terça-feira, julho 31, 2007

a flexisegurança na saúde


“As especiais características do Serviço Nacional de Saúde em matéria de recursos humanos têm determinado, ao longo dos tempos, a necessidade de se adoptarem mecanismos próprios de contratação suficientemente ágeis para evitar rupturas no funcionamento dos serviços que directamente prestam cuidados de saúde.”


Assim sendo… o melhor procedimento está indicado no Decreto-Lei n.º 276-A/2007 hoje publicado, como mais uma alteração ao Estatuto do Serviço Nacional de Saúde.

“Para satisfação de necessidades urgentes de pessoal que possam comprometer a regular prestação de cuidados de saúde, os serviços e estabelecimentos que integram o Serviço Nacional de Saúde podem, a título excepcional, celebrar contratos de trabalho a termo resolutivo certo, até ao prazo máximo de um ano, obedecendo a um processo de selecção simplificado precedido de publicitação da oferta de trabalho pelos meios mais adequados e de decisão reduzida a escrito e fundamentada em critérios objectivos de selecção”



RR - Guadalupe Simões
"Isto é o prelúdio daquilo que vai acontecer na Administração Pública quando entrar em vigor, no dia 1 de Janeiro, a lei que foi agora negociada e que está na Assembleia da República dos contratos de trabalho para funções públicas, em que o objectivo do Governo é, e disse-o nas reuniões, que as pessoas mudam de emprego tantas vezes, pelo menos, até adquirirem estabilidade de emprego."
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"As sereias (como as de Copenhague) eram ninfas marinhas que tinham o poder de enfeitiçar com seu canto todos que o ouvissem, de modo que os infortunados marinheiros sentiam-se irresistivelmente impelidos a se atirar ao mar onde encontravam a morte."
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a experimentação animal


Porque segundo as estimativas, cerca de vinte mil animais, na sua maioria coelhos, são utilizados anualmente na Europa para testar a toxicidade das substâncias químicas.
Porque os animais também têm os seus direitos

É de saudar esta notícia:

Nova etapa na eliminação de testes em animais

"Um novo teste aperfeiçoado pelo centro de bio-engenharia Episkin de L’Oréal, sedeado em Lyon, França, acaba de ser homologado pelo ECVAM (Centro Europeu para a Validação dos Métodos Alternativos).

Este teste é realizado em amostras de pele humana reconstruída em colagénio e permite “substituir completamente os testes” em animais, segundo o ECVAM. Esta inovação é resultado de mais de vinte anos de pesquisas sobre a reconstrução da pele humana." (fonte Lusa/Univadis)

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domingo, julho 29, 2007

arrogância no Centro Hospitalar do Alto Ave?

Interrompo hoje este afastamento temporário porque bem à distância e acidentalmente, vi na Internet esta referência ao Hospital de Fafe divulgada por um dos jornais da cidade.


No resumo desta notícia é dito que a “subalternização” do Hospital preocupa vereadores da oposição e os utentes do Hospital já que a integração deste Hospital no Centro Hospitalar do Alto Ave estará a ser realizada “com alguma arrogância” por parte do seu Conselho de Administração.


Poucas dúvidas me restavam há um mês, mas a ser verdade o que no Jornal Correio de Fafe é dito, esta arrogância ter-se-á agora manifestado também através da proibição de um médico da Unidade de Fafe poder prestar declarações sobre o assunto aos jornalistas.
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Mesmo fora do Hospital!
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Agora nem na esquina da rua, num café ou em casa?

Como?




quinta-feira, julho 26, 2007

chiuuu...


Num regresso à dita civilização do século XXI, em plena era de desenvolvimento tecnológico com bandas largas à velocidade de 128 Kbps (qual máquina a vapor dos inícios do XVIII cuja agora rusticidade e originalidade para o turismo é considerado um bem), não resisti, com a desesperante lentidão actual da minha ligação à Internet, a aqui transcrever o que um médico - Dr. Mário Silva Moura - escreveu e que o Médico de Família publicou.

"Nos anos 40, na Universidade, enquanto dirigente académico, fui incomodado pela polícia política do regime vigente por querer ”construir“ algo do interesse para os estudantes, em Coimbra.
Vivi a ansiedade e o medo, porque não dizê-lo, da possível prisão do meu pai, empregado dos CTT, por colaborar durante a guerra com uma rede de informações para os aliados, antinazis.
Em Setúbal, antes do 25 de Abril, fui director de um jornal durante dez anos e vivi as agruras da censura política, todas as semanas.
Levei meses para conseguir um passaporte, devido a problemas vindos da tal polícia política; esperei meses a fio para ser nomeado para um cargo dirigente dos Serviços Médico/Sociais das Caixas de Previdência, porque não chegava ”o sim“ da tal polícia; fui várias vezes acusado, sem o saber, por opiniões manifestadas em reuniões e palestras – aí as acusações eram feitas por gente ”importante“ das elites da cidade (como vim a saber mais tarde pela Comissão de desmantelamento da PIDE).
Lembro com saudade o Zeca Afonso a pedir dinheiro para a defesa dos presos políticos, pedidos que tinham de ser feitos enquanto se passeava, porque os cafés… tinham ouvidos.
Recordo como uns ”senhores de negro“ tiravam as matrículas dos carros das pessoas que se reuniam numa escola de ”apostolado religioso“.
Recordo (e não queria recordar!) como tive de interromper, por ordem da tal polícia, reuniões de esclarecimento sobre perigos laborais, numa fábrica onde era médico do trabalho...
Confesso que não queria recordar, como durante os meses próximos das eleições em que participou Humberto Delgado, eu esperava, quando a campainha de casa tocava, ver surgir, em vez de uma chamada para um doente, a Polícia de Defesa do Estado.
Não queria recordar tudo isto, mas pequenos acontecimentos, que desde há umas semanas a esta parte tem sido dados à estampa nos jornais, anunciando demissões, processos disciplinares, aberturas de correspondências, quase sempre com origem em delações, ”arrancaram“ dos recônditos da minha memória tais acontecimentos.
Sinto no ar a iminência das censuras, dos ouvidos indiscretos, das prepotências de chefes de ”meia tigela“, de silêncios e até de apoios dos chefes ”de topo“. E certamente fruto da minha idade e vivências doutros tempos, confesso que tenho andado alvoroçado e... desgostoso com quem nos governa. Por ”embarcarem“ nestas denúncias que deviam, ao invés de dar lugar a processos, dar antes azo a castigos e correcções dos (como lhes hei-de eu chamar se não ”bufos“?) denunciantes.
Será que não vêem que com essas atitudes levantam velhos medos e só prejudicam a sua credibilidade democrática? "

Depois de saber que no caso do Professor Charrua "a aplicação de uma sanção disciplinar poderia configurar uma limitação do direito de opinião e de crítica política, naturalmente inaceitável", fiquei mais sossegado e assim sendo não vou por agora fazer comentários jocosos ou dizer mal do meu superior hierárquico, mas sim só da Portugal Telecom (PT) que, como detentora absoluta da rede fixa de telecomunicações, ela sim parece andar a brincar com o Primeiro Ministro, com todos os Ministros do seu Governo e comigo também.



