domingo, dezembro 17, 2006

Centro Hospitalar Guimarães - Fafe (II)

O que se passa com o previsto, senão já constituído, Centro Hospitalar provavelmente “do Alto Ave” é o mesmo que poderá vir a suceder a tantos outros por aí fora.

Existe uma declarada ausência de diálogo inter-institucional e inter instituições-ARS locais. Mas o mais grave é que esta ausência de diálogo é fomentada pela própria autoridade local da Saúde, neste caso a ARS do Norte.

Se não se olhar à capacidade e à produtividade existente em determinadas áreas assistenciais existentes.
Se se der prioridade aos “cortes” com o objectivo de diminuir despesas em vez de analisarem as despesas em função da produtividade alcançada individualmente.
Se se der maior importância à concentração de serviços sem se compreender que o somatório da produtividade individual não vai ser o mesmo quando integrados os profissionais num único serviço.

Em resumo:
Quando o pensamento de JEG do CA HSJ que com todo o a propósito “Saudepe” transcreve no seu comentário em Saúde SA, não é considerado, particularmente quando define a instituição ou o serviço como um “conjunto de pessoas que, embora trabalhando em equipa, concorrem paralelamente para o mesmo fim”, se este conjunto é desmembrado, extirpado da sua unidade e do seu entendimento colectivo, então as despesas, a insatisfação e a desmotivação dos profissionais, ainda serão maiores e a produtividade qualitativa e quantitativamente será seriamente afectada.

Os objectivos são claros e até poderiam ser os correctos, estivessem a ser seguidas as metodologias preconizadas pelo Ministério da Saúde Francês, segundo um relatório elaborado a partir dum estudo feito a seu pedido - “L’Evaluation de la securité, de la qualité e de la continuité dês soins chirurgicaux dans les petits hôpitaux publics en France (Avril 2006) ” e enviado à ARS do Norte pela Chefe de Gabinete de CC.

Neste documento propõem-se 10 medidas exigíveis para que da sua análise/cumprimento os serviços cirúrgicos de Hospitais de pequena dimensão possam ser considerados aptos a desempenhar a sua actividade cirúrgica.


1. Avaliação de custos e qualidade da actividade cirúrgica (readmissões, transferências, transfusões sanguíneas, infecção nosocomial, admissão urgente/programada do doente.
2. Classificação dos Serviços cirúrgicos (cumprimento das normas cirúrgicas, profissionais preparados e em número suficiente, continuidade de serviço 24/24 horas).
3. Avaliação e optimização dos meios humanos no bloco operatório.
4. Avaliação de 2/2 anos da qualidade operatória.
5. Reformulação dos contratos com cirurgiões e anestesistas.
6. Recrutamento para formação de Internos de Cirurgia estrangeiros (de alto nível) da UE por forma a garantir que no futuro todos os doentes sejam tratados de forma idêntica aos tratados por cirurgiões formados em França.
7. Organização do circuito de recepção e transferência de doentes inter-hospitais para que este circuito se realize de forma harmoniosa.
8. Formação dos autarcas, políticos regionais e população para a compreensão da problemática da “qualidade” em Hospitais de proximidade, em associação com os cirurgiões, anestesistas e directores desses Hospitais.
9. Promover a conversão de pequenos hospitais em hospitais de “proximidade” se durante um ano não for possível reunir as condições exigíveis de cirurgia de “excelência”, sem contudo se descurarem as iniciativas necessárias para manter em funcionamento, com esse nível exigível, a actividade cirúrgica.
10. Ter em conta as particularidades da região com a intervenção activa dos responsáveis políticos, associações de utilizadores e associações médicas nacionais para a sua avaliação/decisão.



Podemos concluir o mesmo das unidades que se pretendem agrupar, dos serviços que se pretendem extinguir dos novos que se pretendem criar em Portugal.

Sem uma análise cuidadosa, sem uma avaliação criteriosa dos custos, da qualidade e da quantidade produzida pelos serviços ou unidades que se pretendem extinguir; sem dar a possibilidade às instituições/serviços a possibilidade de se prepararem e de se comprometerem a cumprir o que lhes é minimamente exigido em termos de qualidade e quantidade, podemos estar a incorrer num grave erro.


É esta a metodologia que os franceses estão a adoptar e não a que, pelo menos abertamente, os portugueses insistem em não utilizar.

Métodos diferentes para objectivos iguais em realidades diferentes.



4 comentários:

naoseiquenome usar disse...

Não existisse o ponto 8 do estudo e tudo estaria muito facilitado, embora não própriamente fácil. Qualquer mudança excige flexibilidade, adaptação de pessoas e métodos.
E a memória da instituição, tantas vezes coincidente com a memória das pessoas que fizeram a instituição, tem, indiscutívelmente de ser, o menos beliscada possível.

J.G. disse...

Cá por mim, aplauso para o ponto 8.
"Formação dos autarcas, políticos regionais e população para a compreensão da problemática da “qualidade” em Hospitais ...."
Mas estamos plantados à beira mar, num país nascido da falta de respeito, por um jóvem que tudo julgava saber, e, às tantas, os pais eram irmãos, mas a história não o diz...

naoseiquenome usar disse...

Ó "Jocapoga", eu também aplaudo o ponto 8, obviamente. O mais possível. Mas se estamos à espera da dita formação, ou melhor da sensibilidade desta gente para o assunto, ainda vamos desesperar...
Claro que o caminho é por aí. Mas ainda nem sequer começou a ser percorrido, pelo que pedir resultados... adivinha-se o desastre, não é?

Peliteiro disse...

Sai um pouco a despropósito, mas os Franceses são excelentes em Qualidade em Saúde; recomendo newsletter do site da HAS.