Poderá alguém explicar o inexplicável?
Como é que a “possibilidade de comprometer a isenção e imparcialidade com risco de prejuízo para o interesse público” deixa de existir ou é atenuada com a redução do horário semanal de 35 para 20 horas?
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É evidente que o médico (com ou sem funções de direcção em instituição privada ou no SNS) que tenciona “desviar” o doente do SNS para a sua clínica privada para a realização de MCD ou tratamentos com argumentos de listas de espera longas, facilidade de acompanhamento de familiares, “sigilidade” do acto terapêutico, comparticipações/convenções, etc., fá-lo-á quer detenha cargos de chefia ou não, quer tenha um horário semanal de 35 ou 20 horas.
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Do mesmo modo nada o impedirá de continuar a utilizar o SNS (onde continua a trabalhar) para dar resposta, nas mesmas situações, às dificuldades que ele ou os seus doentes possam ter para a resolução do seu problema de saúde.
Dá-se particular relevo ao “desvio” do doente do sector público para o privado mas o sentido inverso também deve ser considerado.
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E é este aspecto que justifica o “apego em se manterem laboralmente ligados” ao SNS dos que tanto criticam a capacidade e a qualidade do SNS e os baixos vencimentos que nele auferem.
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Dá jeito ter a reforma e a segurança social asseguradas para uma eventualidade. Dá jeito "experimentar" novas técnicas ou aprender a realizá-las no SNS para depois as aplicar nas instituições privadas, agora com maior segurança.
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Dá jeito, ter a possibilidade de solicitar MCD, realizar pequenas intervenções medico/cirúrgicas, pedir apoio institucional de outras especialidades, realizar intervenções de maior dificuldade/complexidade (consequência ou não de insucessos privados), quando a onerosidade para o doente privado ou o risco de “não correr bem” a intervenção, estão em causa. .
E existe sempre maneira, por estar dentro do sistema, de ultrapassar as dificuldades e a burocracia organizacional.
Daí que só se possa entender esta inflexão de CC por medo de ameaças de “Não o vamos tolerar. Se escolher ir por aí, não vai longe” por parte de quem pretende perpetuar esta situação de promiscuidade.
Felizmente uma minoria mas que transformará em maioria (de facto) se continuar a existir por parte do MS uma política de menosprezo do SNS, uma ausência de dignificação das carreiras dos profissionais de saúde e em particular uma subvalorização do acto médico em termos de qualidade e remuneração que desobrigue os médicos a procurar um 2º emprego, a recorrer a horas extraordinárias e a trabalho noutras instituições do SNS para “compor “ o seu vencimento.
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Dignifiquem-se as carreiras médicas, dos técnicos superiores e de enfermagem e impeça-se o pluriemprego que a promiscuidade e o risco de prejuízo para o interesse público acabarão e a produtividade e a qualidade no SNS irão aumentar.
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2 comentários:
(excelente ilustração a do texto):)
Exactamente. Subscrevo na totalidade.
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