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Ou será a esta “Banda Larga” que o Primeiro Ministro se refere e com a qual Correia de Campos vai ter que lidar para implantar as tão necessárias Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) nos Hospitais e demais serviços de saúde?


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sexta-feira, julho 20, 2007

"o país está a melhorar"



Como agora o país parece estar “em alta”, será uma boa altura para eu "baixar de férias" bem menos preocupado…
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"O País está a melhorar, igualmente, nos cuidados de saúde, seja nos cuidados primários, seja na rede de cuidados continuados aos idosos e dependentes, seja na política do medicamento e das farmácias, onde tanta coisa começou a mudar para melhor em tão pouco tempo.
Com a entrada em funcionamento de 70 novas Unidades de Saúde Familiar, 100 mil portugueses que ainda não tinham médico de família passaram a tê-lo.
Com a nova rede de urgências, o número de pessoas que residem a mais de uma hora de um ponto de urgência baixará de 450 para 60 mil.
O Serviço Nacional de Saúde fez mais consultas e mais cirurgias, a lista de inscritos para cirurgia reduziu-se em 6,6% e o tempo de espera para cirurgia baixou de 8,6 para 5 meses.
O horário das farmácias foi alargado, já há mais de 400 pontos de venda de medicamentos sem receita médica fora das farmácias e a quota de genéricos subiu este ano para 17,6%, o valor mais alto de sempre." José Sócrates - Assembleia da República, 20-07-2007


Registo esta avaliação da melhoria dos cuidados de saúde oferecidos aos portugueses.
Mas o mesmo não poderei eu dizer no que ao acesso à Internet diz respeito, já que alguém, sem eu ter pedido, baixou a velocidade da minha ligação ADSL (a chamada "banda larga") para 128.0 Kbps.
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Isto é bem verdade...
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Governo quer Internet mais rápida e para mais portugueses em 2005

O Governo quer que no próximo ano o acesso à Internet, especialmente à banda larga, seja massificado, revelam as Grandes Opções do Plano (GOP).
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quinta-feira, julho 19, 2007

a OCDE e a saúde em Portugal


Muito se tem falado da necessidade de rentabilizar os serviços de saúde e os seus profissionais, de controlar os desperdícios e de reduzir as despesas públicas com a saúde por forma a nos aproximarmos dos valores médios europeus, no que às despesas neste sector diz respeito:

“os dados indicam que, entre 1990 e 2005, em Portugal as despesas com a saúde quase duplicaram, passando de 5,9 para 10.2 por cento do PIB. Na OCDE, em média, o crescimento foi bem menor, de 6.9 (em 1990) para 9 por cento do PIB (em 2005)”

E para atingir este objectivo de aproximação, concentram-se serviços e encerram-se outros; alteram-se formas de gestão hospitalar de SA e SPA para EPE e lançam-se e perspectivam-se outras (PPP), que noutras paragens já estão a ser abandonadas; a pedido, realizam-se estudos com o objectivo de serem “descobertas maneiras” que conduzam a uma pretensa sustentabilidade do SNS e preconiza-se o princípio do “gastador/pagador” obrigando o doente contribuir directa e obrigatóriamente nas despesas com a saúde através da criação ou agravamento das tão faladas taxas moderadoras, para não falar das recentes alterações à política dos medicamentos que onera ainda mais quem deles necessita.
Isto tudo apesar da OCDE considerar:

“que estas mais elevadas percentagens de despesas com a saúde se devem ao facto do PIB português não ter crescido ao mesmo ritmo do dos outros países como o comprovam os valores absolutos de despesas em saúde per capita, que no ano de 2005, colocavam Portugal nos últimos lugares da tabela (2033 dólares), bem abaixo da média da OCDE (2759 dólares).“

E enquanto os mesmos que ocultam da opinião pública este baixo valor absoluto de investimento público na saúde, para justificar as medidas aplicadas ou a aplicar, da mesma forma ao defenderem a necessidade de concentrar serviços e profissionais médicos, não por falta de médicos como a OCDE também refere:

“Segundo um relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) ontem divulgado, em 2005 havia 3,4 médicos por cada mil habitantes em Portugal, o que nos colocava ao nível de países como a França e a Alemanha e acima da média da organização (3 clínicos por mil habitantes).”

mas pela “defesa da prática duma medicina de qualidade”, ocultam ou nem sequer se preocupam com uma outra ressalva que a OCDE no seu relatório faz, quando afirma:

“que os dados portugueses se referem ao total de clínicos inscritos na respectiva ordem profissional, não referindo os que se encontram efectivamente em actividade, ao contrário do que acontece com outros países.”

Não estando o poder político interessado em apurar (duma forma "online" como o deveria sempre fazer) o que este relatório da OCDE afirma, terá então a Ordem dos Médicos que esclarecer o que o candidato a Bastonário, Carlos Silva Santos também confirma:

"A Ordem não sabe quem somos.
É o único sector profissional que conta os videntes, ou seja, os que não definiram e não notificaram que tinham morrido contam — é essa a contagem dos médicos que ainda temos na Ordem".

É esta,por certo, a contagem de médicos em Portugal a que a OCDE se refere.
Então a Ordem dos Médicos que a faça duma forma correcta porque a tal deverá ser obrigada, quanto mais não seja para que os números não sejam manipulados segundo as conveniências e as más políticas, porque assim consideradas "inevitáveis", sejam desta forma justificadas.


a saúde não é um luxo, mas...


Hospitais e clínicas poderão ter sistema de avaliação por estrelas como os hotéis
Os serviços de saúde poderão vir a ser avaliados e classificados através de um sistema de estrelas semelhante ao que se usa para os hotéis.

Sim.

Mas que o número de Estrelas atribuído não venha a justificar um acréscimo de preço, que os doentes das instituições públicas e convencionadas do SNS, forçadamente tenham que pagar pelos serviços nelas prestados.
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quarta-feira, julho 18, 2007

para que serve a evidência científica senão para ser aplicada?




Pode ler-se no TempoMedicina:
"Um inquérito recentemente divulgado mostra que apesar de os doentes hospitalizados estarem em alto risco de tromboembolismo venoso (TEV), só uma minoria recebe tratamento preventivo, e não é por falta de agentes profilácticos efectivos.

