termos de qualidade os serviços públicos assistenciais no campo da saúde.


Delegava o autor do artigo a responsabilidade da actual situação aquem fecha serviços de atendimento permanente nos centros de saúde sem alternativas efectivas, quem pretende encerrar serviços de Urgência sem uma reforma profunda do sistema de Saúde, quem desorganiza serviços de Urgência com a contratação de empresas de mão-de-obra médica desligada da respectiva instituição (...)"

e a esta responsabilidade se deveria associar também a responsabilidade de:
em dias de maior enchente não haver condições para observar os doentes, nem macas suficientes para os deitar! Interrogamos um doente e estão vários a escutar a conversa! Observamos outro doente e somos acompanhados pelo olhar atento de uns quantos! Queremos auscultar um coração mas o ruído de fundo parece o de uma discoteca! Necessitamos de medir a tensão arterial e temos de ir, em verdadeira gincana entre cadeiras e macas, buscar um aparelho que, muitas vezes, existe em número insuficiente! Palpamos abdómens com doentes sentados porque não há um local apropriado para os deitar! Queremos concentrar-nos nos problemas de um doente e está outro a clamar para que o despachemos! É necessária uma glicemia capilar mas, no meio da confusão, já ninguém sabe onde está a máquina! É importante administrar um medicamento ou colher sangue para análises, mas os enfermeiros estão todos sobreocupados! É preciso transportar um doente à ecografia, mas não há auxiliares disponíveis! Chega um doente grave e está outro a gritar por um urinol! Os telefones tocam por informações (por vezes, sobre o mesmo doente, são inúmeros telefonemas!) ao mesmo tempo que os doentes (os que falam) solicitam assistência! Tão depressa um doente está em risco de aspirar um vómito quanto é necessário acorrer a um doente desorientado à beira de se atirar da maca abaixo!

Era este, um desabafo dum profissional da saúde.

Consideraram vários comentadores do SaúdeSa, tratar-se dum “texto demagógico, de baixa política, com um final (a desresponsabilizar-se) bacoco”… “Estou admirado pela importância que lhe estão a dar“(joãopedro)
“o arrazoado crítico de JMS nem sequer se atreve a dizer qual o problema” (semmesericordia)

Outros, que:

“não é só o Governo, o primeiro ministro, o ministro da saúde, a AR... que têm de fazer e serem responsabilizados. Não! É o Presidente do CA, o director do CS, os Directores de Departamento e de serviço... cada um ao seu nível e de acordo com as suas competências” (NSQNU)

Comentei eu que:

estes factos são tão conhecidos dos doentes, dos médicos, dos enfermeiros, dos técnicos superiores e dos MCD, dos auxiliares de acção médica e também das Administrações Hospitalares e Regionais e do Ministério da Saúde”
“Mas para que os “deveres” possam ser exigidos pelo Estado tem o Estado também que velar por que os direitos estejam assegurados. O direito à “organização do trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal" (…) "à prestação do trabalho em condições de higiene, segurança e saúde" (CRP
)

E outros que:

“Para mim ele (o artigo) é claro como água cristalina: denuncia a situação existente na Urgência de alguns hospitais, a partir do que se verifica nos HUC, em relação com as deficientes condições físicas de trabalho dos profissionais, tornando difícil um atendimento de qualidade.” (Tonitosa)

Vale a pena voltar a ler o artigo de JMS assim como os Posts e comentários no Saúde SA, porque ao ler o desabafo, não dum profissional da saúde mas dum familiar dum doente internado no Hospital de Santa Maria, EPE (Correio da Manhã) fez-me pensar que afinal nem tudo está bem neste Hospital EPE que tantos elogios recebeu de CC como exemplo a seguir de uma boa gestão (relembro o Post anterior aqui no que raio de saúde a nossa”)

Constatações e lamentações semelhantes sucedem em muitos serviços públicos entre os quais os da Saúde estão incluídos, mas…

Será que estas anomalias são do conhecimento dos responsáveis máximos da instituição?

O Serviço de Cirurgia 1 do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, apresenta um estado de degradação avançado que choca doentes e familiares. Exemplos saltam à vista: sanitários – quer para os doentes quer para as visitas – com lavatórios escurecidos e tubagens enferrujadas, manchas de humidade a escorrer por paredes sem caliça, chão esburacado. A degradação das instalações põe em causa a higiene e a desinfecção indispensáveis, sobretudo numa unidade de saúde”

“Aquele serviço parece próprio de um país do terceiro mundo e não da União Europeia”

“o pavimento de corticite já não existe, é apenas uma área esburacada e as paredes estão a cair aos bocados”

“a janela de um dos quartos daquele serviço apresentava gretas tão grandes, por onde passava o frio, que foi necessário calafetá-la com um lençol, colado com adesivos”.

Etc, etc.

Do conhecimento dos doentes, dos familiares e dos profissionais que lá trabalham são-no. Incusivé do Presidente do CA do Hospital de Santa Maria, EPE, que terá dito:

“Não adianta escamoteá-lo. As pessoas têm razão ao queixarem-se. É verdade que alguns sectores estão a precisar de obras de remodelação, incluindo o Serviço de Cirurgia 1. As intervenções estão previstas para daqui a dois ou três meses.”
E que:
Algumas zonas do hospital “nunca tiveram obras antes de esta administração tomar posse, o que aconteceu há ano e meio”. A falta de obras de remodelação foi justificada pelo actual administrador por “falta de verbas”
. (Adalberto Fernandes)

Boa gestão… quando, ao fim de um ano, se obtem um lucro global de 4,7 milhões de Euros...


.

5 comentários:

naoseiquenome usar disse...

Seria certamente, então, melhor gestão, caso tivesse prejuízo e as obras necessárias há décadas, continuassem por fazer.... :)
...
Ou,
fechar de vez o maior Hospital do País e fazer Hospitais de campanha, sei lá.

Neste particular, não lhe pare uma crítica demasiado fácil?

sorry

J.F disse...

Melhor gestão, para mim, seria ter melhorado as condições de estadia dos doentes, manter a qualidade e motivação dos profissionais e não se ter vangloriado com "lucros de milhões"

Melhor gestão seria ter aplicado, faseadamente, os dividendos dos lucros que diz ter obtido, sem pôr em causa a laboração normal da instituição que dirije.

Ou será que os 4,7 milhões de Euros "num depósito a prazo" rendem mais que a satisfação dos doentes? :):)

naoseiquenome usar disse...

:)
J.F:

Os LUCROS foram ap0urados para o exercício que findou!
Parece-lhe que já podiam ter sido aplicados nas obras?
(...e.... mesmo todos todos aplicadinhos ao cêntimo nas obras necessárias, prorizando e por isso descurando as demais vertentes, que parte do hospital se remodela com tal quantia?)
ai...

Filipe Tourais disse...

Quanto pior, melhor. Quanto piores se virem as unidades do SNS, ante o "ai, isto no privado não acontecia", mais fácil será o seu desmantelamento.
As condições que enuncia não são únicas. Basta vir a Coimbra, ao CHC, e constatar por exemplo, que o elevador que serve para transportar os doentes é o mesmo onde se transporta o lixo ou que há quartos em que as paredes não vão até ao tecto, a construção é arte nova.

Anónimo disse...

Convido os interessados a visitar os sanitários, para doentes e visitas, da generalidade das enfermarias de Medicina e Cirurgia do H São João.
Mais um exemplo de gestão topo de gama, com vencimentos chorudos a uma multidão de gestores recémlicenciados que vão decorando gabinetes a abarrotar.
Tudo bons rapazes.