quinta-feira, janeiro 31, 2008

o Serviço de Urgência de Fafe


Ainda se ouvem, na blogosfera, alguns ecos da exoneração de Correia de Campos e do que Ana Jorge poderá vir a fazer, de diferente, no Ministério da Saúde.

Mas, assim como “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”, também (não digo “nunca”), “difícil” será de endireitar muitas das coisas que foram “entortadas” pela política do exonerado Ministro da Saúde e sua equipa…

Refiro-me em particular ao Serviço de Urgência da Unidade de Fafe do Centro Hospitalar do Alto Ave, condenado a ser encerrado pela Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências (CTAPRU) em Janeiro de 2007 e posteriormente proposto para ser reconvertido em SUB através de um protocolo assinado com a autarquia de Fafe, em Março de 2007.

Até a sua inauguração como SUB, esteve já prevista para o dia 25 de Abril de 2007…!!!

Mas não terá havido coragem política para tal fazer.

Por um lado, pelo excelente trabalho que os profissionais de todos os sectores, desde 1990, oferecem aos doentes que recorrem a este Serviço de Urgência nas especialidades de Medicina Interna, Ortopedia e Cirurgia, e por outro, pela elevada afluência diária de doentes que actualmente se verifica (cerca de 140 atendimentos), malgrado os esforços entretanto desenvolvidos pela ARS do Norte para a sua redução, através de indicações dadas ao CA do CHAA para se proceder ao encaminhamento administrativo de doentes triados como “azuis”, para os CS e USF, e aos Directores dos CS de Fafe, Cabeceiras e Celorico de Basto no sentido de referenciarem os doentes destes concelhos, directamente para o SU da Unidade de Guimarães), com a clara intenção de assim conseguirem o esvaziamento deste Serviço de Urgência, quiçá até, conseguido esse objectivo, assim dar razão à proposta da CTAPRU, do desnecessário que seria de em Fafe “existir” qualquer tipo de Serviço de Urgência.

E agora o que se passa?

Arrisca-se a ARS do Norte a ter que contrariar as palavras de José Sócrates proferidas aquando da tomada de posse da nova Ministra da Saúde: “Não encerraremos mais urgências antes de existirem alternativas.”

É que, se com um quadro médico de Medicina Interna extremamente reduzido (4), já grandes dificuldades existiam para assegurar a presença de um Internista durante 24 horas ao longo da semana (colmatando estas dificuldades com a contratação de médicos tarefeiros, externos ao Centro Hospitalar, alguns deles sem a competência técnico-profissional exigida), a partir do dia 1 de Fevereiro deste ano, com a dispensa de realização de Serviço de Urgência de dois Internistas do quadro (por razões de idade), a situação tornou-se agora insustentável ao ponto de a única solução parecer vir a ser a do encerramento do SU com as tês especialidades (Medicina, Ortopedia e Cirurgia) a nele prestarem serviço, e a sua transformação num SUB.
Um Serviço que mais não será que um SAP com apoio de laboratório de análises e de RX (ou não soubéssemos nós, que qualidade de serviços irão prestar 2 médicos indiferenciados, nestes apelidados Serviços de “Urgência” Básicos).

Não terá sido por falta de avisos atempados por parte dos Directores de Serviço da Unidade de Fafe, que o CA do CHAA e a ARS do Norte foram apanhados de surpresa, já que através de vários documentos e de reuniões havidas, desde Março de 2007, os avisavam para esta eventualidade.

E o que fez (e ainda faz), o Conselho de Administração do CHAA?

Nada…
Não fecha as portas a novas contratações, não!
Mas propõe, ainda nos dias de hoje, aos vários Internistas que vão aparecendo, contratos de vencimento “chorudos”, substancialmente inferiores aos oferecidos pelos HH EPE vizinhos (Vale de Sousa e CH do Médio Ave) que assim, preferencialmente, vão garantindo o seu futuro como Centros Hospitalares em termos de criação de novas valências e de um assegurar, com qualidade, dos serviços essenciais que lhe são exigidos.

Demarca-se o CA do CHAA da responsabilidade de assegurar a continuidade da prestação de cuidados de Urgência na “sua Unidade” da cidade de Fafe (que a ele competia, como Unidade do CH), fazendo com que a ARS do Norte, a partir de Outubro de 2007, tomasse nas suas mãos a resolução do problema do SU de Fafe, sem que até à data, nada de diferente esta tivesse proposto que não fosse o alheamento e a falta de atenção para com uma população de cerca de 120.000 habitantes que são encaminhados, desde 1990, para o SU de Fafe.

Surpresa terá sido para ARS do Norte a exoneração, nesta altura, do Ministro Correia de Campos, que a título de crítica da sua actuação motivaram as palavras do senhor Primeiro Ministro, de que não iriam ser encerrados mais Serviços de Urgência, sem que alternativas não tenham sido previamente asseguradas.

Mas quando este SU de Fafe corre o sério risco de a partir do dia 6 de Fevereiro encerrar por falta de Internistas, não só as alternativas aos 140 doentes que diariamente são observados no SU foram asseguradas, como também assegurado não está o apoio permanente e diário, desta especialidade médica imprescindível, aos mais de 100 doentes internados nos serviços de Medicina, Cirurgia e Ortopedia da Unidade de Fafe do CHAA.

E muito têm feito os profissionais médicos da Unidade para que isto não viesse a suceder…

E hoje, 31 de Janeiro, os profissionais da Unidade de Fafe, os doentes e a população que dela tem tido assistência, ainda aguardam, do CHAA e da ARS do Norte, o que esta política, deste governo dito socialista, estão a preparar para lhes “oferecer”.

Retrato triste dum SNS que a tantos orgulhou, mas que com a esperança de mudança, a muitos como eu, ainda continuará (estou certo) a orgulhar!
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Mas se dúvidas ou certezas existirem aqui poderão ser encontradas..
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