O ENDORSE (Epidemiologic International Day for the Evaluation of Patients at Risk for Venous Thromboembolism in the Acute Hospital Care Setting) avaliou 68 183 doentes (45% cirúrgicos com 18 anos ou mais e 55% não-cirúrgicos com 40 anos ou mais) internados em 358 hospitais de 33 países, entre os quais Portugal, de cinco continentes, e mostrou que mais de metade dos doentes hospitalizados (52%) estão em risco de TEV e só metade recebe profilaxia, não obstante as conhecidas consequências do TEV.
Revelou que dos doentes operados, 64% estavam em risco de TEV e apenas 59% recebiam profilaxia; e dos restantes doentes, 42% estavam em risco de TEV e só 40% recebiam profilaxia.
Isto não obstante 10% das mortes ocorridas no hospital serem devidas a embolia pulmonar, e de 1% de todos os doentes internados morrerem de embolia pulmonar."

Enquanto o estudo MEDENOX realizado já alguns anos pela equipa do Prof. Myer Michel Samama, do Hospital Universitário Hôtel Dieu, em Paris, demonstrava já o benefício da tromboprofilaxia com enoxaparina 40 mg/dia, durante seis a 14 dias (em doentes não-cirúrgicos) um outro estudo agora recentemente realizado em 5105 doentes agudos não-cirúrgicos com mobilidade reduzida vem demonstrar acrescidos benefícios se essa terapêutica profilática se prolongar por 4 a 5 semanas.

Se na União Europeia, que tem 454 milhões de habitantes, se estima que ocorram anualmente cerca de 500 000 mortes por TEV, mais do dobro das mortes causadas por SIDA, cancro da mama, cancro da próstata e acidentes rodoviários…

... então não é por demais lembrar estes números já que sendo "a tromboprofilaxia segura e efectiva para prevenir o TEV em doentes de risco", a sua não utilização por rotina na prática clínica diária só poderá ser atribuída à falta de conhecimento, por parte de muitos profissionais dos serviços clínicos e farmacêuticos, da verdadeira prevalência de doentes em risco de TEV internados nos Hospitais, como considera o Prof. Samuel Goldhaber, da Universidade de Harvard, EUA.
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Porque em Portugal também não se foge a esta "falta de preocupação", aqui fica este alerta já que os custos com o tratamento dos tromboembolismos venosos (com taxa de mortalidade de 1%) bem como das suas consequências que a médio e longo prazo condicionam (nos casos não-fatais), embora não contabilizados por este estudo, não serão difíceis de prever serem bem superiores aos custos da administração diária de uma injecção sub-cutânea, de 40mg de enoxiparina (PVP 4,45€), durante 4 semanas.
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(para já não falar dos elevados custos sociais que da mesma forma acarretam...)
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terça-feira, julho 17, 2007

os telemóveis e a telemedicina



Porque as doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 40% dos óbitos em Portugal e condicionam importantes graus de incapacidade resultantes de duas das suas principais consequências – o enfarte do miocárdio e o acidente vascular cerebral, a par das companhas que se dirigem para a necessidade de alteração de estilos e modos de vida actuais, têm os serviços de saúde adaptado as suas estruturas por forma a que o atendimento dos doentes com estas doenças seja rapidamente realizado e o tratamento correcta e precocemente iniciado.

Na era dos modernos sistemas de transferência de dados porque não aproveitar as possibilidades dos pequenos telemóveis para desempenharem também estas funções no âmbito da TeleMedicina e do diagnóstico, orientação e atendimento precoces, como na Índia alguém já pensou e já desenvolveu?
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“Investigadores da Universidade Sathyabama, na Índia, desenvolveram um dispositivo que monitoriza os sinais eléctricos do coração, através da tecnologia bluetooth, e envia uma mensagem escrita (SMS) para o hospital mais próximo, caso o paciente esteja prestes a ter um ataque cardíaco.

Este protótipo vem assim dar mobilidade a quem precisa de ser vigiado. O dispositivo realiza e regista periodicamente um electrocardiograma (ECG) e envia a informação para o telemóvel do paciente. Este telemóvel, especialmente preparado para o efeito, analisa os sinais do ECG. Se forem detectados sinais de iminente falha cardíaca, o telemóvel avisa o paciente e envia uma cópia do ECG, via SMS, para o hospital ou centro de saúde mais próximo.
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Os investigadores estão agora a desenvolver a componente de GPS no protótipo, para que o paciente seja facilmente localizado, pretendendo ainda acrescentar a possibilidade de envio de MMS e não só de SMS.” Sónia Santos Dias
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segunda-feira, julho 16, 2007

amigos


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Um amigo é uma pessoa com a qual se pode pensar em voz alta.
(Ralph Waldo Emerson, pensador norte-americano)

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histórias do INEM

Saúde: apenas metade das urgências polivalentes tem heliporto Diário Digital

Um ultraleve com a asa partida e muita sorte à mistura
16.07.2007, Mariana Oliveira - Jornal "Público"
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"O telemóvel dá o alerta.
A médica atende e repete em voz alta: "Uma aeronave caída no Aeródromo de Vilar da Luz, em Folgosa, na Maia".
A equipa, que matava o tempo entre a televisão e o computador, salta da tranquilidade. São 14h05. Em jeito de corrida, os dois pilotos e o mecânico dirigem-se para o helicóptero de emergência, uns metros à frente. Ana Leão, a médica, e Vítor Gomes, o enfermeiro, seguem-nos.
No caminho, um deles resume: "Não sabemos o número de vítimas, nem o seu estado".

As hélices arrancam na incerteza. O ruído eleva-se e a relva envolvente ondula. Batem as 14h10 e a aeronave já está no ar. O barulho dificulta, mas não impede as comunicações.
A médica recebe a informação de que há uma vítima "aparentemente ligeira e está um médico no local".

A chegada é registada às 14h13. A aterragem permite uma panorâmica sobre o cenário. Um ultraleve azul jaz num dos corredores do aeródromo, com a frente acidentada e uma asa partida. No chão, um homem deitado e várias pessoas a segurar um manto que o resguarda da fúria do sol.

As hélices ainda não pararam e a equipa já está cá fora. Correm com mochilas nas costas e um monitor na mão. Chegam rapidamente ao doente.
Os olhos bem abertos e o discurso fluido do francês de 64 anos aliviam a tensão. Mas não abrandam o ritmo de trabalho. A comunicação nem sempre é fácil. Inglês, francês e português cruzam-se a uma velocidade frenética.
O médico francês, que prestou a primeira assistência, faz o ponto de situação. Ana Leão tenta entender e determina: "Vamos imobilizar o doente até se fazer raios X à coluna". Pede um plano duro e coloca um colar cervical na vítima.

