quinta-feira, novembro 23, 2006

o barato sai caro


Cheguei a casa, liguei o PC e fui dar uma vista de olhos pela caixa de correio.

Enviei um e-mail de resposta a pessoa amiga, li outros mais ou menos interessantes. Eram muitos, mas também eram muitos os que rejeitei quase sem os ler ou abrir por completo.

Entrei no “que raio de saúde a nossa”, fiz o "login" e preparava-me para vos comunicar o que hoje de manhã, no meu trabalho, uma vez mais me chamou à atenção.

Tentava mentalmente organizar-me para o fazer, quando me apareceu bem audível a música que tinha colocado ontem e pensei ser uma boa altura para a retirar e colocar outra. Foi o que fiz escolhi a mais fácil de se ouvir, não sei porquê.

Mas hoje a inspiração não era comigo. Primeiro porque achava estar cansado mentalmente pelas quase 24 horas seguidas de trabalho e depois porque não arranjava maneira de passar para a “net” o que queria dizer.

Para esquecer a falta de inspiração fui navegando pelos Blogues amigos e se calhar ainda mais stressado comecei a ficar pela lentidão da minha ADSL de "aposta governamental" no meu caso falhada, já que me deram a desculpa de estar a residir numa “aldeia” a só 10 km de Braga.

Mas lá fui andando…
Trengices, Chuvafriocaloreseilamaisoque (nuncamaisacaba), Tabemesxisto, Medicoexplicamedicinaaintelectuais, deixava os outros amigos para depois, quando entro no Ordemparanaoreanimar e subitamente a inspiração foi ao de leve estimulada…

Aí está!!!
Obrigado Reanimadora, dizes tu:
“Num época em que se fala cada vez mais em economia (aliás, SÓ se fala em economia!), em gestão hospitalar e como evitar o desperdício, fiquei a pensar....Fiquei a pensar quantas seringas ela teria inutilmente inutilizado...Fiquei a pensar no custo de cada seringa.... (que confessando a minha ignorância (e a dela, pelos vistos) também eu não sabia...)Fiquei a pensar que, uma das formas possíveis de reduzir o gasto e o desperdício hospitalar, seria de, nas requisições de análises clínicas, imagiologia, electrocardiografia, constar o preço de cada exame a requisitar.”

É verdade… tens toda a razão...

Mas na 1ª cirurgia de hoje:
As 10 lâminas de bisturi que gastei.
As 5 luvas cirúrgicas que que tive que calçar,
As 2 ligaduras elásticas que gastei,
As compressas que rejeitei.

Não o foi porque sou exageradamente “cuidadoso” com a assepsia cirúrgica ou extremamente descuidado com a minha técnica, mas tão só porque:

As lâminas de bisturi deixam de cortar à primeira ou segunda passagem pela pele , pela aponevrose ou pelos outros tecidos, até ao “osso”.
Porque as luvas furam ou se rompem à mais pequena tracção ou contacto “mais duro”.
Porque para proteger uma área cirúrgica uma só ligadura elástica não chega.
Porque as compressas libertam “pêlos” e não absorvem os líquidos.

É que todos estes materiais consumíveis são agora, escolha do IGIF.

E na mesma cirurgia, há pouco mais de meio ano atrás, eu só consumia 3 laminas de bisturi, 2 pares de luvas, uma ligadura elástica e metade da quantidade de compressas.

No poupar é que vai o ganho, mas às vezes o mais barato sai caro.

9 comentários:

edelweiss disse...

Concordo perfeitamente e dá que pensar. Um post contrapõe-se ao outro, com 2 verdades que não se antagonizando, complementam-se.

E, acima de tudo, porque o DOENTE, e só o doente, é a nossa prioridade NUMÉRO UM (e aqui não há números nem leis económicas que lhe afrontem)

ps: já sabemos que o J.F. é cirúrgião. Só agora descortinar qual o 'hospital de uma cidade do interior' a que se refere... :-)

J.G. disse...

Deixemo-nos de espiadelas!
A questão é como ser eficientes.
A questão é como agradar ao gestor.
A questão passa também por manter a qualidade no acto.
A questão é, finalmente e tão só, que "o que barato parece, caro sai".
A questão é, em último caso, convencer quem nunca trabalhou no terreno, que o que aprendeu na universidade e aplicou na secretária de uma secretaria geral qualquer, é diferente do mundo real, da luva que, sendo ao melhor preço, não suporta uma leve tração, da compressa que não ensopa, da lâmina que, além de manteiga no verão, pouco mais corta.
A questão poderá ainda ser convencer o doente a não pedir uma indeminização pela MERDA de cicatriz que levou de recordação ao CATÁLOGO.

naoseiquenome usar disse...

