quarta-feira, janeiro 10, 2007

doutores médicos/doutores enfermeiros


Que dizer a este comentário que um “doutorenfermeiro” colocou num post no SaudeSA a propósito da proposta de formação duma Plataforma de defesa do SNS, quando se referia aos médicos “que em pleno século XXI, se acham reis e senhores de tudo”?

Numa classe que faz da escassez de profissionais a sua arma de arremesso, formar mais médicos, abrir mais faculdades, e inundar o país de profissionais seria uma boa forma de regular e equilibrar o mercado, estimulando a competição e a fluidez laboral, acabando definitivamente com todos os problemas. E que ninguém duvide que quase todos os problemas têm a sua raiz primária nesse ponto: a falta de médicos. Nos países onde não existe falta de médicos, ninguém levanta poeira, pois a porta da rua está sempre aberta.

Os médicos até se tornam ridículos nas suas argumentações desesperadas, como aquela acerca do recente episódio no Pedro Hispano, em que referiam que encostar o dedo num vidro diminuiria a sua produtividade. Às vezes pergunto-me, será que a estupidez desce pelos estetoscópios ou já nascem assim?

Cada um que responda como quiser, mas foi assim que respondi:

Não será com propostas de “formar mais médicos, abrir mais faculdades, e inundar o o país de profissionais” nem tão pouco com respostas a perguntas do género “será que a estupidez desce pelos estetoscópios ou já nascem assim?” que o problema da classe médica (dita corporativa) deve ser analisado e “tratado”.

Os médicos, como qualquer outro grupo profissional da saúde são imprescindíveis também, num qualquer Serviço Nacional de Saúde.

Apontar os “erros” do passado (dum corporativismo de classe) e do presente (do salve-se quem puder portanto já não tão corporativista) à classe médica na sua generalidade é errado, porquanto os valores que transparecem para a opinião pública são os valores vinculados por quem pretende perpetuar esses mesmos erros enquanto fomentadores de privilégios injustificados nos dias de hoje.

Com a instituição das Carreira Médicas, na década de 80, deu-se o início à transformação duma medicina “individualizada e personalizada” para um acto médico “mais colectivo e mais intersectorial” que fez mudar muito as mentalidades dos médicos actuais mas que infelizmente se vem perdendo.

A muitas reivindicações dos médicos há que dar ouvidos (a outras não), assim como às dos enfermeiros, e dos restantes profissionais da saúde, ou não fossem todos funcionários públicos enquanto trabalhadores do SNS.

Umas mais prioritárias que outras. Mas por certo muitas delas justas.

É este espírito “do colectivo” (que ainda existe) que é necessário fomentar.

Colectivo não só de classe mas “inter-classes” em que todos os profissionais da saúde são participantes no acto de tratar ou de realizar a profilaxia em Saúde.

Só com este espírito de forte unidade entre todos os sectores conseguiremos defender o nosso SNS, deixando as críticas não construtivas à generalidade duma classe que fazem transparecer um objectivo bem claro:

O de conseguir para si (ser individual), o protagonismo e os privilégios de classe que pretende serem retirados a outra classe.

Assim não…"



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3 comentários:

Peliteiro disse...

Apoiado. Muito bem.

Vladimiro Jorge Silva disse...

Excelente resposta, caro JF! No entanto, devo dizer-lhe que no passado já tive a infelicidade de entrar em debate com o "doutorenfermeiro" e a conclusão foi a mesma que o tom do comentário inicial indicia: há pessoas que usam os blogues apenas para destilar as frustrações do seu triste dia-a-dia, utilizando o anonimato como cobertura para ataques que nunca teriam coragem para fazer de cara destapada. É na pequenez de espíritos como o do "doutorenfermeiro" que germinam grande parte dos problemas do SNS!

Doutor Enfermeiro disse...

Meu caro, aceito o seu comentário com toda a naturalidade e até com uma certa esperança em ver o "espírito de grupo" que refere ser necessário fomentar, em pleno hos hospitais e instituições afins.

Em relação ao sr. VJS, que vejo ser um homem atormentado (sem que eu consiga perceber qual o motivo), se um dia o sr. perceber o que REALMENTE se passa dentro do SNS estou disposto a conversar consigo, porque o sistema de saúde português é um "pouquinho" maior e mais atribulado do que o seu pequenino "espaço-comercial-farmacêutico", meu caro.

De resto, deixe-me só aqui reproduzir o seu comentário: "há pessoas que usam os blogues apenas para destilar as frustrações do seu triste dia-a-dia"(...). Pois há meu caro, veja o seu blog com "olhos de ver".