Um, dois, três, levanta.
Um, dois, três, baixa.
As ordens são cumpridas por todos. "Todos" são parte dos tripulantes das duas ambulâncias que estão no local e vários bombeiros, que chegaram num camião de combate a incêndios. Isto, a somar a quem por ali andava e ao grupo de amigos da vítima, que faziam juntos uma volta a Portugal por ar.
O francês queixa-se de dores lombares. Mas só disso. A médica lança perguntas para despistar outras lesões. "Vamos dar-lhe um analgésico", decide Ana Leão. O enfermeiro prepara a seringa.
A vítima continua consciente e de olhos bem abertos. Um dos técnicos vai espalhando ventosas pelo peito do piloto.
"Vermelho, amarelo, preto e verde", aponta a médica enquanto indica a localização dos fios. O monitor já pode ser ligado. O ritmo cardíaco não assusta. Está tudo a postes para o transporte. O comandante Rosa assume a direcção dos trabalhos. É preciso colocar o doente na maca do helicóptero e encaixá-la no interior do aparelho. O enfermeiro trata do monitor, enquanto os outros enchem o colchão especial em que o doente vai deitado. No fim há que apertar os cintos de segurança.

Merci, merci, merci, repetem os amigos da vítima enquanto a equipa fecha a porta da aeronave.

Ao levantar, muitas objectivas apontadas para registar a saída.
Destino? O ponto de partida: o Hospital de Pedro Hispano, em Matosinhos.

A viagem dura uns minutos.

À chegada, somos recebidos por dois funcionários da unidade e a equipa não se cansa de repetir a sorte da vítima. Uns metros separam o heliporto da urgência. Na porta, um médico aguarda-nos.
Ana Leão passa, pela primeira vez, a informação. E esperamos. A burocracia demora mais de quinze minutos, quase o triplo da viagem.

Dirigimo-nos para a sala de trauma. "O doente está hemodinamicamente estável e apresenta dor lombar", repete mais uma vez Ana Leão.
Desapertam-se os cintos, troca-se o plano duro e muda-se de maca.

Só falta a despedida, rematada por um "muito obrigado" português, carregado de sotaque francês."
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Relato bem contado do bom trabalho que se faz.
Pena a burocracia...
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domingo, julho 15, 2007

o Sindicato Independente dos Médicos e as férias


"É com profundíssimo lamento que o secretariado nacional do Sindicato Independente dos Médicos informa V. Ex.ª que esta organização não poderá estar presente na reunião supra, uma vez que a maior parte dos seus elementos está a gozar férias e outros estão curiosamente nessa data ao serviço da Ordem dos Médicos." TempoMedicina


Terá sido esta a resposta do Sindicato Independente dos Médicos (assinada pelo Dr. António Pedro Soure), ao segundo convite formulado pela Ordem dos Médicos para numa segunda reunião agendada para o dia 17 deste mês, conjuntamente com a FNAM analisarem as Carreiras Médicas.

Sempre é verdade…

O Sindicato Independente dos Médicos continua e vai continuar de
férias e sobre as Carreiras Médicas fica-se a saber que "é o SIM que traça a sua própria estratégia e timings, por muito que tal possa desagradar ou ser pouco conveniente para alguns."
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Assim não....
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sábado, julho 14, 2007

o futuro da medicina

fonte: Fórum Hospital do Futuro


“Há quem se queixe que a informatização das consultas colocou o maldito PC à frente do contacto directo com o doente e desviou os olhos do médico. Despersonalizou a coisa. Desumanizou-a.” JN – Ivete Carneiro

Preocupação justa da ARS do Norte que lembra “que o computador é um auxiliar precioso, mas não tanto quanto o doente”, que “ todo o atendimento começa por uma saudação e uma postura de atenção personalizada”, que o “PC não pode estar no meio, mas um bocadinho ao lado”

Tudo isto porque "uma boa parte das queixas no livro de reclamações dos centros de saúde e hospitais é precisamente sobre aspectos de relacionamento" mútuo entre o prestador de cuidados e o doente ou o “utente” (como o quiserem).

Enquanto lia este artigo fundamentado numa circular interna sobre "Informática e Humanização" proveniente da ARS do Norte (que através dos circuitos internos da mesma ARS ainda às minhas mãos não chegou, mas à qual a jornalista Ivete Cardoso já teve acesso), ia-me penitenciando dos erros da minha prática clínica, muitos dos quais nesta circular estarão bem referenciados, mas também me ia recordando duma outra notícia já há alguns dias divulgada bem como da prática clínica através da “Tele-medicina”, que talvez tarde ainda a chegar:

“Robots de telemedicina permitem que um médico trate do seu paciente à distância, através de um sistema ligado por Internet.
O robot RP-7, criado pela InTouch Technologies, pode ser controlado remotamente, para que os médicos façam a sua ronda, por exemplo.
A “cabeça” é formada por um monitor de vídeo que apresenta a imagem do médico, enquanto uma câmara transmite o rosto e o corpo do paciente ao médico. O robot é acompanhado de uma enfermeira, pois não tem mãos e precisa desse apoio para tocar e segurar o estetoscópio embutido no RP-7 contra o peito do paciente para que o médico possa ouvir os seus batimentos.
O médico está frente a um computador e com a ajuda de uma câmara e de um microfone visualiza no seu ecrã as imagens enviadas pelo robot, comunicando desta forma com o paciente.” Fórum Hospital do Futuro

Muitas mais circulares, no futuro, as nossas Administrações Regionais de Saúde (se na altura ainda existirem) vão ter que emitir, para que as regras de bom relacionamento entre os doentes e os Robots sejam periodicamente relembradas, por forma a que por parte dos doentes e dos Robots (porque não também) elas sejam cumpridas.

E a confirmar esta real necessidade, atente-se nas palavras de Sollari Allegro, Presidente do Conselho de Administração do Hospital Geral de Santo António (HGSA), no Porto, quando diz que com este robot “os pacientes poderão beneficiar da possibilidade de acederem a um atendimento com apoio de profissionais qualificados em locais remotos sem necessidade de deslocação, sendo que, numa primeira fase, haveria que acautelar a presença “fria” de um “ser” estranho.”
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... e ao invés do título do artigo do JN: “Sorria, é médico e os doentes são pessoas...” dever-se-á, no futuro, escrever:
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“Sorria, é doente e os médicos são pessoas que estão para além do robot...”
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sexta-feira, julho 13, 2007

dois documentos sobre saúde

No site da Direcção Geral de Saúde encontram-se dois importantes documentos para leitura, que recomendo.

