quarta-feira, janeiro 10, 2007

o trabalho nos Serviços de Urgência


Sob o título “É impossível trabalhar assim !” no Médico Explica Medicina a Intelectuais é apresentado um Post com a transcrição dum artigo publicado no Tempo Medicina assinado pelo Prof. José Manuel Silva (Presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos).

O autor do Blog não faz qualquer tipo de comentários.

E fá-lo bem, porque a evidência dos factos que nele são relatados (que ocorrem no SU dos HUC como em qualquer outro SU dos Hospitais do país) ocorridos num qualquer dia do mês de Dezembro, de Agosto ou do ano, são tão conhecidos dos doentes, dos médicos, dos enfermeiros, dos técnicos superiores e dos MCD, dos auxiliares de acção médica e também das Administrações Hospitalares e Regionais e do Ministério da Saúde, que dizer mais seria difícil.

Refere-se o autor do artigo às condições técnicas e humanas em que os profissionais da saúde ( em particular os médicos) actuam nos Serviços de Urgência Hospitalares.

E os comentários também estão bem explícitos no artigo em questão:

“Quem fecha serviços de atendimento permanente nos centros de saúde sem alternativas efectivas, quem pretende encerrar serviços de Urgência sem uma reforma profunda do sistema de Saúde, quem desorganiza serviços de Urgência com a contratação de empresas de mão-de-obra médica desligada da respectiva instituição, quem não cuida de criar mecanismos de assistência aos idosos que dispensem o recurso sistemático à Urgência hospitalar, quem não investe a sério em verdadeiros cuidados paliativos, quem se preocupa mais com o orçamento do que com os doentes, quem não tem conhecimento suficiente para introduzir reformais racionais e não racionamento cego, quem não dimensiona os recursos técnicos e humanos de forma dinâmica em função das necessidades, quem não resolve os constrangimentos ao fluxo de doentes, quem concede populares tolerâncias de ponto sem cuidar de mecanismos de compensação e rotatividade (só para as greves é necessário assegurar serviços mínimos?), etc., etc., etc., quem governa deficientemente que assuma integralmente as suas responsabilidades!”

Vale a pena ler na íntegra este excelente artigo em “Médico Explica Medicina a Intelectuais”.
Parabéns ao autor do Artigo e do Blog.
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3 comentários:

naoseiquenome usar disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
naoseiquenome usar disse...

" (...) quem governa deficientemente que assuma integralmente as suas responsabilidades!”

Quanto pano para quantas mangas!!!!

Como já disse noutro sítio, muito gostamos nós de nos reconduzir ao "sistema" e, sobretudo, de alijar as nossas próprias responsabilidades!
... Não, não que não se saiba que há vários níveis de responsabilidade e de gestão!
... Não, não que não se saiba que existem as funções do estado, as funções da instituição e as funções dos indivíduos (no caso profissionais e doentes incluídos)!
Não, nada disso, isso sabe-se.
O pior é fazer!
Mas,
na senda de Deming, talvez seja melhor começar a pensar que não é só o Governo, o primeiro ministro, o ministro da saúde, a AR... que têm de fazer e ser responsabilizados. Não! É o Presidsente do CA, o director do CS, os Directores de Departamento e de serviço... cada um ao seu nível e de acordo com as suas competências!
Porque, sim(!) as competências existem, as atribuições também, mas é ver quem mais foge à sua efectivação.
Na legislação existente estão consagrados os seguintes princípios (entre outros) norteadores de uma boa gestão em saúde:
- controlo na utilização dos recursos;
- Financiamento em função do acto médico;
- Gestão previsional;
- Utilização plena da capacidade instalada;
- Sistema de avaliação de desempenho;
- Poderes de Direcção do Director de Serviço e de Departamento;
- Responsabilização pelo não cumprimento de objectivos.

...

O que te faltado afinal? ... Diria que... liderança e mérito.

E sim, também, a "educação" dos nossos utentes/doentes (sem esquecer a dos profissionais), que são na UE dos que mais recorrem ao médico e têm menor saúde!

É preciso, como também disse Deming, planear, fazer, controlar e agir.

As organizações de saúde e as pessoas que nelas trabalham, têm de desenvolver uma dinâmica de aprendizagem e inovação e, têm de começar por ter capacidade de adaptação às mudanças registadas e às transformações futuras.

Para tanto, lá vem ... a liderança... há que prestar contas e avaliar resultados.
E, nisto, os dirigentes, todos (e não só o Ministro) têm um papel fundamental na coordenação do processo!



É quase do domínio da filosofia saber se cada um de nós é realmente o que pensa que é, ou, se pelo contrário, é aquilo que outros pensam que é!

J.F disse...

(...) quem governa deficientemente que assuma integralmente as suas responsabilidades!”

É a esta frase transcrita do excelente artigo (também por mim considerado), publicado na revista Tempo Medicina e assinado pelo Presidente da ARC da Ordem dos Médicos, que “naoseiquenome usar” dá a sua particular atenção e tece os seus comentários e extrapolações no que às “responsabilidades do cidadão, do doente, do funcionário de base, das chefias intermédias e superiores diz respeito.

Excelente teorização aqui nos é apresentada, sem dúvida alguma, no pressuposto de que a sociedade, na sua globalidade (o Estado) é responsável pelos actos que essa mesma sociedade pratica. E é-o para o bem e para o mal.

Mas para que os “deveres” possam ser exigidos pelo Estado tem o Estado também que velar por que os direitos estejam assegurados.
O direito à “organização do trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal" (…) "à prestação do trabalho em condições de higiene, segurança e saúde" (CRP).

O Estado não é o Governo ou o “sistema”. Somos todos nós efectivamente, quer queiramos quer não.

Mas “Quem fecha serviços de atendimento permanente, quem pretende encerrar serviços de Urgência sem alternativas efectivas, quem não cuida de criar mecanismos de assistência aos idosos, quem se preocupa mais com o orçamento do que com os doentes”, etc, etc, referenciados no artigo, não são os doentes, os médicos, os enfermeiros, os DS ou os CA dos HH.

Estas determinações havidas sem o cumprimento do conceito atribuído a Deming e a que “naoseiquenome usar” também se refere: “ planear, fazer, controlar e agir” emanam do Ministério da Saúde.

É a ele, sendo assim, que os profissionais devem delegar as responsabilidades pelas “consequências negativas e desnecessários riscos e prejuízos para os doentes” decorrentes destas determinações, que apesar dos esforços, da dedicação e da carolice de muitos e dos “remendos” de última hora, não conseguirem evitar.