É provavelmente (ou talvez não!) malhar em ferro frio.
Mas o encerramento liminar do serviço de urgência no Hospital de S.José de Fafe não deixa de me provocar... dores de barriga
E não é que não entenda que as "grandes urgências" devem ser reencaminhadas para serviços melhor apetrechados, humana e tecnicamente, após a estabilização possível e, claro está, partindo do princípio (nem sempre verdadeiro) que haverá, para esses casos mais graves capacidade instalada para o efeito e que responde em tempo útil.
Mas, onde levo a minha súbita dor de barriga?
O que faço com a febre do meu filho?
Como vou lidar com a "fraqueza" do pai idoso?
Que resposta para a angústia da avó, que cuida do neto enquanto os pais trabalham, vendo-o empapar o lenço com o sangue que lhe jorra do nariz?
Onde encontrar panaceia para os dedos que o irmão mais novo entalou na velha e pesada porta da cozinha?
Como tranquilizar tantas pessoas que, com pequenos grandes problemas de saúde, sabem que serão os últimos dos últimos num serviço, que inevitavelmente (e isso foi dito alto e bom som!) não vai ter tempo nem espaço para elas?
É que, nisto da saúde, o meu pequeno problema é também, e será sempre, um problema grave!
E tratando-lhe o "linimento", aumenta-lhe a angústia, o desequilíbrio emocional, avaria-se-me o sistema nervoso!
A isto, na minha modesta opinião, chama-se retrocesso.
É como um regresso ao tempo em que o corpo humano se dividia apenas em cabeça, tronco e membros.
Ou calças, casaco e chapéu, para os mais "pudicos".
E a solução, vai ter de ser, de novo, a visita ao velho boticário, que aviará permanganato para as "calças" (um nadinha abaixo do cinto, o bicarbonato para o "casaco" e o borato para o "chapéu" (ligeiramente abaixo da aba!).
E para lancetar o "quisto", lá iremos ao barbeiro!
Que não nos fechará a porta!
E nos acalmará a ansiedade com uma das suas bem-humoradas e intermináveis histórias do quotidiano!
Como o melhor dos psicólogos, de resto!
por José Manuel Domingues em "Povo de Fafe" 03-11-06
Este é o testemunho dum cidadão fafense que em tom irónico diz o que tem a dizer.
É o testemunho idêntico a muitos outros que são expressos por outros tantos cidadãos duma cidade ou região do interior do país, quando são confrontado com a possibilidade de encerramento do Serviço de Urgência a que estavam habituados recorrer há longos anos.
Sim, porque CC prepara-se para dar cumprimento ao desejo do Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos quando já no ano passado, publicamente, chamava à atenção dos portugueses de que estes deveriam perder o hábito de "querer ter sempre um médico atrás de cada árvore".
É um hábito que desde 1974, com o Serviço Médico à Periferia, foi criado nos portugueses e que contribuiu com a posterior implementação do SNS, para uma melhoria dos indicadores sobre a saúde em Portugal. É com este "hábito" que se pretende acabar ao afastar o cidadão dos cuidados de saúde em vez de o aproximar, afastando os serviços das pequenas cidades e aldeias, concentrando-os nas grandes cidades e metrópoles, a exemplo do que se está a fazer com as Escolas, Tribunais, Forças de Segurança e outros Serviços Públicos.
A isto chama-se protecção e incentivo à desertificação do interior do País e já agora plantem muitas árvores para que nem cidadão atrás delas se possa ocultar.
É o que também assim pensa CC e por obrigação também o dizem pensar, os membros da comissão que a pedido do Ministro, elaborou o mapa das despromoções e das requalificações dos SU.