Um, sobre o
PROGRAMA NACIONAL DE PREVENÇÃO E CONTROLO DA INFECÇÃO ASSOCIADA AOS CUIDADOS DE SAÚDE, de 5 de Julho de 2007, em cuja nota introdutória se pode ler:


“Aceitando o desafio da OMS, de tornar a prestação de cuidados de saúde mais segura, o Ministério da Saúde vem, através do presente documento, reformular o Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infecção Associada aos Cuidados de Saúde (PNCI).
(...) Este inadiável compromisso do Ministério da Saúde, que é desde já assumido, envolve todos os profissionais e utilizadores dos cuidados de saúde. É imprescindível a cooperação e parceria entre os diferentes interlocutores, o que pressupõe a existência de um investimento forte e concertado por parte dos profissionais, das organizações e da sociedade, e que estará, seguramente, na génese do sucesso do Programa."



O outro, uma monografia, "Health in Portugal 2007 – Portuguese Presidency of the Council of the European Union", com data de 1 de Julho de 2007, na qual a DGS na sua introdução, nos diz:

“During the 20th century, life expectancy at birth almost doubled, as a result of social development. The health of the Portuguese is influenced by relatively favourable factors (geographical location, climatic conditions, cultural dimensions and population dynamics, among others). Together with the reduction in the birth rate they explain the ageing of the population producing new patterns of morbidity and mortality, similar to what happens in other industrialised societies.
(...) It is crucial to recognise the opportunity of effective reorganisation of the health policy to one centred on anticipation, prevention and promotion of health.
The historical events that occurred in the last 30 years, in particular the creation of the National Health Service, brought about a favourable evolution of the main health indicators. In 2006, the annual budget of the National Health Service reached 8.57 thousand million euros and represented 22% of the current public expenditure."


Dois documentos importantes, sem dúvida.

No primeiro, é feito o diagnóstico actual da situação da “Infecção Associada aos Cuidados de Saúde” e define dois objectivos específicos:

1. Conhecer a incidência da IACS em 60% das unidades prestadoras de cuidados de saúde do Serviço Nacional de Saúde, até ao final do ano de 2009;
2. Até finais de 2013, reduzir em 5% a sua incidência, em 30% das Unidades de Saúde do SNS.

Para atingir estes objectivos propõe o alargamento da população alvo (para além dos profissionais da saúde) aos utilizadores dos Cuidados de Saúde Primários, Hospitalares e Continuados e das Unidades Privadas de Saúde, bem como aos que indirectamente com eles interferem (transporte de doentes, prestação de serviços externos, fornecimento de materiais e equipamentos médicos e voluntariado) reforçando e redefinindo para cada uma delas, várias estratégias desde organizacionais às de formação individual e de registo e monitorização dos dados, no sentido de em 2009 e 2013 tais objectivos serem alcançados.

O segundo documento, que só para “políticos e altos funcionários dos Estados-Membros da União Europeia” (que não portugueses) parece ter sido elaborado (a julgar pela sua divulgação pública se fazer exclusivamente através dum texto em inglês), ao longo das suas 99 páginas analisa:

"- a situação sociodemográfica, em que se procura conhecer a evolução demográfica do país, os principais movimentos demográficos ao longo das últimas décadas e as tendências que se desenham, tendo em conta os cenários fornecidos pelas projecções da população;
- a evolução de algumas variáveis demográficas, a auto percepção do estado de saúde, os comportamentos e estilos de vida, nomeadamente no que respeita aos consumos de tabaco e de álcool, às questões sobre a obesidade e ao consumo de droga;
- o sistema de saúde, a sua organização, funcionamento e ainda os recursos físicos, humanos e financeiros disponíveis na área da prestação de cuidados de saúde;
- a identificação dos principais problemas de saúde pública, a sua abrangência e ainda as acções, medidas específicas e planos de contingência para reduzir ou minimizar as suas consequências;
- a promoção da saúde ao longo do ciclo da vida e a especificação dos principais problemas de saúde que atingem os portugueses e dos programas e medidas em curso para atenuar as suas consequências;
- o controle das doenças transmissíveis, com destaque para o Plano Nacional de Vacinação, e ainda as respostas possíveis a um conjunto de potenciais ameaças para a saúde." (DGS)

Sobre o primeiro documento:
Elogiar
o compromiso e a vontade; Solicitar o esforço necessário de todos; Pugnar pela sua efectivação para serem alcançados os objectivos propostos.

Sobre o segundo documento:
Elogiar
o sentido promocional; Solicitar a sua publicação na língua portuguesa; Pugnar por um SNS reforçado que nos continue a contemplar com tantos valores positivos como os que nas últimas três décadas tantos elogios têm merecido.

Assim não sendo, como continuar a justificar estas palavras finais (a jeito de “boas vindas” para estrangeiro) que neste documento são apresentadas?

“The excellence of the climatic and geographical conditions; the cordiality and the welcome of citizens and the safety, reflexes of an ancestral culture and social harmony that express a deep respect for the person; and the quality of the health care are factors that motivate an increasing number of Europeans to live their golden years of retirement and leisure times in mainland Portugal, in Madeira or in the Azores.

WELCOME TO PORTUGAL”
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quinta-feira, julho 12, 2007

"verdadeiras" juntas médicas


Sim.
Juntas Médicas só com médicos, que o requerente tenha direito a recurso da decisão e que para este recurso possa indicar o seu “defensor” médico...

Mas Juntas Médicas com médicos “escolhidos” ou “nomeados” competentes, conhecedores e isentos que, como refere o comunicado do Conselho de Ministros, actuem e opinem fundamentados unicamente em factos de “natureza exclusivamente técnico-científica” e não assim escolhidos ou nomeados, como em Vieira do Minho:



RR - João Semedo

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quarta-feira, julho 11, 2007

serão assim tantos?

Primeira operação com anestesia pelo éter - 16.10.1846
Robert C. Hincley, 1893 - Boston Medical Library

Será o número de licenciados em Medicina que actualmente exercem actividade no nosso país, exagerado, suficiente ou deficitário?

Há os que consideram haver excesso de médicos, fundamentando esta opinião no ratio de 3.42 médicos/1000 habitantes (segundo dados da
OMS referentes a 2003) que coloca Portugal no topo a nível mundial e que, quando comparado com os restantes países europeus, apenas é ultrapassado na Europa Ocidental, pela Suiça (3.61), Itália (4.20), Grécia (4.38) e Bélgica (4.49) e por alguns países da Europa de Leste, com ratios entre 3.50 e 4.55 referidos à Rússia, Bielo-Rússia, Lituânia, Georgia, República Checa ou Bulgária.
Consideram assim estarmos francamente afastados (por excesso) do valor considerado como ideal pela própria OMS ( 2.50 médicos por mil habitantes), valor este que países como Chipre (2.34), Albânia (1.31), Polónia (2.45), Turquia (1.35), Eslovénia(2.25) e Reino Unido (2.30) não conseguem alcançar.

