terça-feira, dezembro 05, 2006

sobre a suspeição (ou realidade) da selecção de doentes pelo SNS


O Diário de Notícias de hoje está de parabéns.
Muitos dos post publicados em blogs sobre a saúde, fazem referência a um artigo de opinião de Helena Garrido editado no DN de hoje.

A Directora Adjunta deste jornal, duma forma extremamente clara e realista aponta alguns dos riscos que corre o SNS com a orientação que está a ser dada pelo actual Ministério da Saúde de Correia Campos, na sequência do de Luís Filipe Pereira.
Apesar do desmentido do Ministério da Saúde que segundo informou vai proceder à recolha de informações sobre a veracidade da afirmação do presidente da Entidade Reguladora da Saúde sobre a suspeita de recusa de tratamento de alguns doentes do SNS pelos HH públicos, não resisto também aqui de prestar a merecida homenagem à jornalista Helena Garrido por tão excelente texto.

"Na série televisiva Dr. House há uns episódios em que a clínica recebe uma generosa injecção de capital de um empresário que obviamente se impõe como presidente da administração. O hospital passa a ser gerido com critérios puramente financeiros. Depois de várias peripécias, o empresário vai-se embora e leva o dinheiro consigo. Tudo regressa à normalidade, gastando-se o que for preciso para salvar uma vida.

Não se explica como se passa a pagar as facturas.Na realidade é preciso ter quem pague as facturas.
Mas quando se impõem critérios apenas financeiros nos hospitais o resultado é, obviamente, a degradação dos serviços de saúde.

Quando, em 2002, o então ministro da Saúde Luís Filipe Pereira começou a concretizar o modelo dos hospitais com gestão empresarial, uma ideia do seu antecessor e actual ministro Correia de Campos, percebeu-se logo que os doentes mais caros e prolongados estavam condenados.

No papel existia um modelo com vários tipos de hospitais. Uns tinham objectivos financeiros apertados. E quando se alertava para o efeito perverso que a ausência de objectivos de qualidade poderia causar, a resposta estava nos hospitais de retaguarda, que iriam aparecer e que garantiriam o tratamento aos doentes prolongados e mais caros.
Como se esperava, só se concretizou a parte financeira do modelo.
E aconteceu exactamente o que se previa: hospitais a recusarem doentes que lhes podem "estragar" os objectivos... financeiros.

A afirmação de ontem do presidente da Entidade Reguladora da Saúde, Álvaro Almeida, revelando existir a "suspeita" de que há hospitais públicos a recusarem acompanhar portadores de esclerose múltipla não é nada que não se esperasse.
É de elogiar a coragem de dizer o que já se esperava, mas deve igualmente criticar-se a forma como o fez.
Um responsável pela regulação da saúde não pode falar em "suspeitas".
Se existem casos deve actuar de imediato.

O modelo que está em vigor reúne condições para os hospitais recusarem não apenas acompanhar portadores de esclerosse como muitos outros casos.

A gestão empresarial dos hospitais pode ser um caminho para reduzir o desperdício e melhorar os cuidados médicos. Mas, como está concretizada, é apenas uma via de degradar a assistência na saúde. Os objectivos financeiros deveriam ter sido completados com exigência de qualidade e obviamente com os hospitais de retaguarda. Como sempre, ficou-se pelo corte de custos e pela criação de empresas com lugares para ocupar nas administrações. Tudo o resto, o mais importante, ficou por fazer estragando uma boa solução.

O resultado final, ainda o veremos, será gastar mais e ter pior saúde.
Lamentável"
Helena Garrido

3 comentários:

Anónimo disse...

E agora não venham com a cantiga do costume de serem os médicos sempre os maus da fita.

Os administradores hospitalares, esses sim, são o mal de que padece o SNS.

Tão maus, tão maus, que nenhum hospital privado os quer.

Para quando um governo que entregue definitivamente a gestão hospitalar a profissionais de saúde, e coloque esses parasitas no lugar que merecem? (desemprego)

J.G. disse...

Pobre Helena... se fosse em certos paises estava feita!
Ela há coisas que nunca se dizem. (nem pensam - que é pecado!)

naoseiquenome usar disse...

A propósito do Dr. House:
Bem, vi uma vez um episódio da série.
O episódio teve um metafórico tempo, em que, por milagre, um anti-social, que ultrapassa todas as regras instituídas, resolve sempre, sabe-se lá como (o tempo metafórico da série não permite descortinar), todos os casos, por mais complicados que sejam....

O herói anti-herói (ou será ao contrário?)

- Há para aí algum à venda para o Natal? :)

- Pronto, se fôr oferecido, de boa-vontade, melhor....