Num regresso à dita civilização do século XXI, em plena era de desenvolvimento tecnológico com bandas largas à velocidade de 128 Kbps (qual máquina a vapor dos inícios do XVIII cuja agora rusticidade e originalidade para o turismo é considerado um bem), não resisti, com a desesperante lentidão actual da minha ligação à Internet, a aqui transcrever o que um médico - Dr. Mário Silva Moura - escreveu e que o Médico de Família publicou.
"Nos anos 40, na Universidade, enquanto dirigente académico, fui incomodado pela polícia política do regime vigente por querer ”construir“ algo do interesse para os estudantes, em Coimbra.
Vivi a ansiedade e o medo, porque não dizê-lo, da possível prisão do meu pai, empregado dos CTT, por colaborar durante a guerra com uma rede de informações para os aliados, antinazis.
Em Setúbal, antes do 25 de Abril, fui director de um jornal durante dez anos e vivi as agruras da censura política, todas as semanas.
Levei meses para conseguir um passaporte, devido a problemas vindos da tal polícia política; esperei meses a fio para ser nomeado para um cargo dirigente dos Serviços Médico/Sociais das Caixas de Previdência, porque não chegava ”o sim“ da tal polícia; fui várias vezes acusado, sem o saber, por opiniões manifestadas em reuniões e palestras – aí as acusações eram feitas por gente ”importante“ das elites da cidade (como vim a saber mais tarde pela Comissão de desmantelamento da PIDE).
Lembro com saudade o Zeca Afonso a pedir dinheiro para a defesa dos presos políticos, pedidos que tinham de ser feitos enquanto se passeava, porque os cafés… tinham ouvidos.
Recordo como uns ”senhores de negro“ tiravam as matrículas dos carros das pessoas que se reuniam numa escola de ”apostolado religioso“.
Recordo (e não queria recordar!) como tive de interromper, por ordem da tal polícia, reuniões de esclarecimento sobre perigos laborais, numa fábrica onde era médico do trabalho...
Confesso que não queria recordar, como durante os meses próximos das eleições em que participou Humberto Delgado, eu esperava, quando a campainha de casa tocava, ver surgir, em vez de uma chamada para um doente, a Polícia de Defesa do Estado.
Não queria recordar tudo isto, mas pequenos acontecimentos, que desde há umas semanas a esta parte tem sido dados à estampa nos jornais, anunciando demissões, processos disciplinares, aberturas de correspondências, quase sempre com origem em delações, ”arrancaram“ dos recônditos da minha memória tais acontecimentos.
Sinto no ar a iminência das censuras, dos ouvidos indiscretos, das prepotências de chefes de ”meia tigela“, de silêncios e até de apoios dos chefes ”de topo“. E certamente fruto da minha idade e vivências doutros tempos, confesso que tenho andado alvoroçado e... desgostoso com quem nos governa. Por ”embarcarem“ nestas denúncias que deviam, ao invés de dar lugar a processos, dar antes azo a castigos e correcções dos (como lhes hei-de eu chamar se não ”bufos“?) denunciantes.
Será que não vêem que com essas atitudes levantam velhos medos e só prejudicam a sua credibilidade democrática? "
Depois de saber que no caso do Professor Charrua "a aplicação de uma sanção disciplinar poderia configurar uma limitação do direito de opinião e de crítica política, naturalmente inaceitável", fiquei mais sossegado e assim sendo não vou por agora fazer comentários jocosos ou dizer mal do meu superior hierárquico, mas sim só da Portugal Telecom (PT) que, como detentora absoluta da rede fixa de telecomunicações, ela sim parece andar a brincar com o Primeiro Ministro, com todos os Ministros do seu Governo e comigo também.
"Nos anos 40, na Universidade, enquanto dirigente académico, fui incomodado pela polícia política do regime vigente por querer ”construir“ algo do interesse para os estudantes, em Coimbra.
Vivi a ansiedade e o medo, porque não dizê-lo, da possível prisão do meu pai, empregado dos CTT, por colaborar durante a guerra com uma rede de informações para os aliados, antinazis.
Em Setúbal, antes do 25 de Abril, fui director de um jornal durante dez anos e vivi as agruras da censura política, todas as semanas.
Levei meses para conseguir um passaporte, devido a problemas vindos da tal polícia política; esperei meses a fio para ser nomeado para um cargo dirigente dos Serviços Médico/Sociais das Caixas de Previdência, porque não chegava ”o sim“ da tal polícia; fui várias vezes acusado, sem o saber, por opiniões manifestadas em reuniões e palestras – aí as acusações eram feitas por gente ”importante“ das elites da cidade (como vim a saber mais tarde pela Comissão de desmantelamento da PIDE).
Lembro com saudade o Zeca Afonso a pedir dinheiro para a defesa dos presos políticos, pedidos que tinham de ser feitos enquanto se passeava, porque os cafés… tinham ouvidos.
Recordo como uns ”senhores de negro“ tiravam as matrículas dos carros das pessoas que se reuniam numa escola de ”apostolado religioso“.
Recordo (e não queria recordar!) como tive de interromper, por ordem da tal polícia, reuniões de esclarecimento sobre perigos laborais, numa fábrica onde era médico do trabalho...
Confesso que não queria recordar, como durante os meses próximos das eleições em que participou Humberto Delgado, eu esperava, quando a campainha de casa tocava, ver surgir, em vez de uma chamada para um doente, a Polícia de Defesa do Estado.
Não queria recordar tudo isto, mas pequenos acontecimentos, que desde há umas semanas a esta parte tem sido dados à estampa nos jornais, anunciando demissões, processos disciplinares, aberturas de correspondências, quase sempre com origem em delações, ”arrancaram“ dos recônditos da minha memória tais acontecimentos.
Sinto no ar a iminência das censuras, dos ouvidos indiscretos, das prepotências de chefes de ”meia tigela“, de silêncios e até de apoios dos chefes ”de topo“. E certamente fruto da minha idade e vivências doutros tempos, confesso que tenho andado alvoroçado e... desgostoso com quem nos governa. Por ”embarcarem“ nestas denúncias que deviam, ao invés de dar lugar a processos, dar antes azo a castigos e correcções dos (como lhes hei-de eu chamar se não ”bufos“?) denunciantes.
Será que não vêem que com essas atitudes levantam velhos medos e só prejudicam a sua credibilidade democrática? "
Depois de saber que no caso do Professor Charrua "a aplicação de uma sanção disciplinar poderia configurar uma limitação do direito de opinião e de crítica política, naturalmente inaceitável", fiquei mais sossegado e assim sendo não vou por agora fazer comentários jocosos ou dizer mal do meu superior hierárquico, mas sim só da Portugal Telecom (PT) que, como detentora absoluta da rede fixa de telecomunicações, ela sim parece andar a brincar com o Primeiro Ministro, com todos os Ministros do seu Governo e comigo também.
Ou será a esta “Banda Larga” que o Primeiro Ministro se refere e com a qual Correia de Campos vai ter que lidar para implantar as tão necessárias Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) nos Hospitais e demais serviços de saúde?
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1 comentário:
Ó JF, está mesmo irritado com a PT.
Vá, vamos ser mais tolerantes:) Aguarde pelo menos até meados de Setembro.Talvez o técnico de serviço se tenha ausentado para férias.:)))
Beijo e continuação de boas férias!
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