Só que os “competentes e capazes” técnicos de saúde, alguns dos quais já fazendo parte do Grupo de Trabalho das Urgências de quem partiu a adopção do método de triagem de Manchester, são todos eles excelentes profissionais nas suas respectivas áreas de conhecimento e prática (cirúrgica, anestésica e médica) mas também muitos deles (ou todos eles) também desconhecedores, ou conscientes desconhecedores, da realidade dum Serviço de Urgência. Não das Unidades de Cuidados Intensivos, dos Serviços Médicos, Cirúrgicos e de Diagnóstico de ponta, das Salas de Estar dos Blocos Operatórios ou dos Gabinetes Médicos dos SU, mas das salas de triagem e de tratamento, junto dos doentes “menos graves” e de seus familiares (dos grandes e pequenos Hospitais, das grandes e pequenas cidades).
Se não se esquecessem da realidade de quando andavam a “aprender para ser especialistas” ou a “fazer currículo e a estudar para cargos de chefia”, por certo também não esqueceriam “as dores de barriga” que com a sua proposta estão conscientemente a provocar aos seus concidadãos.
Devem os médicos que trabalham nas "grandes unidades" estar conscientes da importância de permanecerem nos seus postos de trabalho, sempre que as situações de doentes “mais graves” lhes vão parar à mão e os tratem com a qualidade que se lhes exige e está ao seu alcance. Mas também devem estar conscientes de que o imenso trabalho que os seus colegas (não técnicos) têm para tratar a “dor de barriga, a febre do bebé, o sangue que jorra do nariz e os dedos entalados” também o fazem, com a mesma responsabilidade e profissionalismo e mais não lhes podem pedir, assim lhes dêem condições e mais meios técnicos e humanos para mais fazerem.
Fale-se em sustentabilidade do SNS mas não se transfira para o cidadão o ónus do problema.
Fale-se em rentabilização dos recursos mas com o aproveitamento não só dos meios humanos mas também dos estruturais.
Fale-se no combate ao desperdício mas poupe-se nos gastos com o atendimento em grandes unidades de saúde, potencialmente mais caras por doente assistido, e nos erros de gestão financeira.
Fale-se em modernização do SNS mas não se retroceda nos direitos à saúde.
Mas o encerramento liminar do serviço de urgência no Hospital de S.José de Fafe não deixa de me provocar... dores de barriga
E não é que não entenda que as "grandes urgências" devem ser reencaminhadas para serviços melhor apetrechados, humana e tecnicamente, após a estabilização possível e, claro está, partindo do princípio (nem sempre verdadeiro) que haverá, para esses casos mais graves capacidade instalada para o efeito e que responde em tempo útil.
Mas, onde levo a minha súbita dor de barriga?
O que faço com a febre do meu filho?
Como vou lidar com a "fraqueza" do pai idoso?
Que resposta para a angústia da avó, que cuida do neto enquanto os pais trabalham, vendo-o empapar o lenço com o sangue que lhe jorra do nariz?
Onde encontrar panaceia para os dedos que o irmão mais novo entalou na velha e pesada porta da cozinha?
Como tranquilizar tantas pessoas que, com pequenos grandes problemas de saúde, sabem que serão os últimos dos últimos num serviço, que inevitavelmente (e isso foi dito alto e bom som!) não vai ter tempo nem espaço para elas?
É que, nisto da saúde, o meu pequeno problema é também, e será sempre, um problema grave!
E tratando-lhe o "linimento", aumenta-lhe a angústia, o desequilíbrio emocional, avaria-se-me o sistema nervoso!
A isto, na minha modesta opinião, chama-se retrocesso.
É como um regresso ao tempo em que o corpo humano se dividia apenas em cabeça, tronco e membros.
Ou calças, casaco e chapéu, para os mais "pudicos".
E a solução, vai ter de ser, de novo, a visita ao velho boticário, que aviará permanganato para as "calças" (um nadinha abaixo do cinto, o bicarbonato para o "casaco" e o borato para o "chapéu" (ligeiramente abaixo da aba!).
E para lancetar o "quisto", lá iremos ao barbeiro!
Que não nos fechará a porta!