Há os que consideram ser a população médica suficiente mas estar mal distribuída geograficamente pelo país, alicerçando esta opinião pela constatação (objectiva ou subjectiva) da existência na Carreira Hospitalar de deficit nos Hospitais Públicos do interior (particularmente nalgumas especialidades) e o seu excesso nos Hospitais Centrais (das grandes cidades do litoral) e de uma maneira inversa, no sector dos Cuidados Primários de Saúde, quando analisam o ratio existente (tendo por base os 1500 habitantes por Médico de Família) nas regiões do interior do País quando comparadas com as do litoral.
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Mas também há os que afirmam ser deficitário, apontando como prova as contratações de médicos estrangeiros pelas Administrações Regionais de Saúde e Hospitais EPEs, realizadas para colmatar as deficiências de população médica nos seus serviços.

O que não está suficiente e cabalmente demonstrado é se este ratio é real ou sobrevalorizado baseado em registos desactualizados; qual a sua estabilidade a curto e médio prazo; qual a sua “qualidade”, isto é, a repartição do seu número pelas várias especialidades médicas; a sua relação com a sua distribuição geográfica pelas instituições de saúde e zonas do país; a fase de preparação pós-graduada em que esta população se encontra; a percentagem dos que exercem actividade duma forma activa e contínua, em exclusividade no SNS, em acumulação com actividade privada e em exclusividade na medicina privada e qual o contributo que cada uma destas formas laborais dá para a resolução dos problemas de saúde da população.

Estudo, como o realizado pela Professora Paula Santana do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Coimbra e que o Jornal “O Primeiro de Janeiro” resumidamente apresenta algumas das suas conclusões, poderá dar resposta a algumas destas dúvidas quando afirma que:

"O SNS poderá vir a ter sérios problemas a partir de 2013 devido à idade avançada dos médicos em algumas especialidades".

"Apesar de previsivelmente até 2011 não se verificarem problemas adicionais aos já existentes, relativamente aos médicos de Medicina Geral e Familiar, a partir de 2013, a geração dos 50-54 anos começa a atingir o limite de idade, sendo que este grupo representa hoje 2.729 médicos (40 por cento dos efectivos nesta carreira médica".


Que os Ministérios da Educação e da Saúde, a Ordem e os Sindicatos Médicos se sintam na obrigação de consultar, divulgar e colocar à discussão estudos como este, e porque não também incentivar a realização de outros, por forma a que as políticas de gestão dos recursos humanos, deste ou de qualquer outro sector profissional, possam ser melhor perspectivadas e geridas, definido que seja o modelo de saúde e o papel de intervenção do Estado na condução da política de saúde nacional e na sua regulação e controlo da oferta.


E já agora, porque não começar-se já a pensar que em 2017, a população portuguesa estará reduzida a 7.500.000 habitantes?



terça-feira, julho 10, 2007

fazer leis é o mais fácil...

Pouca divulgação foi dada à aprovação por unanimidade em 5 de Julho de 2007, pela Assembleia da República, da CARTA DOS DIREITOS DE ACESSO AOS CUIDADOS DE SAÚDE PELOS UTENTES DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE.

Prevê esta lei agora aprovada:
1. Que através de portaria, o MS anualmente defina e dê a conhecer os tempos máximos de espera (discriminados por patologia ou grupos de patologia) para o atendimento nos centros de saúde, nos cuidados domiciliários ou nas consultas externas hospitalares assim como para a realização de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, de internamento ou de cirurgia programada.

2. Que cada instituição de saúde prestadora de cuidados, publicamente e anualmente, dê a conhecer os seus tempos de espera enquadrados dentro dos tempos definidos pelo Governo, devendo informar circunstanciadamente os doentes da metodologia adoptada sempre que esses prazos não se verifiquem poder ser cumpridos pela instituição.

3. Que o MS apresente anualmente, à Assembleia da República, um relatório sobre a situação do acesso dos portugueses aos cuidados de saúde nos estabelecimentos do SNS, relatório que será objecto de parecer por parte da Comissão Parlamentar de Saúde.

4. O reconhecimento do direito à reclamação por parte dos doentes perante o incumprimento dos tempos de espera máximos, devendo o MS, no prazo de 180 dias, aprovar o regime sancionatório por infracção ao disposto nesta Lei.

O que ressalta de mais abrangente nesta Lei agora aprovada, para além da definição (por ora de forma gradual?) dos tempos de espera por patologia, é o alargamento às Consultas (dos Cuidados Primários às Hospitalares) bem como aos Meios Complementares de Diagnóstico e Tratamento, da monitorização desses mesmos tempos para a sua efectivação, monitorização esta que se encontrava até à data, através do SIGIC, limitada às listas para tratamento cirúrgico.

É de todos conhecido que se encontram “escondidas” nos Centros de Saúde e Unidades de Saúde Familiares, volumosas e bem atrasadas listas de doentes para serem observados pelas especialidades Hospitalares, listas que pela sua importância teriam mais que justificação para já terem sido enquadradas num programa especial de recuperação e de resolução, como já vem sendo feito para os tratamentos cirúrgicos.

Frequentes vezes chegam à Consulta Hospitalar doentes com consultas solicitadas pelos Centros de Saúde, com vários meses de atraso, em que a situação clínica que motivou o pedido se “auto resolveu” ou já teria sido observada e tratada por outros serviços, nomeadamente privados, mas que por “desconhecimento” ou por “segurança” o doente decide nela comparecer a pensar numa recidiva e assim poder ficar com “lugar marcado” ou continuar o tratamento então iniciado.

Mas da mesma forma preocupante é a ausência, na maior parte das Unidades Hospitalares, de uma triagem correctamente realizada, centralizadora e coordenada das Consultas Externas solicitadas que mesmo sem definição de tempos de espera máximos por patologia, conseguisse atribuir níveis de prioridade, analisadas as informações clínicas (quantas vezes ininteligíveis, escassas ou ausentes) e os exames subsidiários solicitados pelos médicos assistentes (que na maior parte dos casos, só acompanham o doente quando à consulta chega ou já estão “fora de prazo”).