:)
tenham calma.
Está desde já comprovado que a qualidade do meterial é inferior agora, com este sistema? Desde quando? que efeitos indesejáveis provoca, para além do aumento de gastos de material, traduzido em não menores custos?

Que efeitos directos e indirectos provoca na assistência ao doente?


...
Se houver uma alma que me queira responder eu agradeço...

Anónimo disse...

Sim, é bom que haja um mediador nisto para não estalar o verniz.

"Que efeitos directos e indirectos provoca na assistência ao doente".?!!
-Tempo de intervenção superior ao inicialmente previsto que muitas vezes leva a que a intervenção seguinte seja adiada.

Drª. "reanimadora"(medicina interna!!!)então! não me vai decepcionar, leitora pouco atenta. Desta vez eu dou uma ajudinha.Abra o post do dia 24 de Outubro e leia as palavras gordinhas, a negrito, lá para o meio do texto, ah, tambem pode abrir o post de 26 de outubro e ler.
Divirtam-se e bom fim de semana.

Peliteiro disse...

Um gestor ou comprador ou seja lá quem faz os catálogos não pode ter como único critério o preço.
Se assim fizer nem é gestor nem comprador, é um parasita do sistema. E isso tem que lhe ser dito claramente.

edelweiss disse...

Fafe, eureka!
(já tinha lido o post de 24 out mas não tinha percebido que se aplicava ao próprio... (e há coisas encantadas na blogosfera que não se devem compreender...))

Sou absolutamente defensora que TODOS os gestores hospitalares (não-médicos) deveriam passar pela «experiência», de ter algum ente querido internado num hospital público, e lhe perguntar que tipo de tratamento deveria ser proporcionado ao seu ente querido:
o 'económico (p.ex: para quê pedir uma CPRM quando temos a CPRE numa obstrução biliar') ou 'o melhor possível ('p.ex: se há dúvidas ou CI à CPRE, pedir CPRM')

ps: medicina interna?? ;-)
dir-lhe-ei a 11 de dezembro...

Anónimo disse...

Já um Director de Compras me disse: "Eu nunca seria operado sem ter este equipamento". E logo a seguir: "Lamento mas não temos budget para os consumíveis". A prioridade NÚMERO UM é o doente? Não neste SNS.

xavier disse...

Sobre esta questão sugiro o seguinte:Certifique-se se o referido material foi adquirido através dos concursos centralizados o IGIF.
Ou não será fruto de uma aquisição directa do hospital?

O problema fundamental do material de consumo clínico reside na dificuldade(incapacidade) em definir o conjunto de especificações de cada artigo.

De posse das especificações é necessário efectuar prospecções de mercado para avaliação da oferta que corresponda às nossas especificações.

Depois há que efectuar negociações competentes e sérias com os fornecedores.

Formalizada a aquisição, há que recepcionar devidamente os materiais entregues pelos fornecedores de acordo com as amostras escolhidas (comissões) e os procedimentos pré-definidos.

Há que contar com a colaboração de comissões de avaliação dos materiais.
´
Há necessidade de simplificar os consumos. Há itens a mais. Muitos dispensáveis.

O material cirúrgico deve merecer especial atenção.
A escolha de luvas de qualidade não é fácil. Há que avaliar as diferentes necessidades dos utilizadores (tamanho, elasticidade,hipoalergia).

Perante os casos de falha de material ou alteração de qualidade cabe aos utilizadores intervirem junto da direcção de serviço e clínica.
Mas esta questão do material não é nada fácil requerendo a intervenção de muitos profissionais.
E muitas vezes é utilizada como arma política.

J.F disse...

Xavier
O caso das luvas, dos bisturis, das ligaduras elásticas, das ligaduras gessadas, das ligaduras de algodão, etc,etc, já foram objecto de várias participações feitas por mim à Direcção do Hospital à medida que o Armazém Clínico vai repondo os stocks nos serviços com material que se prova não estar em conformidade com a exigência clínica com o mínimo de qualidade.
Felizmente que a Direcção do Hospital onde trabalho, reconhece em consciência o reparo que lhe é feito e dá as suas orientações... Mas até se esgotar o stock existente...