E nos acalmará a ansiedade com uma das suas bem-humoradas e intermináveis histórias do quotidiano!
Como o melhor dos psicólogos, de resto!
por José Manuel Domingues em "Povo de Fafe" 03-11-06
Este é o testemunho dum cidadão fafense que em tom irónico diz o que tem a dizer.
É o testemunho idêntico a muitos outros que são expressos por outros tantos cidadãos duma cidade ou região do interior do país, quando são confrontado com a possibilidade de encerramento do Serviço de Urgência a que estavam habituados recorrer há longos anos.
Sim, porque CC prepara-se para dar cumprimento ao desejo do Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos quando já no ano passado, publicamente, chamava à atenção dos portugueses de que estes deveriam perder o hábito de "querer ter sempre um médico atrás de cada árvore".
É um hábito que desde 1974, com o Serviço Médico à Periferia, foi criado nos portugueses e que contribuiu com a posterior implementação do SNS, para uma melhoria dos indicadores sobre a saúde em Portugal. É com este "hábito" que se pretende acabar ao afastar o cidadão dos cuidados de saúde em vez de o aproximar, afastando os serviços das pequenas cidades e aldeias, concentrando-os nas grandes cidades e metrópoles, a exemplo do que se está a fazer com as Escolas, Tribunais, Forças de Segurança e outros Serviços Públicos.
A isto chama-se protecção e incentivo à desertificação do interior do País e já agora plantem muitas árvores para que nem cidadão atrás delas se possa ocultar.
É o que também assim pensa CC e por obrigação também o dizem pensar, os membros da comissão que a pedido do Ministro, elaborou o mapa das despromoções e das requalificações dos SU.
Só que os “competentes e capazes” técnicos de saúde, alguns dos quais já fazendo parte do Grupo de Trabalho das Urgências de quem partiu a adopção do método de triagem de Manchester, são todos eles excelentes profissionais nas suas respectivas áreas de conhecimento e prática (cirúrgica, anestésica e médica) mas também muitos deles (ou todos eles) também desconhecedores, ou conscientes desconhecedores, da realidade dum Serviço de Urgência. Não das Unidades de Cuidados Intensivos, dos Serviços Médicos, Cirúrgicos e de Diagnóstico de ponta, das Salas de Estar dos Blocos Operatórios ou dos Gabinetes Médicos dos SU, mas das salas de triagem e de tratamento, junto dos doentes “menos graves” e de seus familiares (dos grandes e pequenos Hospitais, das grandes e pequenas cidades).
Se não se esquecessem da realidade de quando andavam a “aprender para ser especialistas” ou a “fazer currículo e a estudar para cargos de chefia”, por certo também não esqueceriam “as dores de barriga” que com a sua proposta estão conscientemente a provocar aos seus concidadãos.
Devem os médicos que trabalham nas "grandes unidades" estar conscientes da importância de permanecerem nos seus postos de trabalho, sempre que as situações de doentes “mais graves” lhes vão parar à mão e os tratem com a qualidade que se lhes exige e está ao seu alcance. Mas também devem estar conscientes de que o imenso trabalho que os seus colegas (não técnicos) têm para tratar a “dor de barriga, a febre do bebé, o sangue que jorra do nariz e os dedos entalados” também o fazem, com a mesma responsabilidade e profissionalismo e mais não lhes podem pedir, assim lhes dêem condições e mais meios técnicos e humanos para mais fazerem.
Fale-se em sustentabilidade do SNS mas não se transfira para o cidadão o ónus do problema.
Fale-se em rentabilização dos recursos mas com o aproveitamento não só dos meios humanos mas também dos estruturais.
Fale-se no combate ao desperdício mas poupe-se nos gastos com o atendimento em grandes unidades de saúde, potencialmente mais caras por doente assistido, e nos erros de gestão financeira.
Fale-se em modernização do SNS mas não se retroceda nos direitos à saúde.
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