terça-feira, janeiro 23, 2007

in memoriam de António Antão (1954-2005)

Políptico de S.Vicente de Fora

Nuno Gonçalves




A minha pátria era uma cerejeira florida
mas mãos terrosas e simples do meu povo,
protegida enxada a enxada, flecha a flecha,
em cada flor despedia no fundo das batalhas,
ou talvez no jeito rude de disparar um arco.

E quando as espadas pousaram vencedoras
no coração da minha pátria independente,
surgiu um tempo de mar e de viagens,
um tempo de embarcar as naus da fantasia
e procurar o sonho das ilhas encantadas
nos confins intermináveis do medo e da aventura.

E a minha pátria era então feita de barcos,
de longas esperas ansiosas,
de notícias de terras onde os pássaros
cantavam ainda as primeiras melodias
que tinham aprendido comos deuses benignos e suaves
dos instantes iniciais da criação.

Mas onde estão as espadas invencíveis do meu povo,
onde estão as veias que se abriram generosas
para que estes homens pudessem ostentar
estas frontes ponderosas e seguras
de donos da glória do mundo e do meu povo?

Onde estão os olhos marinheiros do meu povo,
os braços que do mar trouxeram a riqueza e o esplendor
que as mãos destes homens avidamente açambarcaram,
deixando o meu povo desarmado,
olhando as suas mãos cheias de nada?

Onde está o meu povo anónimo e imenso,
na sua própria vitória derrotado nau a nau,
carregando o ouro e o perfume delicado da pimenta
para que estes homens graves e profundos
pudessem ser pintados neste friso como heróis?


António Antão ........................................
(poema não editado, escrito em 14 de Abril de 1997)



Dr. António Antão - Ortopedista co-fundador do Serviço de Ortopedia do Hospital de S.José de Fafe (5 de Janeiro de 1990), falecido a 23 de Janeiro de 2005.

Nasceu neste nosso país.
Pelo seu povo ele vive.
Profissional incansável e dedicado, reconhecido por todos os que o conheceram e com ele privaram.
António Antão, dois anos decorridos, deixa sempre na lembrança a imagem dum incomparável amigo, humilde na sua imensa cultura, sempre disponível e desprendido dos seus sucessos já que os fez também sucessos dos outros.

Um abraço de todos.
Até sempre.

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7 comentários:

Teresa Durães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Teresa por favor peço-lhe que aqui pelo menos hoje e amanhã não tente aliviar sua depressão. Este SENHOR de momento é intocavel OK. É a minha vez de dizer que não sabe do que fala. A homenagem aqui feita é ao HOMEM e não a discordia ou concordia do teor do Poema.
FS

Teresa Durães disse...

não alivio depressões. Está retirado

Anónimo disse...

Teresa, de todo um MUITO OBRIGADA.

naoseiquenome usar disse...

Onde está este povo?
...
Belíssimo poema, homenagem swentida, solidarizo-me.

_____

Mas este povo, até hoje, só construiu Sebastianismo.

Peliteiro disse...

Conheci e trabalhei com o Dr. Antão - só tenho boas recordações.

Subscrevo inteiramente essas palavras.

Anónimo disse...

Do Dr Antão guardo a imagem do Grande Homem ,Grande Pessoa e da sua Humanidade e Acessibilidade.