Será na perspectiva da solução de parte destes problemas que o ALERT P1 está a ser instalado nas instituições prestadoras de cuidados e já a ser aplicado nalguns CS e HH públicos, software que contempla a definição de prioridades para a marcação de consultas em função de critérios clínicos protocolados e que simultaneamente permite uma avaliação em tempo real de todo o processo que medeia desde o pedido, à marcação e à efectivação da Consulta, fazendo ao mesmo tempo uma gestão dos recursos humanos e técnicos disponíveis na instituição.

Uma excelente ajuda este ALERT P1 poderá dar à implementação desta CARTA DOS DIREITOS DE ACESSO AOS CUIDADOS DE SAÚDE PELOS UTENTES DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE agora aprovada.

Mas se a Lei 27/99 (Programa especial de acesso aos cuidados de saúde) aprovada pela mesma Assembleia da República, obrigava o Ministério da Saúde a informar a Assembleia do estado das listas de espera para cirurgia de dois em dois meses (o que nunca terá sido cumprido por este e pelos anteriores Governos) será que estas palavras de Carmen Pignatelli,

"Fazer leis é o mais fácil … o difícil é implementar"

"Conseguem imaginar o esforço que vai ser necessário para pôr estes sistemas em marcha no terreno? São milhares de pessoas que vão ter de passar por formação"

quando se referia à "complexidade" inerente à implementação desta Carta e a só dispor o Ministério da Saúde de 6 meses para a regulamentar, prenunciam alguma intenção?
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segunda-feira, julho 09, 2007

tal como na saúde...

Serão necessárias provas melhores para demonstrar que opções por planos ou projectos, fundamentados em longos e aprofundados estudos prévios, analisados e testados como que por controlo à distância em agradáveis gabinetes e que finalmente são colocados à “discussão pública exaustiva” sob a forma de relatórios muito bem elaborados por credíveis e experimentados peritos, podem conduzir a catástrofes?




Mas há quem considere o contrário... já que isto só prova, no terreno, de que a OTA oferece condições ideais para lá ser construído um Aeroporto Internacional.


domingo, julho 08, 2007

a que irá conduzir o "degelo"?

A Gronelândia já teve florestas e borboletas

A Gronelândia (Terra Verde) merece afinal o seu nome. A investigação de núcleos de gelo, de uma equipa internacional que acaba de publicar as conclusões na revista Science, revelou rastos de ADN de borboletas e de traças que habitavam numa floresta de pinheiros e abetos. A ilha era verde há 450 mil anos e o material genético recuperado poderá ser o mais puro e antigo jamais visto.
DN
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E agora, muita água.
Mas gelo (ainda) muito também...

Ordem do Norte quer investigar bastonário (da "Ordem do Sul")
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O Conselho Regional do Norte emitiu ontem um comunicado saindo em defesa do médico do Porto, Miguel Leão, depois de a estrutura nacional da Ordem ter votado a favor da apresentação de uma queixa-crime no Ministério Público contra aquele clínico, por uso indevido de dinheiro do organismo para despesas com a sua campanha às eleição de bastonário. Os dirigentes do Norte contra-atacam e anunciam que querem ver investigadas também as despesas feitas pelo próprio bastonário, Pedro Nunes, bem como os restantes órgãos da OM, do Centro e do Sul. DN
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sexta-feira, julho 06, 2007

uma história real



"Quando depois do almoço com a família, em casa, acabava de arrumar a cozinha, eu e os meus filhos ouvimos um enorme alarido que vinha dum aglomerado de casas umas boas três centenas de metros daqui.
Eram gritos de pessoas e um apitar de buzinas de automóveis e de uma sirene de ambulância que, da zona onde sabia viver o senhor António (nome fictício), me chegavam aos ouvidos.

Da janela de minha casa adivinho, pela estrada estreita que passava por entre casas e quintais, uma ambulância que a subia a toda a velocidade.
Ficamos todos atentos e os meus vizinhos, que entretanto pelo grande alarido também foram despertos, comentam de que “não deve ter sido acidente porque não ouvimos qualquer barulho”.

Porque finalmente a ambulância parou junto da casa do senhor António, um senhor octogenário, paralisado e acamado há 5 meses por uma hemorragia cerebral, pensamos:
Sim deve ter sido para ele o socorro pedido. Talvez quem sabe, tivesse falecido…

Dez minutos depois, ainda nós comentávamos a infelicidade do idoso e a situação em que ele e os seus familiares se encontravam, quando novo alarido daquela zona se ouve, ao mesmo tempo que outra ambulância ainda afastada, se aproxima do local a grande velocidade.
Tememos que um acidente grave tivesse então ocorrido, pelo que a nossa curiosidade nos fez ir até lá ver o que se estava a passar. A correr, rapidamente lá cheguei com mais duas vizinhas minhas, atravessando os campos duma quinta nas traseiras de minha casa. E quando lá chegamos, vejo um bombeiro muito descontraído, no meio da rua, de luvas calçadas, chamando a atenção das pessoas que por ali já estavam, para um jipe dos bombeiros que se aproximava a abrir caminho para um carro do INEM que nessa altura também chegava.

Acidente não teria sido, mas sim um agravamento do estado de saúde do Sr. António, como muito preocupada uma sua vizinha nos contou.

E assim todos nós confirmamos e nos afastamos do local, enquanto a ambulância com o octogenário seguia à frente em direcção ao Hospital, logo seguida pelo carro do INEM e do jipe vermelho dos Bombeiros da vila perto da aldeia onde vivo.

E comentava eu com as minhas vizinhas:
Quanto não estaremos nós a gastar com tudo isto?

Há cerca de 10 anos, o meu irmão de 40 anos, quando vivia na Alemanha, teve um enfarte do coração. Chamaram uma ambulância a casa que rapidamente lá chegou. Durante o transporte até ao Hospital mais próximo, precisou de ser reanimado, porque parou de respirar, e pelo que me contou a minha cunhada, não teria havido tão grande aparato como este de hoje.

No dia seguinte, hoje, vim a saber que o Sr. António está internado no Hospital da cidade e que ainda respira…
Afinal valeu a pena, mesmo com todo aquele aparato.
contador da história identificado


Esta é uma história real, posso afirmá-lo, que assim me foi assim contada ontem.

E como esta, quantas mais diariamente ficarão por contar?

Assim como para contar haveria tantas outras que infelizmente já sucederam e por certo com mais ou menos frequência continuarão a suceder, nas quais a resposta dos serviços de saúde públicos de emergência (INEM) não se fez ou faz sentir com a mesma rapidez ou com a mesma disponibilidade com que neste caso, ao que parece, se fez sentir - salvaguardadas as proporcionalidades em termos de gravidade das várias situações, quantas vezes sub ou sobrevalorizadas pelos vários intervenientes.

