quinta-feira, junho 07, 2007

em período de férias de Correia de Campos


Um estudo realizado pelo Gabinete do Ministro da Saúde sobre o “encerramento de SAP no período nocturno e o seu eventual impacto nas Urgências Hospitalares”, divulgado nos finais de Maio no Portal da Saúde, conclui ter havido uma redução de 3,6 para 1,5% do número de atendimentos urgentes hospitalares quando comparados os anos de 2005 e 2006.
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Da mesma forma conclui que no período de crónico de aparecimento de surtos gripais, avaliados os dados destes dois últimos anos, o encerramento nocturno de SAP em nada terá contribuído para um aumento da procura dos Serviços de Urgência Hospitalares por parte dos doentes pese embora ter havido um aumento de procura neste período, quando comparado com igual período anterior. (resta saber o porquê de idêntica subida não se ter verificado na procura dos CSP).
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Fundamentam-se os autores deste trabalho, para a esta conclusão chegar, numa análise estatística limitada e fria (com objectivos predefinidos e como tal sem valor científico) dos números referentes ao grupo populacional das freguesias afectadas pelo encerramento nocturno de SAP que não terá sido a que mais contribuiu para um confesso aumento da afluência de doentes aos SU Hospitalares neste último período de surto gripal (que às vezes era, outras vezes não foi).

Porque este relatório particular atenção deu à zona Centro e em especial às implicações que parece não terem existido nos SU do Centro Hospitalar de Coimbra e dos Hospitais da Universidade de Coimbra devidas ao encerramento dos SAP da região (ficando por explicar o porquê de terem aumentado o número de atendimentos) o Professor José Manuel Silva, presidente da SRC da Ordem dos Médicos escreveu o seguinte:

"Para grande satisfação dos seus responsáveis, um estudo do MS concluiu que encerrar SAP não teve reflexos lineares nas Urgências hospitalares. É interessante o adjectivo «lineares», o que significa que o MS reconhece que houve reflexos, só que não foram «lineares» (… )
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Pasme-se, as conclusões do referido relatório baseiam-se em dados que não são disponibilizados online e não é possível perceber se a análise da origem nocturna dos doentes que recorreram aos HUC e CHC foi feita por freguesia ou por concelho, o que faz muita diferença! Por outro lado, em termos estatísticos, as médias mensais fornecem uma informação limitada!

Apesar de reconhecer que a procura aumentou generalizadamente no final de 2006 relativamente a 2005, a única preocupação do relatório foi afirmar que «a ideia, mais simplista e redutora, de que o encerramento de SAP no período nocturno causa forte impacte, mensurável, na procura de Urgências hospitalares, não foi validada pelos dados apresentados». Todos os outros pontos que necessitavam de avaliação e diagnóstico, como o inusitado aumento da procura das Urgências, esta sim, uma questão ponderosa, foram completamente ignorados! Nem uma palavra! Para não ser demasiado antipático, digamos apenas que foi uma conclusão «simplista e redutora»(…)

Que enorme confusão grassa no MS com as infecções virais do tracto respiratório!

Depois de o MS ter passado o Inverno a afirmar que não havia epidemia de gripe, agora o relatório vem justificar o enorme afluxo às Urgências hospitalares com a epidemia de gripe do fim de 2006, princípio de 2007! Curioso é que no Diário Digital de 8-2-07, o mesmo MS afirmou que «a actividade gripal em Portugal não está a ser mais intensa do que em anos anteriores»!

Particularmente interessante este parágrafo do Público, de 9-2-07: «Considerado preocupante é o facto de as consultas nos centros de saúde - que deveriam ser a principal porta de entrada para o tratamento de “gripes triviais” - não ter registado uma subida tão grande como nos hospitais. (...)

Para fugir à questão das gripes e vírus quejandos, analisemos os dados referentes aos meses de Novembro, antes dos «surtos» de gripe, comparando 2006 com 2005, ou seja, depois e antes dos encerramentos: os aumentos foram de 8,3% nos HUC, 15,5% no CHC, 1,5% na Figueira da Foz, 12,6% em Beja, 16,7% no Barlavento Algarvio, 6,4% em Vila Franca de Xira, 10,7% em Aveiro, 9,8% em Viseu, 14,7% na Guarda, 2% na Feira, 7,6% em Évora, 13% em Leiria. Vistos assim, os números são impressionantes, não são? E para isto, o gabinete do MS nem sequer tem tentativas de interpretação?(…)

Mas, independentemente de todas estas questões e da atabalhoada e simplista tentativa de branqueamento da realidade, o mais importante era que se fizesse uma análise rigorosa das razões que levam ao entupimento das Urgências hospitalares nos períodos de maior procura, uma factualidade indesmentível, a fim de procurar as soluções mais adequadas para este grave problema, impossível de resolver sem a bendita reforma dos CSP. Fica o desafio para o gabinete do MS." link

Poderá ser este assunto também (entre muitos outros) um bom tema para Correia de Campos reflectir durante estas suas curtas férias. E quando delas regressar que se lembre de nomear uma equipa de peritos independentes para proceder a uma análise mais completa e menos comprometida dos dados assistenciais existentes, no que a este sector da saúde diz respeito.
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