quarta-feira, janeiro 16, 2008

diário íntimo de Correia de Campos



Excertos do diário íntimo de Correia de Campos
José Vítor Malheiros no PÚBLICO:


«Há pessoas muito estúpidas.

Há pessoas tão estúpidas que nem sequer percebem que, quando se fecha o serviço de urgência do hospital da sua terra, isso é para o seu bem.

Há pessoas tão estúpidas que nem sequer percebem que muitos dos serviços de urgência que se fecham nem sequer são verdadeiros serviços de urgência e que o facto de estar lá um médico que os ouve, os examina, os atende e os trata é secundário quando se compara isso com a racionalidade da rede de urgência nacional e pode até ser mais prejudicial do que benéfico.

Mais: há pessoas tão estúpidas que são capazes de confundir "emergência médica" com "urgência médica" ou mesmo com um simples caso agudo. Apesar de isto até já ter sido explicado na televisão!

Mas não é tudo: há pessoas que são tão, tão estúpidas que levam a sua estupidez ao ponto de levar uma criança a uma urgência hospitalar durante a noite e lá passar cinco horas com a criança embrulhada numa manta nos joelhos só porque têm medo de que se trate de uma coisa grave que exija uma rápida intervenção médica, quando qualquer médico percebe que não é nada grave e que tudo o que é necessário é baixar a febre e fazer inalações de vapor. É gentalha como esta que entope o sistema.

E há mais: há pessoas tão supinamente estúpidas que nem percebem a diferença entre Serviços de Urgência Básica, Serviços de Urgência Polivalente e Serviços de Urgência Médico-Cirúrgica (como se eu já não tivesse explicado o que significam estes conceitos) e que dizem que tudo o que querem é poder ter acesso rápido a cuidados médicos em caso de necessidade. Uma tristeza.

Há pessoas tão estúpidas que acham que quando lhes dizemos que a intervenção precoce é fundamental em casos de AVC ou ataque cardíaco ou coisa semelhante acham que isso quer dizer que devem ter acesso a cuidados médicos ali ao pé de casa e não percebem que uma hora ou duas a mais ou menos (ou três ou quatro) no fundo não tem importância nenhuma.

Há pessoas tão estúpidas (e tão egoístas) que não percebem que na política de saúde se trata antes de mais de estatísticas e que a importância do seu caso pessoal empalidece ao pé de mil outros.
.
Mas isto ainda não é tudo: há pessoas que são tão estúpidas que nem percebem que não tem a mínima importância terem de se deslocar umas dezenas de quilómetros até ao SUB ou SUP ou SUMC, conforme o caso, porque podem apanhar um táxi ou uma ambulância ou mesmo um helicóptero. Algumas destas pessoas são tão indiferentes às prioridades da organização da rede de urgência que levam o seu egoísmo ao ponto de se queixarem da despesa e do incómodo que essas deslocações lhes causam. O que são 200 ou 300 euros quando é a saúde que está em causa?
.
Outras pessoas levam a estupidez ao ponto de se queixarem de passar horas à espera nas urgências, sem perceber que isso significa que devem estar num hospital central com todas as valências, o que só por si lhes devia agradar.

Outras pessoas são tão estúpidas que se queixam de que houve serviços que foram fechados antes de terem sido abertos os serviços alternativos. Há até quem se queixe por haver 650.000 pessoas sem médico de família.

E até há pessoas tão estúpidas (algumas delas altamente colocadas) que acham que os portugueses têm razões para se perguntarem para onde vai o país em matéria de cuidados de saúde e que consideram que a reforma não foi suficientemente explicada.

Há outras pessoas que são tão estúpidas (incluindo pessoas que fazem parte de comissões técnicas que até deviam perceber destas coisas) que acham que as intervenções na rede de urgências começaram a ser feitas antes de se ter pensado no quadro global e que se está a pôr o carro à frente dos bois e a tomar decisões avulsas conforme as pressões locais.

Há tantas pessoas tão estúpidas que acho que a única solução é mesmo dissolver o povo. Ia reduzir o acesso às urgências.»


(retirado do Boticário)

3 comentários:

Anónimo disse...

Não há dúvida que o CC, que tb faz parte do povo, tb é bastante estúpido só com a diferença de que é arrogantemente estúpido. Não há maior estupidez que a estupidez culta dos portugas doutorados com o rei na barriga e a incompetÊncia de ministros na escolha dos seus consultores técnicos. Demita-se seu pavão ou então seja mais humilde e oiça outros técnicos credenciados.

J.F disse...

Meu caro Anónimo
A arrogância e prepotência de CC é um facto. O saber ouvir e como se exprimir,são virtudes que escapam a CC e aos seus assessores que se escudam em pareceres de consultores técnicos, por ele/eles escolhidos, definidos que estão previamente os objectivos também por ele/eles traçados.

E tudo depois é cozinhado a preceito…

Não se trata, na minha opinião, de “estupidez” mas de “finura” ao aproveitar a maioria no poder que os sustenta, a eles e a quem de maneira tão pouco abonatória, por gula ou ignorância, se submetem à força do sentido da frase “quem não é por mim, contra mim é” assim garantindo futura notoriedade (nem que pela negativa seja) mas acima de tudo, os seus cargos de nomeação…

Felizmente que alguns, timidamente, vão dando mostras de querer abandonar o barco, provavelmente já a pensar, que outro piloto poderá estar a aparecer; não vá este exigir uma mudança de rota.

J.F disse...

Meu caro Anónimo
A arrogância e prepotência de CC é um facto. O saber ouvir e como se exprimir,são virtudes que escapam a CC e aos seus assessores que se escudam em pareceres de consultores técnicos, por ele/eles escolhidos, definidos que estão previamente os objectivos também por ele/eles traçados.

E tudo depois é cozinhado a preceito…

Não se trata, na minha opinião, de “estupidez” mas de “finura” ao aproveitar a maioria no poder que os sustenta, a eles e a quem de maneira tão pouco abonatória, por gula ou ignorância, se submetem à força do sentido da frase “quem não é por mim, contra mim é” assim garantindo futura notoriedade (nem que pela negativa seja) mas acima de tudo, os seus cargos de nomeação…

Felizmente que alguns, timidamente, vão dando mostras de querer abandonar o barco, provavelmente já a pensar, que outro piloto poderá estar a aparecer; não vá este exigir uma mudança de rota.