Lembrei-me, a este propósito, de procurar no Relatório de Primavera 2007 algo que me pudesse esclarecer.

Algo que os colaboradores do OPSS tivessem eventualmente proposto ao analisarem a rede de emergência pré-hospitalar, já que muitas “luzes e sombras” também têm existido associadas ao plano de reestruturação da rede de urgências, ao encerramentos de SAPs e a esta rede de emergência.
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E… praticamente nada encontrei sobre este importante sector assistencial, ao folhear as perto de 200 páginas deste Relatório.


Como lá é dito, “a imagem de encerramentos e a percepção de retracção dos serviços públicos e da protecção social na saúde” ter-se-á devido ao facto do processo de reestruturação, intervenção e requalificação das infra-estruturas de saúde se ter iniciado duma forma “muito fragmentada e não inserida numa visão global das infra-estruturas locais públicas”.

Sim, mas não só no campo dos cuidados primários, hospitalares e continuados como também no campo da emergência médica na qual o Instituto Nacional de Emergência Médica é parte imprescindível. E o nosso Ministério da Saúde bem como o OPSS a ele deveriam ter dado a devida atenção em igualdade à que é dada ao financiamento do SNS, aos cuidados de saúde primários, à rede hospitalar, à espera cirúrgica, à Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, às Farmácias e aos Medicamentos.

Para além dumas veladas críticas ao se ter dado “inicio à reestruturação da rede de urgências sem se começar pela implementação dos Serviços de Urgência Básica” e a uma “deficiente gestão da comunicação com as populações por parte do Ministério da Saúde no processo de encerramento dos SAP e das urgências hospitalares, acompanhada por processos de decisão onde, por vezes, fica a impressão de que as questões técnicas podem ser relegadas para segundo plano”, nada sobre como está a ser desenvolvido o plano estratégico de implantação nacional do INEM, seus constrangimentos e sua capacidade instalada, o funcionamento do CODU, o papel da rede nacional de Bombeiros, o funcionamento das redes de referenciação de doentes agudos, as acções de formação dirigidas para a população para correctamente utilizarem os Serviços de Emergência, nada disto parece ter sido considerado importante ser analisado,

E se este sector parece não estar a ser entendido pelo Ministério da Saúde como uma “prioridade política”, devê-lo-ia ter sido entendido como tal, pelos colaboradores deste Observatório dando-lhe, no seu Relatório, a importância que ele deveria merecer.

Porque neste sector particular também a “pouca sensibilidade social” também se tem feito sentir.
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quinta-feira, julho 05, 2007

as Carreiras Médicas

Primeiro transplante renal em 22/12/1954. Joel Babb, 1996 The Harvard Medical Library, Cambridge, U.S.A


Há dias em “O SIM vai de férias? ” comentava o facto de um sindicato médico, em particular o Sindicato Independente dos Médicos, ter recusado o convite da Ordem dos Médicos para participar numa reunião juntamente com a Federação Nacional dos Médicos, para análise e discussão das Carreiras Médicas.

Foram na altura dados a conhecer os quatro argumentos link que Carlos Arroz, dirigente do SIM, utilizou para justificar tal atitude do seu sindicato:

1. “ser tarde de mais”
2. “ter falta de confiança na FNAM”
3. “Não lhe parecer oportuno os parceiros médicos darem o sinal de que estão muito ansiosos”
4. “Não querer favorecer nenhum dos candidatos a bastonário”

Considerei estranha esta atitude de Carlos Arroz de afastamento (que não de boicote, já que a referida reunião ter-se-á realizado) da discussão de tão importante diploma que se impõe rever e que está nas perspectivas não só do Governo como também (pelo menos deveria estar) de ambos os Sindicatos e da Ordem dos Médicos.

O nomear das reais intenções desta tomada de posição, por parte deste dirigente sindical, reservo-o para os que objectivamente desejam que a falta de motivação e de unidade dos médicos exista, esfumando-se assim uma oposição activa à perspectiva de destruição ou extinção das Carreiras Médicas como parte parte integrante e garante da qualidade do exercício profissional médico no âmbito dum Serviço Nacional de Saúde "social", forte e competitivo que se deseja.

Será que alguém pretende excluir ou não ver contemplado o que no preambulo do Decreto-Lei 73/90 de 6 de Março é apontado como tendo sido este diploma das Carreiras Médicas o “resultado do diálogo com organizações representativas dos médicos, revelando a eficácia do espaço de comunicação criado pelos mecanismos legais de negociação e participação”?

Será que pretendem alhear-se de contribuir com “propostas de alteração, objecções e comentários, de natureza substancial e formal”?

Ou será que já não entendem serem as Carreiras Médicas importantes como garantia de “incentivo e transparência ao exercício da profissão médica no Serviço Nacional de Saúde, para além de propiciar maior e melhor aproveitamento das instituições e dos seus recursos e que contenha clareza de princípios e de normas”?

Como diz o Prof. José Manuel Silva só me resta com ele corroborar em “Um profundíssimo lamento

“Desejável seria, de uma vez por todas, que os dirigentes das várias associações médicas soubessem definir uma condigna escala de prioridades, transmitir uma verdadeira imagem de união e identidade, e trabalhar em conjunto pelo benefício do colectivo, a única forma de fazer frente aos inimigos dos médicos, da qualidade e independência técnica e deontológica da Medicina e da nobreza, coerência e pendor social do Serviço Nacional de Saúde. Mais do que essencial, é vital que assim aconteça!”
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quarta-feira, julho 04, 2007

relatório de Primavera 2007 (II)

Fonte: RR



O Governo “não fala mais das taxas moderadoras” Carmen Pignatelli

Está tudo dito...
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P.S. Mas não resisto, às 23:00 horas a colocar isto aqui....

no local apropriado...

Carmen Pignatelli

relatório de Primavera 2007

RELATÓRIO DE PRIMAVERA 2007

Hoje, pelo que tenho lido na imprensa diária, finalmente vou concordar com alguma coisa.

Mas esta concordância reporta-se, não a nenhuma medida proposta nem a nenhuma crítica hoje aceite pelo Ministério da Saúde, mas ao conteúdo genérico de um Relatório sobre o actual estado da Saúde no nosso país, elaborado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde.



O DOCUMENTO FOI HOJE APRESENTADO:


Taxas moderadoras
Encerramento de SAPs
Reestruturação da Rede de Serviços de Urgência
Listas de Espera para Cirurgia
Unidades de Saúde Familiares
Cuidados Continuados
Política do medicamento/Farmácias
Saúde Pública
Preocupação social
Contenção orçamental

(...) link




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AS MUDANÇAS PARA AMANHÃ:

Aguardam-se ou esquecem-se?